Será o fim de uma era? (Por Umberto de Campos)

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Umberto de Campos

A destruição no Rio Grande do Sul pode ser apenas uma coincidência. Pode ser apenas uma repetição de um evento um pouco maior que a grande enchente de 1941.

Com 50 anos depois, o número de casas e de pessoas é muito maior, podemos ter “apenas a impressão” de que a catástrofe foi muito maior. A água somente atingiu um número maior de pessoas e construções. Pode ser.

Acontece que 50 anos depois há muito mais tecnologia. Os aviões que voavam em 1941 não tinham os instrumentos que temos hoje, como sofisticados sistemas de GPS e imagens de satélite que apoiam as previsões e análises dos meteorologistas.

A Inteligência Artificial (IA) aprendeu muito conosco e deve aprender um pouco mais. Mas os avisos sobre o que está acontecendo vêm sendo solenemente ignorados pela nossa geração, mais preocupada com o desenvolvimento e o lucro.

Se observarmos apenas as análises das bolsas de valores, perceberemos que as catástrofes são aguardadas com ansiedade pelos rentistas. Se houver uma quebra enorme na safra de soja do Rio Grande do Sul, haverá oportunidade para os produtores norte-americanos, porque os preços por lá serão maiores.

Tem seca na Argentina? Melhor para o Brasil.

Há uma quebra no Cacau da Costa do Marfim? Os cacaueiros brasileiros nadam de braçada. O preço sobe e dá para trocar o carro comum por um carro blindado.

Houve quebra na safra de arroz do Rio Grande do Sul. Os preços já aumentaram. E certamente vão aumentar mais.

“Crise é sinônimo de oportunidade”.

Fica bem numa palestra de auto-ajuda.

Mas a verdade é que uma crise sem precedentes, como a que se abateu sobre o Rio Grande do Sul pode nos ensinar muito mais. Além, é claro, de espalhar sofrimento, pobreza e incerteza para milhares de pessoas.

Já se fala na construção de cidades provisórias. E estas já estão sendo comparadas aos campos de refugiados de guerra. Uma realidade até então distante do nosso país que – no tempo dos militares – se tratava como um país “abençoado por Deus e bonito por natureza”, porque estaríamos – segundo o discurso da época – imunes a catástrofes como enchentes, furacões e terremotos.

Você lê notícias? Você se informa minimamente sobre o que acontece no mundo? A globalização permite que tenhamos uma visão mais ampla do que acontece no planeta em tempo real.

Se você não é um alienado completo, certamente tem a mesma sensação que muitos de nós: há um caos. Parece que o mundo enlouqueceu.

Uma enchente de proporções diluvianas se abateu sobre o Rio Grande do Sul. Coisa parecida, ou pior, aconteceu no Afeganistão, deixando 300 mortos.

Em 2023 a África teve eventos devastadores no Quênia, na Etiópia e na Somália, deslocando mais de um milhão de pessoas de onde elas moravam. Mas é na África… ninguém fica sabendo.

Você sabia que agora, em fevereiro houve uma enchente no Congo, em que o Rio Congo atingiu o seu maior nível em mais de 60 anos?

Dubai teve uma enchente avassaladora, em abril deste ano. Muitos se apressaram em dizer que o fenômeno se deveu a uma experiência mal-sucedida de “semeadura de nuvens”, um processo em que a chuva é estimulada.

Os meteorologistas, no entanto, garantem que é o aquecimento global que é responsável pelo fenômeno. Sabe-se que o ar mais quente retém mais umidade (isso é física) e os estudos revelam que a retenção aumenta em 7% a cada grau Celsius medido…

Não é de hoje que cientistas renomados estudam a vida no Planeta. Nos últimos 15 anos os avisos vêm aumentando aos nossos “ouvidos moucos”.

A terra já teve ao menos cinco extinções em massa. A última delas há aproximadamente 66 milhões de anos. Um cometa atingiu a Península de Yucatán, no México, provocando uma explosão que eliminou entre 75 e 90% da vida que havia sobre a terra. Os Dinossauros nos deixaram para sempre nessa época.

Por isso alguns cientistas dão como certo que estamos em plena sexta fase de extinção em massa. A diferença desta, é que nas cinco vezes anteriores não havia homens na terra e elas foram causadas por eventos naturais.

A extinção, desta vez, acontece em função do comportamento de nós, seres humanos, que estamos destruindo o planeta, sugando incansavelmente seus recursos, poluindo o ar que respiramos, sujando a água e teimando em não reconhecer que estamos trabalhando pela nossa própria extinção.

Já há cientistas (serão catastrofistas?) que asseguram o seguinte: nas próximas duas décadas – isso, em 20 anos – a civilização industrial tal como a conhecemos vai acabar. Garantem que esse colapso é irreversível e nada voltará a ser como antes.

Será que erraram?

“O meu Rio Grande do Sul, céu, sol, Sul, terra e cor…” já não voltará a ser como antes agora.

Tem solução?

Claro que tem.

Olhe-se no espelho. O que você vê?

Ora, direis, vejo a mim mesmo. Uma imagem do meu corpo.

Mas, espere! Do que é feito o seu corpo?

Um biologista acostumado a dividir células dirá: 50 trilhões de células fazem você.

Um corpo humano é como o Planeta. É um conjunto de células que interagem entre si. Quase sempre de forma perfeita, numa interação genial e cuja construção atribuímos a um espírito superior – Deus – tal a sua perfeição.

O planeta é um corpo que também é composto por seres menores em interação.

Ao contrário do que dizia Darwin (e ele reconheceu que havia deixado essa questão de lado, antes de morrer) não é o mais forte que sobrevive, A vida não precisa ser uma constante disputa. A vida, quando entendemos que o todo depende do conjunto, só existe pela interação, pela colaboração e pelo cumprimento das funções de cada elemento desse corpo. Um cuidando do outro.

No determinismo acreditamos que estamos fadados a ser e viver coisas determinadas. Essa filosofia já não se sustenta faz tempo.

Somos seres humanos, dotados de cérebro e inteligência. Temos a capacidade de agir, interagir e entender o que fazemos.

O que se espera é que a nossa sociedade desperte seus cérebros adormecidos.

Precisamos nos destruir e desaparecer? Não!

Só precisamos despertar como seres inteligentes. Reconhecer o poder que temos e controlar com humanidade o ambiente em que estamos inseridos.

Só a inteligência, o conhecimento e a colaboração podem nos salvar do caos que vai nos levar ao fim.

A natureza grita para nos acordar. Precisamos ouvir esse grito e mudar imediatamente nosso comportamento. Deixar o egoísmo e a ganância de lado para vivermos em harmonia, tanto com a natureza, quanto uns com os outros. É isso que pode nos salvar e garantir nossa prosperidade no futuro.

Umberto de Campos é jornalista e especialista em Neuropsicologia.

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