Julgamento histórico no STF

Supremo Tribunal Federal (Crédito: Divulgação STF)

Os holofotes do mundo estarão nesta terça-feira (2) voltados para o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. É a primeira vez na história do Brasil que um ex-chefe do Executivo se senta no banco dos réus do Supremo Tribunal Federal, acusado de crimes contra a democracia. O processo envolve ainda outros sete réus civis e militares de alta patente. As sessões começam hoje, às 9 horas na Primeira Turma, e o veredito será anunciado em 12 de setembro, após oito sessões divididas em cinco dias.

O núcleo crucial dos acusados

Jair Bolsonaro, Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres, Mauro Cid, Alexandre Ramagem, Almir Garnier Santos e Paulo Sérgio Nogueira — Foto: g1

Além de Bolsonaro, compõem o chamado “núcleo crucial” o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin; o almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; o general da reserva Augusto Heleno, ex-chefe do GSI; o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens; o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e o general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa. A lista revela a profundidade da crise institucional vivida pelo País.

Tarifaços e pressões externas

Presidente da CNI, Ricardo Alban (Crédito: Divulgação)

Paralelamente ao julgamento, o Brasil enfrenta os reflexos do tarifaço de 50% imposto por Donald Trump a produtos brasileiros. Uma comitiva liderada pela CNI viaja a Washington para tentar convencer setores produtivos norte-americanos a pressionarem pela suspensão da medida. O presidente da CNI, Ricardo Alban, destacou que “a prioridade é resgatar o bom senso, mostrar a complementariedade entre as economias e reforçar convergências em áreas como energia limpa e biocombustíveis”.

Economia e instituições separadas

O próprio líder empresarial reconheceu que o julgamento de Bolsonaro é um “ponto crítico” no ambiente internacional, mas defendeu que Executivo e Judiciário são poderes independentes e que os temas não devem se confundir. Para ele, é preciso preservar a institucionalidade e buscar alternativas econômicas que não agravem ainda mais o cenário das exportações brasileiras.

Vozes da análise política

O professor Marco Aurélio Ruediger, da FGV, reforçou à Revista CBN que “é necessário um estudo econômico profundo para entender como agir contra os Estados Unidos sem prejudicar a economia brasileira”. Ele criticou articulações políticas realizadas no exterior contra o próprio país: “Não consigo imaginar um deputado alemão ou americano viajando para atacar sua pátria. Isso é inaceitável. Nesse sentido, sou muito Brasil, muito nacionalista. O contraditório é essencial, mas não dessa forma.”

O caso Eduardo Bolsonaro

Deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — Foto: Aquivo pessoal

Nesse contexto, chama atenção o gesto do deputado Eduardo Bolsonaro (PL), que articula nos Estados Unidos contra o Brasil e ainda solicitou à Câmara dos Deputados autorização para exercer o mandato a partir do território norte-americano, alegando precedentes da pandemia. A decisão está nas mãos do presidente da Casa, Hugo Motta, mas a expectativa é de rejeição. Nada mais justo: o Parlamento não pode legitimar uma prática que fragiliza a soberania e abre precedente perigoso.

Entre democracia e soberania

Ilustração Edgar Lisboa, com recursos de IA.

O Brasil atravessa dias decisivos. O julgamento de Bolsonaro será um marco para a defesa da democracia. Já a disputa comercial com os EUA exige habilidade, diálogo e firmeza para proteger empregos e exportações. Mais do que nunca, é hora de separar justiça de política e interesses nacionais de agendas pessoais. O futuro do País não pode ser refém nem do autoritarismo interno nem de pressões externas.

Supremo blindado para julgar Bolsonaro

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal está provocando impactos na área central de Brasília, apesar de a sessão inicial estar marcada para às 9 horas. Um esquema especial foi montado pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal com a segurança do STF. As alterações ficarão em vigor até o fim do julgamento previsto para o dia 12 de setembro. O acesso à Praça dos Três Poderes é controlado pela Polícia Militar e o efetivo será reforçado nas vias próximas.

Inteligência nacional monitora julgamento do STF

Também foi criado uma célula presencial de inteligência que reúne órgãos distritais e nacionais para monitorar a situação em tempo real. O acesso ao prédio do Supremo é controlado por detector de metais e cães da polícia farão uma varredura até dentro da sala da primeira turma, onde será realizado o julgamento.

Brasília transformada em fortaleza sob vigilância máxima

Desde a noite dessa segunda-feira drones com câmeras térmicas estão sendo utilizados para ajudar a identificar qualquer tipo de movimentação suspeita nos arredores da sede da corte.

A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.

Edgar Lisboa