Do ouro ilegal ao narcoestado

Marcon (Crédito: Kayo Magalhães, Câmara dos Deputados)

Por mais que a guerra no Leste Europeu monopolize as atenções internacionais, uma ameaça silenciosa e crescente desafia o Brasil. O avanço do crime organizado transnacional com tentáculos que atravessam fronteiras, contaminam a política e destroem o meio ambiente. E essa não é uma abstração teórica, foi o tema central da 22ª Conferência Internacional de Segurança do Forte, no Rio de Janeiro.

Alerta à violência interna

O deputado federal Marcon (PT/RS), no entanto, pondera que, “embora o risco transnacional mereça atenção, o país precisa, antes de tudo, enfrentar seus próprios dramas internos. Temos que nos preocupar com o crime, sim. Mas antes de tudo, com a violência contra as mulheres, que cresce a cada dia no Brasil”, afirmou.

Lógica de confronto

Para Marcon, “o governo anterior criou uma cultura perigosa em relação à violência. No tempo de Bolsonaro instaurou-se uma lógica de confronto, que mais parece saída de um livro de ficção policial, e isso moldou o imaginário social e agravou ainda mais o problema da criminalidade interna”, disse.

Sem ignorar a violência cotidiana

O parlamentar defende que o combate ao crime deve ser abrangente: “olhar para as ameaças externas, mas sem ignorar a violência cotidiana que atinge especialmente os mais vulneráveis dentro do país”.

Crime ambiental

Hoje, o crime ambiental já não pode mais ser dissociado do crime organizado. O garimpo ilegal, por exemplo, deixou de ser apenas um problema ambiental para se tornar uma questão de segurança nacional. Relatórios da Polícia Federal revelam que o ouro extraído de terras indígenas no Pará abastece mercados na Europa, Ásia e Estados Unidos, tudo sob a coordenação de facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC), que utiliza criptomoedas para lavar recursos em plataformas internacionais.

Flertando com um Narcoestado

Matias Spektor

O que está em curso é uma mutação perversa. O Brasil começa a se parecer mais com o México e a Colômbia do passado, onde o narcotráfico infiltrou-se nas estruturas do Estado. “Estamos flertando com um Narcoestado”, alerta Matias Spektor, da Fundação Getúlio Vargas. O alerta não é novo, mas agora tem contornos cada vez mais nítidos, sobretudo quando observamos a presença do crime organizado em campanhas eleitorais, câmaras municipais, parlamentos e até em setores do Executivo.

No Brasil, essa escolha não é mais opcional. Proteger a floresta, os povos originários e a soberania nacional, significa também combater o crime ambiental.

Prioridade da COP30

A questão que se impõe é, em novembro, na COP30 em Belém, qual será a prioridade da comunidade internacional? Continuar despejando trilhões em arsenais, ou enfrentar a convergência entre destruição ambiental e avanço do crime organizado?

Rotas ilícitas

Enquanto essa consciência não for global, o país continuará sendo atravessado por rotas ilícitas, ouro ilegal, corrupção e violência. E o sonho de ser protagonista ambiental na cena global, continuará refém de um pesadelo: o avanço do Narcoestado.

A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.

Edgar Lisboa

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