Identidade política em xeque

Ronaldo Nogueira (Crédito: Mário Agra, Câmara dos Deputados)

O deputado Ronaldo Nogueira (Republicanos/RS) chama atenção para um ponto central: “no Brasil, partidos e lideranças muitas vezes se autodeclaram de direita ou esquerda, mas o comportamento real não corresponde ao discurso. O conservadorismo, por exemplo, é um estado de espírito”, explica. “Não basta ser contra aborto ou união civil para se definir como conservador. é preciso coerência entre vida, valores e atitudes”.

Petismo x Bolsonarismo

Hoje, o cenário político brasileiro está fortemente marcado por dois pólos, o petismo, que se identifica como esquerda e reúne partidos como PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL, que são base do atual governo; e o bolsonarismo, que se apresenta como direita, com forte influência pessoal do ex-presidente Jair Bolsonaro. Nogueira ressalta que Lula é maior que o PT, e o Bolsonaro é maior que o PL; mostrando como essas lideranças se sobrepõem às próprias siglas.

O espaço do centro

Entre esses extremos, há um vasto campo político.  E os partidos que assumem a posição de centro: PSDB, MDB, PSD, Podemos e Solidariedade, ocupam o centro buscando equilíbrio entre posições liberais e sociais. Já PP e Republicanos se colocam mais próximos da centro-direita, enquanto PL e Partido Novo, mais na extrema, chegando até a fronteira da direita radical.

O eleitor que decide

Segundo Ronaldo Nogueira, “apenas 25% do eleitorado se identifica claramente com a direita e outros 25% com a esquerda, os 50% restantes se concentram no centro, centro-direita e centro-esquerda — eleitores menos passionais, que esperam coerência, probidade e eficiência. São eles que tendem a definir o rumo das eleições, escolhendo candidatos mais pela postura ética e pela entrega de resultados do que por bandeiras ideológicas rígidas”.

O futuro no RS e no Brasil

No Rio Grande do Sul, o deputado prevê três polos eleitorais: Edgar Preto (à esquerda), Gabriel Souza (no centro) e Zucco (à direita). Mas o desenho nacional ainda depende de definições como o futuro político de Tarcísio de Freitas, em São Paulo, e o espaço que Bolsonaro continuará a ocupar. Para Nogueira, “o desafio maior dos partidos é resgatar uma verdadeira identidade e comunicar ao povo de forma clara, o que realmente defendem”.

Fundão turbinado

Em ano pré-eleitoral, o Congresso aprovou um fundo eleitoral de R$ 4,9 bilhões para financiar as campanhas de 2026. O valor é quase cinco vezes maior do que a previsão do governo na proposta orçamentária, que era de cerca de R$ 1 bilhão.

Crítica da sociedade civil

A diretora da Transparência Brasil, Juliana Sakae, foi direta: trata-se de uma medida de autobenefício dos parlamentares. Segundo ela, “o Congresso mostra descaso com o dinheiro público, retirando de áreas essenciais para engordar as próprias campanhas”.

Contradição gritante

O mesmo Parlamento que cobra cortes e “responsabilidade fiscal” do Executivo, é o que eleva em 390% o fundão eleitoral. Ou seja, a austeridade serve para os outros; quando se trata de custear a própria sobrevivência política, o discurso de contenção desaparece.

Próximos passos

O texto ainda precisa passar pelo crivo do Senado e, depois, pela sanção do presidente Lula, que pode vetar a medida.

A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.

Edgar Lisboa