Em uma crônica sobre o nal do ano de 2024, quando resolvi falar o sobre a democracia e seus caminhos, sinto ter pisado num vespeiro.
Reitero o que disse, para explicar na sequência, “ o assunto ainda incipiente,mas não menos perigoso, são as tentativas de desestabilização da democracia, tal qual a conhecemos, com surtos na Coreia do Sul, Rússia, Argentina e muito especialmente, com a eleição de Donald Trump.
Corremos perigo, dirão os democratas.
As representações de extrema direita se fazem presentes, com seus dentes arregalados, demonstrando que é possível voltar a sua maneira de governar.
Esquecem eles, que os períodos vividos sob ditaduras e regimes fortes, só podem se realizar quando há falência do mundo democrático.
Neste século XXI , que imaginávamos sepultados tais formas autoritárias de governos, elas reaparecem, agora com uma capa de partidos democráticos, com pautas exógenas. Querem, no meu modo de ver, o PODER, para mudar a realidade e não enxergá-la como ela é.
Pois todos sabemos, que a verdade dos fatos se baseia em observação e evidência e não apenas na fé.
Algumas consignas vieram para ficar, num mundo libertário e livre de preconceitos, e que têm demonstrado, a todo custo, que liberdade e respeito aos direitos humanos devem permanecer no cenário político.
Em respostas contundentes, fui admoestado e desaado por vários leitores, para explicar o que se passa com a Democracia.
Porque ainda acreditamos nela, embora os sintomas evidentes que as desqualicam, e fatos acontecidos recentemente que armam seu desgaste.
Deixo , por enquanto, a livre manifestação de duas leitoras��
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“O que mais me choca e apavora é que 50% da população mundial não entende o que é democracia e o porquê de preservá-la. As pessoas estão muito frustradas e buscam solução na violência, na prevalência de seus desejos sem se importar com as consequências.
Acho que esse inconsciente coletivo que se forma é muito propício para guerras. Acho que vamos ingressar em anos sombrios, de depuração da humanidade, para renovação do ciclo de evolução da Terra.
Quando pelo sofrimento, voltaremos a valorizar as coisas mais simples da vida.”
Perguntada sobre como anda a Democracia, L. responde, rispidamente:
“Mais ou menos!
A democracia está em baixa!
Autocracia em alta!
Haja vista a potência que é a China!!
Ocidente em baixa!
Cultura Woke em baixa !
Esta é a realidade!
Nada disso encontrei no teu texto.
É antigo e retrógrado!
Reafirmação da democracia!!
Tá louco!
Olha para frente!
Não é assim que o mundo gira!
Essas observações não são minhas, são do mundo!
São de quem estuda, viaja e percebe.
Mas quem não sabe que o mundo e o poder econômico são antidemocráticos?
Trump ganhou porquê?
Vale a pena pensares o porquê!
Ponto!
Isso é a realidade!
É fato!
É um fenômeno que milhares de analistas tentam entender !! A eleição de Trump foi uma confirmação disto.
Aqui no Brasil, vai pelo mesmo caminho.
No meu modo de entender, sobre isso vale a pena escrever! Falar que a democracia é a melhor coisa do mundo, sem olhar para este fenômeno que está ocorrendo no mundo é inútil.
Bem, vamos aos fatos, para aclarar as dúvidas e suscitar outras tantas, porque falar de DEMOCRACIA não é tão simples assim.
Dito isso, vamos examinar o estado da arte no século XXI, deste fenômeno, que se apresenta com uma roupagem esquisita. Estariam os valores democráticos, tais como, solidariedade, liberdade e respeito aos direitos humanos sendo solapados? Teriam entrado em descrédito ou passando por um desgaste total ?
O que vemos é um enfraquecimento de alguns valores tão caros a este tipo de regime político.
São tentativas de diminuir os modos de representação, questionar o valor do voto, empregando estratégias bélicas na sociedade civil.
E um infindável programa de enfraquecimento das conquistas democráticas, urdidas por inúmeros embates ao longo de sua trajetória.
Cada cidadão um voto, respeito às minorias, respeito ao processo eleitoral, alternância de poder, são exemplos de respeito à democracia.
Porém, o descuido com este tipo de regime político está se erodindo, e colocando em xeque tais pactos ancestrais. Além destes, estamos normalizando a existência das ditaduras e regimes fortes, como se fossem as únicas saídas para àqueles habitantes de terras invadidas, obrigados a viver pela metade.
Fugindo de seus locais de nascimento e buscando refúgio em terras estranhas, é o que estamos presenciando neste momento histórico.
E a resposta dada pelas nações que recebem os migrantes e refugiados é bastante insatisfatória.
O que está se passando com a Democracia, que não dá mais as respostas que são esperadas por todos? Será preciso fazer uma análise profunda das condições que estão postas neste presente século.
Diferente das histórias passadas, e das tragédias que se abateram, por 2 guerras mundiais, do século passado,
parecem ter sido esquecidas devido às suas terríveis consequências.
