Uber: quando o problema não é o trânsito, mas a incerteza

Ilustração, Edgar Lisboa, com recursos de IA

A promessa era de praticidade, agilidade e segurança. Mas, na prática, o que muitos usuários da Uber enfrentam hoje é frustração, demora e descaso. O excesso de cancelamentos por parte dos motoristas tem se tornado rotina em várias cidades brasileiras, especialmente naquelas onde a fiscalização sobre os serviços de transporte por aplicativo ainda é frágil ou quase inexistente.

Um cancelamento isolado, ainda que incômodo, pode até ser compreendido por imprevistos. No entanto, quatro cancelamentos seguidos em um único pedido de corrida beira o absurdo — e não é um caso isolado. É sintoma de um modelo que precisa de correção urgente.

Na tarde desta quarta-feira (16), por volta das 15h44min, solicitamos uma corrida por meio do aplicativo da Uber, no estacionamento em frente ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal, entre o tribunal e o Palácio do Buriti, próximo à fonte. O primeiro motorista, Ernani, após aceitar a corrida e alguns minutos de espera, cancelou. Na sequência, Cleomar também cancelou a viagem, mesmo os passageiros informando por mensagem o local onde se encontravam. Às 16h11min, foi a vez de Patrícia desistir. Depois, Eduardo. Finalmente, após mudarmos o ponto de embarque, embarcamos com Carlos, em um Volkswagen prata. Todas as solicitações foram feitas com pagamento via cartão de crédito, dentro das regras.

E pasmem, os dois primeiros, mesmo tendo aceitado a corrida e não tendo ido até os passageiros, ainda tiveram o direito à parte do valor pago pelo cliente.

O mais alarmante é que, após tantos cancelamentos, o aplicativo simplesmente emitiu a mensagem: “no momento, não há motoristas parceiros disponíveis”. A sensação é de abandono — o oposto do serviço que a plataforma promete oferecer.

A Uber precisa ser responsabilizada por esse desrespeito com os consumidores. É inadmissível que a empresa, que lucra com cada transação, não ofereça mecanismos eficazes para garantir que o usuário não seja penalizado por sucessivas desistências que não são de sua responsabilidade.

Ao mesmo tempo, os motoristas parceiros também merecem atenção. Muitos relatam que o valor recebido por determinadas corridas não compensa os custos — o que, em parte, explica os cancelamentos. No entanto, é dever da plataforma encontrar soluções e não transferir o peso dessa equação desequilibrada para o passageiro.

Cabe às autoridades do Distrito Federal e também federais reguladoras, inclusive, intensificar a fiscalização sobre o funcionamento desses serviços. A mobilidade urbana por aplicativo não pode se transformar em uma roleta russa, onde o passageiro nunca sabe se vai ou não conseguir chegar ao seu destino.

O cidadão merece respeito. E a Uber — assim como os motoristas que aderem à plataforma — deve assumir sua parte de responsabilidade.

Portal Repórter Brasília, Edgar Lisboa

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