No STF, um julgamento que redefine a história brasileira

Palácio do Planalto (Crédito: Ricardo Stuckert/PR)

O Supremo Tribunal Federal iniciou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de militares de alta patente acusados de tentativa de golpe de Estado. Pela primeira vez na história do Brasil, um ex-chefe do Executivo senta no banco dos réus ao lado de generais, almirantes e figuras centrais da segurança nacional. Um julgamento que Redefine a Política brasileira. O fato, já classificado por parlamentares como “histórico”, coloca o País diante de um divisor de águas: a Justiça será capaz de impor limites a quem afrontou a democracia?

Justiça e democracia em teste

Bohn Gass (Crédito: Kayo Magalhães/ Câmara dos Deputados)

Para o deputado Bohn Gass (PT/RS), “a impunidade é a mãe de todos os crimes”. Sua avaliação resume o espírito de parte significativa da sociedade: não basta registrar os ataques de 8 de janeiro, é necessário puni-los para que não se tornem precedentes perigosos.

Bohn Gass:”Não podemos deixar impunes”

Bohn Gass classificou o julgamento no STF como,  “um fato histórico importantíssimo, porque a justiça será feita com quem atenta contra a democracia, contra a soberania e contra as instituições brasileiras”.  Para o parlamentar,” pelos crimes que foram cometidos, nós não podemos deixar impunes. A impunidade é a mãe de todos os crimes. Se neste momento não houver uma punição, as pessoas vão estar autorizadas a cometer crimes”, disparou Bohn Gass.

Contra a democracia

Na visão do deputado petista, “quem defende a anistia, ele favorece o criminoso e é contra a democracia”. Ele não acredita que a anunciada manifestação, em São Paulo, dia 7 de setembro, possa influenciar em alguma coisa. “Nós temos um judiciário que não vai ser render. É um judiciário que vai cumprir a constituição, independente das manifestações”. Segundo Bohn Gass, “é um judiciário que precisa cumprir a constituição. E quero parabenizar o judiciário por ter essa estrutura constitucional.

Sociedade é contra a anistia

Questionado sobre a posição do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas que, nas últimas semanas, tem defendido com unhas e dentes, a Anistia, dizendo, inclusive, que se for eleito, no mesmo dia, assina a anistia de Bolsonaro”, respondeu: “ele deu um tiro no pé. Ele fez isso para tentar ganhar votos da família Bolsonaro. Só que a sociedade é contra essa anistia”.

Beneficiando os criminosos

Na avaliação de  Bohn Gass, Tarcísio de Freitas fez isso “para angariar os votos dos bolsonaristas, mas a sociedade não caminha nesse sentido. É um tiro no pé. O importante é que a impunidade é a mãe de todos os crimes, e quem quer anistia está beneficiando os criminosos”, concluiu.

Afronta à Constituição

Já a deputada Maria do Rosário (PT/RS) reforçou que a defesa de uma anistia, liderada por setores bolsonaristas e vocalizada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), representa uma afronta à Constituição. “Não haverá anistia, haverá soberania”, disse, ecoando o sentimento de que a democracia não pode ser moeda de barganha eleitoral.

A oposição fragmentada

Bibo Nunes (Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

Enquanto isso, no campo da oposição, o clima é de incerteza. O julgamento expõe fissuras internas no bolsonarismo. O clã político que orbitava em torno de Bolsonaro agora se divide entre a busca por sobrevivência e a corrida antecipada pela sucessão. Governadores como Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado e Romeu Zema ensaiam movimentos para ocupar o espaço do ex-presidente, mas enfrentam resistências internas, vaidades e disputas pela herança política. O próprio discurso inflamado de parlamentares como Bibo Nunes (PL/RS), que tenta minimizar os atos de janeiro, que não teve tanques nem armas, mas “pipoca, algodão doce e bíblias”. A oposição tem argumentado com força sobre essa narrativa, enquanto a base governista tenta mostrar as ações que revelam a gravidade das acusações.

Revanchismo político

Luz Lima (Novo/RJ) alega que as instituições brasileiras atuam de forma parcial, favorecendo o governo atual e perseguindo Jair Bolsonaro. Ele acrescenta que o País vive um clima de revanchismo político, na tentativa de incriminar o ex-presidente de maneira desproporcional.

Tem que responder por seus atos

Carol Dartora

”O julgamento dos envolvidos na tentativa de golpe representa a defesa da democracia brasileira”, afirmou Carol Dartora (PT/PR). Para ela, quem atenta contra a Constituição, promove corrupção, ou viola direitos humanos precisa responder pelos seus atos.

Negligência na pandemia

Para Tarcisio Motta (Psol/RJ), “a responsabilização de Jair Bolsonaro não pode se restringir à tentativa de golpe”. Ele defende que o ex-presidente também responda por sua atuação na pandemia, marcada, segundo ele, pela negligência diante das vítimas, pelo atraso na vacinação e pelo estímulo a tratamentos ineficazes.

A mensagem ao mundo

O impacto do julgamento vai além das fronteiras nacionais. Ao colocar um ex-presidente e militares de alta patente no banco dos réus, o Brasil envia um recado inequívoco à comunidade internacional: a democracia não é retórica, mas prática. Num cenário global em que populismos e extremismos testam limites institucionais dos Estados Unidos à Europa, a posição do STF coloca o País como referência no combate a aventuras autoritárias. O contraste com a complacência de outros governos diante de líderes antidemocráticos reforça o valor simbólico do processo.

O futuro em disputa

O desfecho desse julgamento definirá não apenas o destino de Bolsonaro e de seus aliados, mas também o rumo da oposição brasileira. Uma condenação tende a acelerar a disputa por novos nomes no campo da direita, agravando divisões e abrindo espaço para alternativas que tentem equilibrar pragmatismo econômico e discurso conservador. Para o governo Lula, a decisão do Supremo, se firme, poderá consolidar a narrativa de que as instituições resistiram e venceram a tentativa de ruptura.

Ato pedagógico da democracia

Mais do que um processo judicial, o julgamento é um ato pedagógico da democracia. O Brasil está mostrando a si mesmo e ao mundo, que o poder não pode ser blindagem para crimes contra o Estado de Direito. O resultado não será apenas jurídico; será histórico, político e moral.

A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.

Edgar Lisboa