Representação artística da sonda Europa Clipper na lua Europa. Crédito: NASA
Por Patrícia Saldanha
Através da análise do espectro da Lua Europa, do gigante gasoso, foi possível identificar a existência da substância química Luciferina, uma molécula bioluminescente encontrada em organismos vivos na Terra.
No último dia 30 de novembro, o analista de dados e especialista em machine learning, Hugo Matheus Ferreira de Melo, teve o artigo científico “Identificação de Luciferina em Europa por meio da Análise de Ciência de Dados do Espectrômetro de Mapeamento de Infravermelho Próximo (NIMS) do Galileo Orbiter” publicado na Revista Internacional de Pesquisa Física. O trabalho foi realizado a partir de um reestudo dos dados científicos coletados pela Missão Galileo, lançada pela NASA em outubro de 1989 e que orbitou Júpiter por oito anos, tendo passado próximo das principais luas do planeta.
A pesquisa foi feita mediante a análise do material bruto coletado pelo Espectrômetro de Mapeamento do Infravermelho Próximo (NIMS) da espaçonave Galileo, utilizando técnicas avançadas de aprendizado de máquina (uma ramificação da Inteligência Artificial) e de processamento de dados. A descoberta é ainda considerada preliminar e precisa de validação adicional, porém, pode significar um grande marco na história da pesquisa astrobiológica e indicar a presença de vida extraterrestre no oceano localizado na subsuperfície da crosta congelada de Europa.
A Luciferina é a substância química responsável pela bioluminescência em seres vivos como o pisca-pisca dos pirilampos, a luz azulada observada no fitoplâncton e em algumas espécies de peixes. O estudo feito por Hugo detectou a emissão de luz na faixa espectral de 560 a 670 nm, compatível com a molécula de Luciferina. Segundo ele, a presença da substância foi detectada em grande quantidade, espalhada por toda o subsuperfície da lua congelada de Júpiter.
Os dados da Missão Galileu foram disponibilizados ao público no site do Centro de Ciências Astrogeológicas do USGS (do governo dos Estados Unidos) e apontam uma forte evidência da existência de um vasto oceano de água liquida abaixo da crosta congelada da lua Europa, bem como a presença de energia gerada pelo alongamento gravitacional da lua, devido sua proximidade com o planeta hospedeiro, condições ambientais que tornaram o astro um forte candidato a abrigar a existência de vida extraterrestre.
Estas características impulsionaram o lançamento da Missão Europa Clipper, em 14 de outubro de 2024, um esforço conjunto da NASA e da Agência Espacial Europeia (ESA) para mapear a superfície da lua e investigar seu oceano oculto. A missão, que deverá entrar na orbita de Júpiter somente em 2030, poderá realizar a confirmação necessária da presença da molécula de Luciferina na lua de Júpiter e finalmente comprovar a existência de vida fora do planeta Terra.
Enquanto cientistas do mundo inteiro procuram evidências de vida no universo por meio da identificação de átomos de Carbono e outros biomarcadores, Hugo foi mais ousado e formulou a hipótese da existência de uma substância composta, altamente relacionada à vida biológica como nós a conhecemos. “A ideia inicial era buscar pelos elementos químicos essenciais para a vida – Carbono (C), Hidrogênio (H), Oxigênio (O), Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Enxofre (S) -, porém, quando descobri as características inusitadas do oceano como a combinação de forças de maré, isolamento pelo gelo, presença de sais e possíveis fontes de calor geotérmico, que o permitem permanecer líquido e, potencialmente, hospedar condições adequadas para a vida, além da possibilidade da existência de vida em um ambiente completamente escuro, numa profundidade tremenda, como temos aqui na Terra, tive a ideia de Bioluminescência, que existiria apenas em animais complexos. Então se isso existia, com o tempo essas moléculas poderiam subir para o gelo e serem captadas pelos instrumentos de uma sonda, a Galileo Orbiter”, relatou o pesquisador sobre seu processo criativo no desenvolvimento de seu trabalho.
Uma história de Superação
A descoberta de Hugo foi uma bonita história de dedicação e superação de adversidades, começando com a própria saúde pessoal. Ele decidiu entrar de cabeça na pesquisa científica como forma de enfrentar um câncer, “prometi para mim mesmo que estaria vivo para terminá-la e hoje estou em remissão e a pesquisa finalmente publicada”, comemorou. Ele lidou também com grandes desafios operacionais, pois a intensa radiação de Júpiter causou ruídos e interferência no material, além de se deparar com dificuldades causadas pela baixa resolução espacial e espectral do instrumento. A solução foi desenvolver algoritmos inovadores para limpar os ruídos e destacar padrões sutis.
Hugo é formado em Marketing e tem MBA em Consultoria Empresarial e Pós-Graduação Lato Sensu em Astronomia com Ênfase em Planetologia. Para dar conta de concluir a análise espectral da Lua Europa, ele precisou fazer também uma Pós-Graduação em Ciência de Dados e Big Data Analytcs.
O Artigo Científico foi elaborado por Hugo entre os anos de 2022/2023 como Trabalho de Conclusão dos Cursos da Pós-Graduação em Planetologia e Machine Laerning da Academy Space, Especializações ministradas pelo Professor Doutor Sérgio Sacani Sansevero, formado em geofísica pela USP e doutor em geociências pela UNICAMP, conhecido youtuber responsável pelo Space Today, maior canal de notícias sobre astronomia no Brasil.
Portal Repórter Brasília, Edgar Lisboa