Esta semana, os meios de comunicação foram atraídos pelo embate entre a justiça brasileira, protagonizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, e a rede social “X”, o antigo “Twitter”, protagonizado pelo bilionário Elon Musk. Em um pano de fundo raso e superficial, a rusga entre essas duas personalidades se dá entre o princípio da liberdade de expressão e o princípio da soberania nacional e da responsabilização às manifestações concebidas como afronta ao estado democrático. O debate em prol de uma ideia ou outra, ou mesmo em defesa de um ou de outro personagem, tu tem sido sanguíneo e visceral, bem semelhante ao visualizado nas últimas eleições nacionais. Por essa razão não vamos entrar no mérito desse debate. Mas uma coisa é certa, as manifestações de um lado ou de outro visam ao chamamento de pessoas para assumirem uma posição em sua defesa.
Muito mais que Musk e Moraes: A intercessão! (Luiz Nolasco de Rezende Junior)
Agora, se não fosse um bilionário que estivesse se opondo a uma autoridade judiciária, ou se não fosse um ministro da Suprema Corte de um país contra o poder econômico de um homem que chegou a dizer em 2020 que seria capaz de dar um golpe em qualquer governo; se o perseguido fosse uma pessoa simples, como um mero pescador líder de um pequeno grupo de pessoas. O que caberia a ele fazer? E se essa pessoa simples estivesse sendo vista como uma ameaça a algum interesse tanto daqueles que detivessem o poder econômico quanto daqueles que detivessem o poder político-jurisdicional? Qual seria o seu fim? Infelizmente, a história não nos traz muitos finais felizes a tais circunstâncias. Histórias de “persona non grata” a poderosos são trágicas, mas sempre trazem ensinamentos preciosíssimos! É sobre um deles que gostaria de chamar a sua atenção: os benefícios da intercessão.
No livro de Atos dos Apóstolos, no capítulo 12, a Bíblia Sagrada traz-nos o seguinte relato: “Nessa ocasião, o rei Herodes prendeu alguns que pertenciam à igreja, com a intenção de maltratá-los, e mandou matar à espada Tiago, irmão de João. Vendo que isso agradava aos judeus, prosseguiu, prendendo também Pedro, durante a festa dos pães sem fermento (a Páscoa). Tendo-o prendido, lançou-o no cárcere, entregando-o para ser guardado por quatro escoltas de quatro soldados cada uma. Herodes pretendia submetê-lo a julgamento público depois da Páscoa. Pedro, então, ficou detido na prisão, mas a igreja ORAVA INTENSAMENTE a Deus por ele”.
Temos aqui a descrição de um estado de enfrentamento e uma série de adversidades que a Igreja estava passando. O texto começou dizendo: “Nessa ocasião…”. A ocasião a que o texto se referiu foi uma fome que veio sobre todo o mundo romano, o que incluía a província romana da Judeia.
Além da fome, o texto descreveu uma perseguição política encabeçada por Herodes e uma perseguição religiosa promovida por lideranças judaicas. Perseguições a quem incomodavam a estas lideranças então constituídas. Eram os primeiros anos da Igreja cristã. Tempos em que a fé dos cristãos era provada em todo o tempo devido à quantidade de adversidades que eles enfrentavam. Tais adversidades conduziram aquelas pessoas a uma postura de intercessão. Essa história traz-nos ensinamentos e benefícios de uma vida de intercessão ante adversidades.
1. Benefício de uma vida de intimidade, transformação e comunhão com Deus.
A intercessão nos leva à intimidade espiritual, transforma os nossos corações, aproxima-nos como comunidade, renova a nossa fé, o que resulta na edificação tanto daquele que passa por dificuldades como para aqueles que intercedem.
O crescimento na intimidade com Deus é uma consequência direta dos momentos de devocional que a intercessão nos conduz, fazendo-nos, muitas vezes, não apenas orar por alguém ou por alguma situação, mas também refletir, pensar, internalizar ensinamentos espirituais como os que estão descritos na Bíblia Sagrada.
Certa vez, Jesus disse: “As palavras que Eu [Jesus] vos tenho dito são Espírito e são vida” (João 6.63). Todas as vezes que nos reportamos às Escrituras para interceder por alguém ou com alguém, somos também atingidos pela Palavra trazendo em nós vida e restauração. Ou seja, as nossas orações e intercessões pelos outros afetam também os nossos próprios corações.
2. Benefício de aumentar nosso entendimento espiritual. A intercessão nos traz entendimento. Há um relato do profeta Daniel que representa bem esse benefício. Enquanto ele orava, obteve de Deus entendimento: “Falava eu ainda em oração e súplicas… colocando minhas petições diante de Yahweh… enquanto eu ainda falava com Deus em oração, Gabriel, o homem… me orientou, dizendo: “Daniel, eis que vim para transmitir-lhe percepção, sabedoria e conhecimento! Assim que iniciaste as tuas orações e o teu clamor, houve uma resposta e a ordem para que eu a viesse entregá-la a ti pessoalmente, pois tu és muito amado. Portanto, agora, presta atenção na Palavra que te declaro a fim de que possas compreender a visão que tiveste” […] (Daniel 9.20-23).
3. Benefício de contemplarmos a manifestação do poder de Deus. A intercessão altera a atmosfera espiritual. Quando estamos em oração, passamos a esperar a presença de Deus ao nosso lado. A presença de Deus ao nosso lado não será pelo muito falar, ou mesmo pela forma e intensidade de nossa voz, mas pelo ato de crer que Ele está junto a nós, o que, às vezes, quando estamos passando por adversidades, não é nada fácil. A intercessão é um ato de súplica por misericórdia, pela presença de Deus em nós e por aqueles que intercedemos.
4. Benefício de nos unir a uma comunidade de expressão de amor. A intercessão também une nossos corações a pessoas. Nós nos aproximamos de pessoas com quem estamos intercedendo e crescemos em amor por quem intercedemos. Certa vez, João Calvino escreveu: “interceder pelos homens é a maneira mais poderosa e prática de expressar o nosso amor por eles”. Suas palavras são uma paráfrase ao texto bíblico que diz: “muito poderão as nossas súplicas em seus efeitos” (Tiago 5.21).
Luiz Nolasco de Rezende Júnior é teólogo, Mestre e Doutor em Educação.