Aumenta a polêmica em torno da “Bíblia Trump”

Por Peniel Pacheco

O ex-presidente americano, Donald Trump, parece estar decidido a ampliar seu leque de negócios. Além de sua conhecida atuação no mercado imobiliário e de hotelaria, ele agora se tornou “garoto propaganda” de uma inusitada versão da Bíblia que está sendo comercializada nos Estados Unidos ao preço promocional de 60 dólares, conforme noticiou o Portal Repórter Brasília.

Bíblia Patriótica 

Donald Trump

Trata-se de uma edição patriótica da Bíblia, com estampa da bandeira norte-americana na capa, oficialmente batizada de “Bíblia Deus Abençoe os Estados Unidos”.

A polêmica foi ainda mais alimentada quando Donald Trump, aproveitando-se o clima de devoção, em razão dos feriados religiosos do último fim de semana, veio a público para alavancar as vendas da citada versão da Bíblia que inclui a íntegra da constituição americana e da Declaração de Independência dos Estados Unidos. Disse ele em anúncio divulgado pelas redes sociais: “À medida que avançamos para a Sexta-feira Santa e a Páscoa, encorajo você a obter uma cópia da Bíblia God Bless The USA” (“Deus Abençoe os Estados Unidos”).

Reações contundentes

As reações aos apelos comerciais de Trump não pouparam o uso de expressões bastante fortes como “sacrilégio” e “heresia”, além da condenação veemente do que, para alguns, seria uma tentativa de “tirar vantagem da fé das pessoas por dinheiro”.

Em entrevista à CNN, o historiador e escritor Jemar Tisby vê essa iniciativa como mais uma ação orquestrada pelos adeptos do nacionalismo cristão, que advoga a tese de que “a América foi fundada como uma nação cristã e que o governo deveria trabalhar para sancionar o cristianismo em escala nacional”.

Ofensa ao Estado Laico

Tisby afirma que a inclusão da Declaração de Independência e da Constituição dos EUA compromete “completamente a separação entre Igreja e Estado.”

As reações não param por aí. O conhecido Rev. Benjamin Cremer postou sua indignação no X, o antigo Twitter. Segundo ele, trata-se de um “cristianismo falido que vê um demagogo cooptar a nossa fé e até mesmo as nossas sagradas escrituras em prol da sua própria busca de poder e, em vez de elogiá-lo por isso, devemos insistir que nos recusamos a permitir que a nossa fé e as escrituras sagradas se tornem porta-voz de um império”.

Usar o nome de Deus em vão 

Outro líder religioso que reagiu à fala de Trump, foi Jason Cornwall, um pastor da Carolina do Sul, diz ele no X “que o endosso da Bíblia por Trump era uma violação de um dos Dez Mandamentos do Testamento Hebraico que proíbe usar o nome de Deus em vão”.

Professor Antônio Magno Figueira Netto, presbítero emérito da Igreja Presbiteriana.

No Brasil também surgiram vozes contrárias ao uso indevido da Bíblia para fins eleitoreiros. “Sou, pessoalmente, contra o uso das Sagradas Escrituras para fins político-partidários”, afirma o professor e escritor Antonio Magno Figueira Netto, presbítero emérito da Igreja Presbiteriana.

A par disso, Magno destaca ser “radicalmente favorável a utilização da Bíblia, no sentido de tê-la como efetiva regra de fé e conduta” Reforçando que o respeito à Bíblia serve “tanto a eleitores como a candidatos a cargos eletivos, e finais eleito. Isso implica e revela compromisso com o bom, sincero e reconhecido testemunho cristão; sem tentadores tipos de desvios, notadamente de afetação pessoal”, conclui.

Reverendo Sandro Xavier, pastor titular da Igreja Presbiteriana Independente Metropolitana de Brasília.

Deus não é americano nem brasileiro

Outro líder cristão ouvido pelo Repórter Brasília, foi o Reverendo Sandro Xavier, Pastor Titular da Igreja Presbiteriana Metropolitana de Brasília. Diz o pastor que algumas nuanças assustadoras pululam para nós nesse evento da chamada Bíblia patriota de Trump”. Xavier entende que “o avanço da pauta de costumes de uma ala que se diz cristã depõe contra o Deus e Pai de Jesus que acolhe a todos e todas independentemente de nacionalidade”. Além disso, diz o pastor, “vemos, frequentemente, a adoção de líderes que testemunham historicamente contra os valores proclamados por Jesus Cristo”. Xavier alerta que “é um perigo que, infelizmente, agrada a muita gente que se diz cristã também em nossa pátria”, finaliza o pastor.

Peniel Pacheco é pastor, ex-deputado Distrital, Mestre em Ciências da Educação e Professor de Teologia

Portal Repórter Brasília, Edgar Lisboa

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