Com a aparição da energia nuclear e suas bombas, que tiveram históricos terríveis em Hiroshima e Nagasaki, pareciam ter dado um freio na atividade belicista. Ledo engano, só serviu para fortalecer o sentimento de Poder bélico e, entrincheiradas, as nações buscaram, incansavelmente, tornaram-se potências nucleares. A quem interessa este tipo de associação ou mostra de força senão àqueles que fornecem munições e armamentos, para reforçar este tipo de ” pax armada”.
Evidente que a democracia está em crise, e como faremos para tirá-la de pântano em que nos metemos, senão avaliarmos suas deficiências e suas fragilidades. Seria voltar aos clássicos e relembrarmos de suas lições, que atravessaram séculos, garantindo a possibilidade de discutirmos abertamente novos caminhos.
A construção de uma nova forma de representação democrática deverá ser uma prova amarga e inovadora, nestes tempos de inteligência artificial e de vida em ritmo digital.
Primeiramente, terá que haver um amplo diálogo com as novas gerações, que não foram acostumadas às soluções passadistas.
Eles herdaram um Mundo em que não houve cuidado com a natureza, e que é essencialmente extrativista.
Como se não houvesse amanhã, como diz a música. As soluções de antanho sobre guerra, eram resolvidas por levar centenas de milhares de jovens para as frentes de batalha, morrendo e se sacrificando, muitas das vezes, por conquistas meramente territoriais.
Surgiram daí, o descaso com a natureza, o desrespeito aos direitos humanos, bem como a inoculação da síndrome do medo.
Sim, o medo que causaria caso fossemos atingidos por epidemias, guerras biológicas e bombas nucleares. Desta maneira, grandes nações se fortaleceram e se tornaram guias das demais, ou se quisermos simplificar, tomaram como reféns as nações mais débeis..
E, como fica a territorialidade e a identidade de cada povo, de cada nação, se estão a todo tempo à mercê das potências detentoras dos meios de dissuasão nuclear.
Outro fenômeno que surge, de forma enviesada, é o nacionalismo e suas políticas xenófobas, atraindo o ódio e o radicalismo.
É um vírus que se espalha, parecendo querer propor uma “nova” forma de governar.
Baseada na individualidade, estado mínimo e na possibilidade de”empreender” e ter um lugar ao sol. Tem sido presente nos últimos anos, com vitórias e alguns revezes, em diferentes partes do mundo, como a França, Hungria, Argentina e, last but not least, nos Estados Unidos. Sim, a eleição de DONALD TRUMP, parece ser um marco divisório na luta democrática.
Melhor dizendo, uma prova para os valores democráticos, que se vêm na berlinda, com organismos mundiais questionados, e guerras espocam em diverso lugares sem solução a curto prazo.
Merece uma reflexão a vitória arrasadora de Trump, no qual conquistou não só a presidência, mas também a maioria nas duas casas congressuais.
Pelo que se disse a respeito desta vitória, alguns especialistas especulam que foi a questão migratória, via México, cuja solução não foi possível no governo Biden. A solução explicitada por Trump é a imediata e irrevogável expulsão de todos aqueles que se encontram em situação irregular.
Não haverá complacência,nem discussão sobre os direitos dos imigrantes ou refugiados em situação de vulnerabilidade.
Diz um artigo do Financial Times, escrito por Edward Luce, sobre a vitória de Trump “ Deportação em massa de imigrantes ilegais, o fim da globalização e um dedo médio para a abordagem muitas vezes autoparódica da elite liberal à identidade, mais conhecidas com “wokeness”.
Tudo isto superou quaisquer dúvidas que os eleitores tivessem sobre o caráter de Trump.”
Teríamos ainda inquietantes variáveis para esta eleição americana, para explicar a virada de chave acontecida. Os eleitores americanos estarão caminhando na direção certa para reaver os seus valores democráticos? Existe um desgaste na versão de democracia, com a vemos nestes tempos instáveis?
Será porque a aposta em Trump se desvia de muitos programas democráticos, que estamos acostumados a observar ou não.
Comecemos pela política internacional, que durante muito tempo foi, pelas nações, o respeito a solidariedade, intercâmbio comercial com regras flexíveis e fortalecimento dos organismos internacionais(OMS, OMC e ONU).
Nada disso faz parte da política a ser praticada no governo Trump, pelo contrário.
Deixou claro,ao longo da campanha, quais seriam suas prioridades e o que faria para impedir o que considera excessos e pautas incorretas.
Sem querer invadir território alheio, creio que o povo americano, principal alvo do novo governo, aposta suas fichas em uma nação (MAGA) forte o suficiente para não depender dos demais países.
A ver, nos próximos capítulos!
Sem pretender esgotar esta reflexão neste ensaio, que como diz a enunciado “Consiste na exposição das ideias e pontos de vista do autor sobre determinado tema, buscando originalidade no enfoque, sem, contudo, explorar o tema de forma exaustiva.
Finalizo com uma advertência, que se transformou em clichê de Winston Churchill , “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.
Ou de forma abreviada “A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que foram tentadas.”
Décio Guimarães e escritor e poeta
Portal Repórter Brasília, Edgar Lisboa