Galipolo precisará de bons fundamentos para controlar a inflação  

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Por Ivanir José Bortot*

Gabriel Galipolo

O economista Gabriel Galípolo, indicado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva para suceder a Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central, iniciou nesta segunda-feira (02), um “beija mão” aos senadores para ver seu nome aprovado em sabatina no Senado Federal, provavelmente em 10 de setembro. Conduzido pelo Senador Jaques Wagner, líder do governo no Senado, deve ter seu nome aprovado   pelos parlamentares.

A oposição ao governo no Senado poderá fazer barulho em torno da formação acadêmica, experiência de mercado de Galípolo e seu compromisso de controlar a inflação. A pressão por redução das taxas de juros, como ocorreu com Henrique Meirelles à frente do BC, para estimular o crescimento da economia, ganhara uma dimensão maior que do atual presidente da instituição Roberto Campos Neto.

Galipolo vai precisar de bons fundamentos acadêmicos e da eficiente leitura dos operadores de mercado para calibrar taxas de juros a fim de trazer a inflação para a meta, e ao mesmo tempo, estimular o crescimento da economia, hoje alimentada pela injeção de recursos públicos no mercado. É realidade, no entanto, que o dinheiro de investimento, cujo efeito é multiplicado beneficamente na economia, está passando dos modestos R$ 69,7 bilhões em 2024 para R$ 74,3 bilhões em 2025. As estimativas oficiais são de que com os demais recursos públicos em saúde, educação, bolsa família deverão contribuir para economia crescer o equivalente a 2,46% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem. Mesmo com este crescimento, as receitas serão insuficientes para zerar o déficit primário. Isso vai atrapalhar a vida do Banco Central. E que quanto maior o déficit público, maior e a dívida pública, levando o Banco Central a uma política monetária mais contracionista. Com isso, juros altos podem atrapalhar o crescimento. A verdade, no entanto, é que este instrumento monetário não tem feito milagres para tirar a economia do Brasil do buraco. Só lembrar que Roberto Campos Neto reduziu para 2% as taxas de juros no governo de Jair Bolsonaro, ficando abaixo da inflação, e mesmo assim o crescimento da economia foi pífio.

A vida de Galípolo, considerado pelo mercado como heterodoxo, não ao será fácil.

Em abril de 2022, antes da campanha de Lula ao Planalto começar oficialmente, o economista chamou atenção em um evento do grupo Esfera Brasil, que reuniu empresários do   mercado financeiro, como André Esteves (BTG Pactual) e Abílio Diniz (Grupo Península).

A postura heterodoxa em relação à economia e passagem pelo mercado financeiro são vistas como um importante fator de ponderação na interlocução do atual governo com o empresariado.

O perfil do economista também chama atenção de ortodoxos de forma geral. Nesse sentido, defende conceitos econômicos desenvolvimentistas, como o apoio do Estado na industrialização e a crítica ao teto de gastos. Mas rejeita a oposição de políticas públicas ao setor privado, optando por concessões, parcerias público-privadas (PPPs) ou mesmo privatizações em determinados casos. Apesar de não ser filiado ao PT, tem relações com o partido há mais de dez anos, quando ajudou, em 2010, na construção do plano de governo do atual presidente do BNDS, Aloisio Mercadante.

Como braço direito de Haddad, Galípolo teve a dura missão de gerir um rombo inicial de cerca de R$ 300 bilhões nos cofres públicos e acomodar uma demanda crescente por políticas públicas e promessas de programas sociais feitas na campanha em 2023.

Poucos meses após ter assumido como secretário executivo do Ministério da Fazenda , Galípolo deixou o cargo para integrar a diretoria do Banco Central, por indicação do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A sua estreia no Copom ocorreu com a primeira queda da Selic desde que o ciclo de alta da taxa básica iniciou, em março de 2021.

Na autarquia, Galípolo superou o ceticismo de agentes do mercado quanto ao seu nível de autonomia em relação ao Palácio do Planalto, mas também protagonizou um dos momentos mais tensos na autarquia, na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio.

Na ocasião, a votação dividida pela redução da Selic em 0,25 ponto percentual (de 10,75% para 10,50%) gerou ruídos entre investidores, com integrantes indicados pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL), votando pela posição vitoriosa, e nomeados por Lula defendendo um corte mais forte, de 0,50%. O episódio exigiu uma série de sinalizações posteriores de unidade dos integrantes da autoridade monetária para virar a página.

Gabriel Galípolo é formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela PUC de São Paulo, instituição na qual também foi professor nos cursos de graduação, de 2006 a 2012. Além disso, lecionou no MBA de PPPs e Concessões da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo). É também pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Sua passagem pela máquina pública teve início em 2007, no governo de José Serra (PSDB) em São Paulo. Naquele ano, o economista chefiou a Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos, e em 2008 foi diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento do estado de São Paulo.

De 2017 a 2021, Galípolo foi presidente do banco Fator, instituição com expertise em parcerias público-privadas e programas de privatização. Em sua atuação no banco, conduziu os estudos para a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), processo que teve início em 2018. Em 2021, o banco Fator e o BNDES lideraram o leilão da estatal, operação que arrecadou R$ 22,6 bilhões com a venda de três dos quatro blocos ofertados

No jargão econômico, as ideias heterodoxas (ou desenvolvimentistas) são aquelas que defendem a participação do Estado em setores estratégicos para o desenvolvimento do país. Ou seja, é o Estado ajudando a financiar infraestrutura, saneamento, tecnologia de ponta e outros segmentos cujos resultados demoram a aparecer e que seriam muito dispendiosos para o setor privado assumir sozinho.

Esse é o perfil que Galípolo construiu em sua vida acadêmica. Embora defenda claramente a atuação estatal como propulsora do desenvolvimento econômico, é conciliador e aberto ao diálogo. Ao lado do economista Luiz Gonzada Belluzzo, também heterodoxo e um dos fundadores da Facamp (Faculdade de Campinas), escreveu três livros: Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo (2017); A escassez na abundância capitalista (2019) e Dinheiro: o poder da abstração real (2021).

Repórter Brasília, Edgar Lisboa/ Por Ivanir José Bortot

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