Começo esta crônica pela constatação de que estamos em um novo cenário mundial, portanto é preciso criatividade e um pouco de bom humor.
Agora, as coisas mais corriqueiras são resolvidas por intermédio do aplicativo Google.
Um exemplo aconteceu na semana passada, quando um amigo de longa data, cozinheiro de fim de semana,falou-me sobre uma receita.
Sabe o que ele respondeu?
Pergunte ao Google!
Onde se escondeu o princípio da oralidade , que era passada pelos nossos avós e pais, que se perpetuaram através dos tempos?
Que os digam os vikings e os ameríndios e índios, que atravessaram séculos e levaram seus ensinamentos e escritos, chegando até os nossos dias.
Onde foram parar essas tradições e costumes tão arraigados em nossas mentes, e que fizeram a história de nosso antigo mundo.
Tudo mudou.
Foram todos envelopados e devidamente enclausurados nos hardwares.
Falo na condição da geração Baby Boomer, que ainda resiste e tem resiliência para entender o que está acontecendo neste século XXI.
Qual cachorro que caiu da mudança, estamos nós desta geração, um pouco perdidos.
Para se fazer qualquer coisa na vida profissional ou acadêmica , precisamos da internet para fazer funcionar, pois não há outra saída.
Tudo foi colocado num dispositivo que agora controla nossas vidas e sabe dos nossos desejos.
Por mais inconfessáveis que sejam.
Temos como companheiros de todas as horas, a ALEXA, Instagram, Facebook, celular e outros aplicativos que inundam nossa vida.
E é impossível viver sem eles, que acabam dirigindo nossas vontades e nossas necessidades.
Li na VEJA : “DESDE O SEU SURGIMENTO, em 1998, o Google se tornou não apenas um gigante empresarial, mas, acima de tudo, uma força cultural que molda a forma como bilhões de pessoas acessam informação. O mecanismo de busca, de fato, é onipresente: no mundo, 90% das pesquisas feitas pela internet passam por ele — que, afinal, escolhe o que devemos ler. Não à toa, seu campo de influência é colossal, indo dos negócios ao entretenimento, da comunicação à política.”
Ou, em outras palavras, o GOOGLE mantém um monopólio do que é verdade ou não, do que é certo ou errado, não há mais discussão ou nova descoberta, tudo passa pelo crivo deste novo oráculo.
E o que dizer da inteligência artificial generativa, que veio para colocar um cenário disruptivo, sem que saibamos onde vai dar.
Acostumamo-nos a viver numa realidade onde as coisas estavam ao alcance da mão e da vista,com a aparição da IA tudo mudou.
As novidades nesta área ainda estão por vir e nos surpreender, já que as possibilidades são infinitas.
A instantaneidade e a pressa em noticiar são os carros chefes desta nova ordem mundial.
Tudo ficou imprevisível e sem a mágica que nos envolvia em outros tempos, onde tudo era de fácil entendimento e previsibilidade.
Não quero retornar ao que era antes, nada disso.
Não nos transformemos em empedernidos conservadores, o que estou a dizer é que não fomos projetados para esta era moderna.
E está sendo difícil a caminhada, já que não veio com o manual ou outro instrumento para nos guiar.
As discussões que tenho tido com a atual geração, um pouco difícil, é que o diálogo se complica por falta de uma mediação que concilie as diferentes visões do mundo.
O precisamos, urgente, é resgatar valores que se mantém íntegros como a ética, o respeito à individualidade e a civilidade.
Resgatar a filosofia e outras ciências humanas serão os desafios que temos a estimular para as novas gerações.
Evidente que o trabalho, na sua antiga acepção, mudou, e com ele as relações trabalhistas.
Agora as novas relações estão se estabelecendo e criando suas normas, fazendo com que o hiato entre a antiga e nova relação tenha apresentado fissuras.
Não há apego ao trabalho ou a profissão, como antes, agora trata-se de sobreviver em um ambiente difuso e em constante movimento.
Inseguro e sem aposentadoria garantida.
E isso não parece ser , para esta nova geração, um problema.
Ao se posicionar no mercado de trabalho, eles, as novas gerações, encontraram este Mundo Novo e suas “regras e desafios”, o que para eles é uma realidade dada.
O resumo da ópera é o seguinte : achar um modus vivendi entre os sobreviventes da geração passada e a nova geração, onde haja aprendizado mútuo, respeitando , dentro do possível, o legado existente.
Décio Guimarães, Escritor e Poeta