O primeiro dia do mês de abril traz consigo as “pegadinhas” que muitas vezes são divertidas ou inconvenientes. É que muitos se deixam levar pelo embalo da mentira e proporcionam as famosas brincadeiras grotescas ou até com aparência de uma grande verdade. Não há o que se comemorar no dia primeiro, pois, de acordo com a Bíblia “a boca fala daquilo que está cheio o coração” e a mentira é considerada um vício. Mentir é fazer declarações propositalmente falsas, meias verdades que envolvem falsas impressões. Um exagero proposital é um tipo de mentira, como também o é uma declaração parcial proposta. Até mesmo as verdades proferidas com o intuito de enganar, naquilo em que visam iludir, não passam de mentiras.
A mentira é um veneno que mata (Luzelucia Ribeiro da Silva)
A mentira está presente diariamente na vida de todo o ser humano, que vive em convívio social. As mentiras podem ser classificadas em diferentes níveis, desde as “mentiras inofensivas”, que possuem uma finalidade de benevolência, até as mentiras que têm o objetivo de prejudicar a vida de outra pessoa, por vingança ou pura maldade.
Contar uma mentira consiste em falar algo que não é verdade para alguém, com o intuito de que essa pessoa acredite. Mentir é sinônimo de enganar, além de ser uma das ações praticadas por quem possui intenções maliciosas em relação à outra. Por essas razões, a mentira é considerada um ato imoral ou criminal.
A mentira em excesso ou de forma compulsiva pode ser sinal de um transtorno psicológico chamado mitomania. Normalmente, a mentira nasce da necessidade do mentiroso em obter algum proveito ou se livrar de alguma situação que o incomode. O mentiroso compulsivo, por sua vez, não tem nenhum objetivo ao mentir, fazendo isso mesmo quando não está sob pressão social. O mitomaníaco usa a mentira como uma ferramenta de consolo, pois assim sente-se mais satisfeito e calmo consigo mesmo, mascarando as suas angústias. Conheci uma pessoa que mentia tanto que nunca sabíamos se ela estava falando uma verdade ou mentindo. Daí eu até me lembrava de um provérbio dos tempos de adolescente que dizia assim: “Coitado do mentiroso; mente uma vez, mente sempre; ainda que fale a verdade, todos lhe dizem que mente”.
No âmbito religioso, a mentira é considerada um pecado, estando relacionada com o que é mau, maligno ou indigno. Na doutrina cristã, por exemplo, a mentira é representada pela figura do diabo, considerado o “pai da mentira”, para os cristãos, conforme João 8.44.
Há uma palavra grega que está na raiz da mentira. Mens significa mente, inteligência, discernimento, o que poderia nos fazer concluir que o mentiroso precisa ter uma boa cabeça. Um mentecapto (louco, alienado, tolo, idiota, que não tem inteligência) não sabe mentir.
Há ainda um significado especial para mens – intenção. O que tem em mente o mentiroso ao lançar mão da mentira? A verdadeira mentira jamais acontece por inadvertência ou em nome de boas intenções. É fruto de uma vontade empenhada em enganar.
A mentira é um espírito mentiroso, conforme a citação bíblica registrada em 2Crônicas 18.21,22: “Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. Disse o Senhor: Tu o enganarás e ainda prevalecerás; sai e faze-o assim. Agora, pois, eis que o Senhor pôs um espírito de mentira na boca destes teus profetas e o Senhor falou o mal a teu respeito.”
De acordo com o pastor e escritor Hernandes Dias Lopes, a mentira é devastadora. Produz descrédito, decepção e morte. A mentira é nociva não apenas por causa de sua natureza perversa, mas, também por causa de sua origem maligna. Segundo a Bíblia, o pai da mentira é o diabo, pois “Ele foi homicida desde o princípio, e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (João 8.44); ele é o padroeiro dos mentirosos. Muito embora a mentira não se mantenha de pé o tempo todo, pois é manca e tem pernas curtas, ainda assim ela produz muitos males.
A mentira não habita na luz, antes esconde-se nas regiões ensombrecidas do engano. A mentira é um atentado contra a natureza de Deus e uma violação da lei de Deus, conforme Efésios 4.25 e Êxodo 20.16. Ela se apresenta disfarçada ora de autodefesa, ora de negação afrontosa da verdade. Quando Deus confrontou Adão por seu pecado, ele colocou a culpa em Eva. Quando Deus confrontou Caim pelo assassinato de Abel, ele evadiu-se dizendo que não era tutor de seu irmão. O mentiroso diz sim, quando deveria dizer não e diz não quando deveria dizer sim. A mentira é uma distorção, inversão e negação da verdade. Portanto, a mentira é uma ofensa à santidade de Deus e um atentado à integridade do próximo.
Os homens mentem, principalmente, a fim de enganar. Essa palavra é usada nas Escrituras para indicar as declarações falsas dos homens acerca de Deus e das realidades espirituais (Romanos 1.25). Os resultados da mentira são o erro e a ilusão (Jeremias 13.32). Os padrões morais são solapados pelas mentiras (Romanos 1.26). Deus detesta a mentira, conforme escreveu Salomão: “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor; mas os que praticam a verdade são o seu deleite” (Provérbios 12.22).
A mentira tem como objetivo enganar o próximo; tem a ver com uma informação eivada de distorções, para maquiar os fatos, usurpar o próximo e colocar o retrato do mentiroso na moldura da integridade. Toda mentira é prejudicial, pois não pode existir comunicação saudável nem relacionamentos confiáveis onde a mentira está presente. Seus efeitos são desastrosos, pois destrói a confiança, o alicerce das relações humanas. O mentiroso destrói a si mesmo antes de atingir o próximo. Perde sua credibilidade, seu nome e sua alma pois os mentirosos não herdarão o reino dos céus.
No livro de Apocalipse (capítulos 21.17 e 22.15) encontramos a clara menção de que os mentirosos habituais, por não terem uma natureza regenerada, ficam impedidos da salvação e do lar celestial. Dessa forma é bom repensar as “mentiras brancas”, pois, o evangelista Mateus esclarece: “Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo; porque, pelas tuas palavras serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado” (Mateus 12.36,37). Falemos a verdade em todos os dias do ano!
Luzelucia Ribeiro da Silva é professora, escritora, pastora e membro da Academia Evangélica de Letras do DF.