Covatti Filho ( Crédito: Zeca Ribeiro, Câmara dos Deputados )
O anúncio da pré-candidatura de Covatti Filho ao governo do Rio Grande do Sul, feito pelo Progressistas, não é apenas mais um lance antecipado no xadrez eleitoral de 2026. Trata-se de um recado claro: o partido está desembarcando, ainda que de forma ensaiada e estratégica, da gestão Eduardo Leite. E o faz ocupando, paradoxalmente, cargos de relevo no próprio governo estadual.
Fim da continuidade?
Ao lançar uma candidatura própria, o Progressistas rompe com a lógica de continuidade representada pelo atual vice-governador Gabriel Souza (MDB). É um movimento que dialoga com uma parcela da sociedade que considera esgotado o modelo tucano de gestão. A crítica implícita é a de que o Rio Grande do Sul segue enfrentando os mesmos problemas estruturais — endividamento, falta de infraestrutura e entraves ao desenvolvimento regional — sem as respostas corajosas que o momento exige.
Rachadura na base de apoio
Para alguns observadores, trata-se de uma rachadura real na base de apoio de Eduardo Leite. E ela vem de dentro. Uma possível candidatura do PP enfraquece a ideia de um terceiro ciclo seguido de governo com o mesmo grupo político.
Cenário de bastidores: vice, alianças e cacifes
Fontes ouvidas indicam que, apesar da pré-candidatura de Covatti Filho, há negociações em curso nos bastidores. Uma das possibilidades ventiladas com força seria a deputada Silvana Covatti, mãe de Covatti Filho, compor como vice de Gabriel Souza. Mas, entre os próprios progressistas, há resistência: MDB e PP são rivais históricos em muitos redutos do interior gaúcho, o que tornaria difícil para prefeitos e lideranças locais pedirem votos conjuntamente.
Vice de Zucco, outro caminho
Outro caminho debatido é a aproximação com o deputado federal Zucco (PL/RS), com o PP indicando o vice em uma eventual chapa com ele. Nada está definido — e o movimento atual pode ser apenas uma forma de Covatti Filho se cacifar, ganhar visibilidade e aumentar seu poder de barganha nas articulações.
Estrutura e força no tabuleiro
A movimentação tem peso porque o clã Covatti é, hoje, uma das famílias mais influentes na estrutura política e administrativa do Estado. Vilson Covatti, pai de Covatti Filho, comanda a Secretaria de Desenvolvimento Rural e, com ela, a poderosa Emater — peça-chave no agro gaúcho. A família também influencia fundações estratégicas, como a Francisco Dornelles, ex-Milton Campos.
Reforçando os caminhos das bases
Além disso, novas peças estão sendo colocadas no tabuleiro: a vereadora de Santa Cruz do Sul, com quem Covatti Filho se casou recentemente, deve disputar vaga na Assembleia. Um irmão da deputada Silvana Covatti também pode sair candidato pela região de Frederico Westphalen. Trata-se de uma articulação bem posicionada e com um “exército” de quadros em formação, do Executivo às bases municipais.
O tabuleiro está montado
O movimento do Progressistas não é isolado — é o início de uma disputa feroz pela hegemonia no Rio Grande do Sul. A pré-candidatura de Covatti Filho, com o peso de uma família influente e um partido com presença regional capilarizada, joga luz sobre o desgaste do atual projeto e antecipa um debate essencial: que tipo de gestão o Estado precisa a partir de 2026?
Contagem regressiva

As peças se movem cedo — e, com elas, o jogo político gaúcho entra numa nova fase. Eduardo Leite, ainda que formalmente no comando, já vê a construção de pontes alternativas entre antigos aliados e caminha, agora, pelo PSD, para tentar subir a rampa do Palácio do planalto ou a uma vaga no Senado da República. O certo é que o relógio da sucessão já está em contagem regressiva.
A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.
Edgar Lisboa