Heitor Schuch (Crédito: Mário Agra, Câmara dos Deputados)
A imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, a partir de 1º de agosto, anunciada pelo presidente Donald Trump, não é apenas uma medida comercial agressiva — é também um gesto político de alta tensão que ultrapassa as barreiras econômicas. O impacto imediato se estende a diversos setores do agronegócio e da indústria nacional, com potencial para comprometer milhares de empregos e contratos de exportação. “Agosto está próximo” alerta o deputado Heitor Schuch (PSB/RS).
Governo seguirá negociando

O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, adiantou que o governo federal seguirá negociando “até o limite do possível”, com o apoio do setor privado. Ele lembrou que, ao contrário da narrativa construída por Trump, o Brasil mantém déficit na balança comercial com os EUA, ou seja, compra mais do que vende.
“Todo mundo sem dormir, diz Schuch”
Entre as vozes mais alarmadas está a do deputado Heitor Schuch, presidente da Comissão de Desenvolvimento do Mercosul. Ele vem ecoando a angústia de produtores brasileiros, especialmente na região do centro do Estado do Rio Grande do Sul, onde o tabaco é uma das principais exportações. “O pessoal perdeu o sono. Daqui a pouco o importador vai dizer que não consegue mais manter as operações. E a gente vai fazer o quê com essa produção?” questiona Schuch.
Sem discurso
O parlamentar critica duramente a incoerência daqueles que, no Brasil, sempre defenderam Trump e o “livre mercado”, mas agora se veem sem discurso. “Esses movimentos jogam contra os próprios aliados dele aqui no Brasil. Quem sempre defendeu o mercado sem regras, agora assiste de camarote à imposição unilateral de barreiras. Isso é anarquia comercial”, desabafa.
Mercosul e Europa no horizonte
O parlamentar gaúcho acredita que o Brasil precisa aproveitar o momento para fortalecer seus laços com outros blocos econômicos. “O Mercosul deve avançar no acordo com a União Europeia ainda neste ano. Há uma demanda dos europeus por diversificação de fornecedores. O Brasil pode e deve ocupar esse espaço”.
Aflição e sensação de abandono
Do lado empresarial, a perplexidade é quase unânime. Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados, classificou como “inconclusiva” a reunião com o governo brasileiro, e se disse surpreso com a ausência de um canal direto com os Estados Unidos. “Estamos na estaca zero”, lamentou.
Congresso reage com senso de urgência
Em rara demonstração de unidade, o Congresso Nacional reagiu com prontidão. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), defende a criação de uma frente nacional para proteger os interesses do país.
Tarifa “inadequada e injusta”
O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, lembrou que os EUA mantêm superávit comercial sobre o Brasil, o que torna a tarifa “inadequada e injusta”. Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, reforçou que o Legislativo dará suporte político e institucional ao governo. “O Parlamento está unido na defesa da soberania e dos empregos dos brasileiros”.
A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.
Edgar Lisboa