Pedra sobre pedra! (Luiz Nolasco)

Luiz Nolasco de Rezende Junior/Divulgação

Em uma certa tarde chuvosa, vieram à memória as viagens que fazia quando criança e em família, saindo de Brasília até o Espírito Santo. Sob uma forte garoa, pistas estreitas e intenso movimento, tínhamos que ultrapassar enormes carretas que carregavam toneladas de blocos de granito extraídos das proximidades do Caparaó.
A robustez daquelas rochas de granito me impressionava! Era uma imagem clara de perenidade, de algo sólido, imponente; fascinava, quer pela beleza, quer pela sua impressão de durabilidade. Essa lembrança despertou minha curiosidade e fiz uma breve pesquisa na internet sobre “pedras de granito”. Trata-se de uma rocha magmática muito dura, resistente, durável, composta principalmente por quartzo, feldspato e mica. Características:
· Dureza: O granito é uma das rochas mais duras, com dureza entre 6 e 7 na escala Mohs.
· Resistência: É resistente a riscos, manchas, elementos químicos, impactos, raios solares e efeitos do tempo.
· Absorção de líquidos: Tem um baixo índice de absorção de líquidos.
· Textura: Tem uma textura granular, com os minerais constituintes bem visíveis.
· Cor: Pode ter diversas cores, como branco, vermelho, amarelo, verde, bege, preto, azul, dependendo do tipo de feldspato e do grau de impurezas.
· Composição: É formado por uma associação de diversos minerais, como quartzo, mica, feldspato, moscovite, biotite, anfíbola, apatite, zircão, esfena, magnetita.

Tais características agregaram ao granito um alto valor, sendo vastamente utilizado, principalmente na construção civil ou na decoração de ambientes. Com vistas a oferecer uma alternativa financeira mais acessível e de menor impacto ambiental, empresas do ramo têm desenvolvido produtos que imitam o granito, principalmente do ponto de vista decorativo. É claro, porém, são imitações que não possuem todas as características do sólido granito. Entretanto, hoje, as imitações, mesmo sem ter as mesmas características do granito, são mais procuradas e mais caras ao consumidor.
Fiquei então refletindo sobre o que poderia ter tornado o granito “over”, “outdated”? Seria uma mudança em prol de uma sociedade pró-ambiental em função do impacto que a extração de granito em larga escala traz? Não. A superação do granito por outros produtos deve-se a tendência de estarmos vivendo em uma realidade de rápidas transformações! Hoje querem algo, amanhã querem outra coisa. Hoje é uma cor, amanhã outra! Hoje uma textura, amanhã outra.
No campo tecnológico, essas mudanças são muito comuns. Itens com dois anos de existência já podem ser considerados ultrapassados! É claro que são comparações indevidas, pois comparações devem ser feitas entre iguais. Assuntos tecnológicos são bem diferentes de itens decorativos, mas não podemos negar que a sociedade do consumo do descartável chegou às esferas das relações humanas, levantando predileções no campo do etarismo.
Outro exemplo de volatilidade das relações está no aumento da fragilidade das pessoas em manter relacionamentos que antes eram intensos. Atualmente, amizades e relações humanas são mantidas a base de um clique (“like” ou “dislike”). É certo que nossa sociedade nunca foi tolerante aos que diferem, principalmente no campo do comportamento, mas havia espaços onde as diferenças podiam ser colocadas sobre a mesa e serem confrontadas, umas às outras, de forma civilizada. Infelizmente, esses espaços têm sido sucumbidos. Ou seja, amizades, relações familiares, convivência social, têm sido invadidas pela intolerância, levando ao pó relações que antes eram perenes.
A rejeição do perene chega até mesmo às relações metafísicas! Se antes se ensinava que o ser humano precisava se identificar com o Divino, hoje o ensino tem sido invertido! É o divino que precisa se identificar com o homem, aos seus apelos e desejos! E, como o ser humano a cada dia deseja algo diferente e uma necessidade diferente, exigem que o divino, da mesma forma, se metamorfoseie à sua volubilidade.
A conclusão que chego é de que a sociedade humana, ao invés de fazer uso do conhecimento adquirido para, pelo menos, mostrar um caminho de sabedoria, tem conduzido a um caminho de tolice, de abandono da sabedoria. Um caminho esquizofrênico, ilusório e dividido. De fato, fecharam seus olhos para edificar suas vidas em areias movediças e instáveis ao invés de construir sobre bases sólidas e seguras, que muitos sequer conseguem mais perceber ou mesmo identificar.
“Quem ouve esses meus ensinamentos e vive de acordo com eles é como um homem sábio que construiu a sua casa na rocha. Caiu a chuva, vieram as enchentes, e o vento soprou com força contra aquela casa. Porém, ela não caiu porque havia sido construída na rocha. Quem ouve esses meus ensinamentos e não vive de acordo com eles é como um homem sem juízo que construiu a sua casa na areia. Caiu a chuva, vieram as enchentes, e o vento soprou com força contra aquela casa. Ela caiu e ficou totalmente destruída.” Mateus 7:24-27.

Luiz Nolasco Júnior é Teólogo, Mestre e Doutor em Educação

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