Presidência da Câmara dos Deputados (Por Thiago Esteves)

Estratégias de desistência na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados: o caso de Elmar Nascimento, Marcos Pereira e Antônio Brito

Thiago Esteves

A presidência da Câmara dos Deputados é um dos cargos mais estratégicos na política brasileira, sendo, cada vez mais, um ponto de articulação entre os interesses dos parlamentares e a governabilidade. A partir de um levantamento de dados sobre as eleições desde 1989, uma observação interessante emergiu: nenhum parlamentar que participou de uma disputa pela presidência e perdeu conseguiu ser eleito para o cargo em uma eleição posterior. Isso se estende inclusive a três ex-presidentes da Câmara que, ao postularem novamente, também não conseguiram viabilizar uma candidatura vencedora após uma derrota. Esse fato alimenta a hipótese de que, uma vez não eleitos, esses candidatos podem sofrer um desgaste de seu capital político, prejudicando suas chances futuras tanto dentro do partido quanto em alianças com outros grupos parlamentares.

Neste artigo, proponho explorar essa hipótese à luz das recentes decisões dos influentes deputados Elmar Nascimento, Marcos Pereira e Antônio Brito de desistirem de suas candidaturas para a presidência da Câmara na próxima eleição. A retirada desses nomes da disputa ilustra como a percepção de inviabilidade de vitória pode influenciar a decisão de não avançar com uma candidatura, preservando o capital político e evitando a erosão de apoio interno, tanto por parte de seus respectivos partidos quanto dos grupos suprapartidários sobre os quais os potenciais candidatos têm ascendência.

A hipótese do esgotamento de capital político

O capital político dos deputados se constrói, ao longo da carreira, por meio da mobilização dos recursos simbólicos que cada político tem disponível, a partir da construção de alianças, por meio de negociações e do reconhecimento de sua capacidade de liderança e articulação. 

A despeito das estratégias e arranjos individuais que cada um dos interessados pode mobilizar para ter sucesso na carreira, não se pode desconsiderar, por evidente, o impacto das estratégias de seus concorrentes, que podem possuir menos ou mais recursos a mobilizar, as regras que moldam o comportamento dos concorrentes, além das estruturas institucionais, como os partidos políticos, sistemas eleitorais e as burocracias estatais.

Acumular capital político e convertê-lo em uma eleição para o cargo de presidente da Câmara dos Deputados são circunstâncias distintas. Encontrar o momento oportuno para tentar converter esse capital em uma vitória eleitoral é essencial para garantir um resultado positivo. Caso contrário, há o risco de que o capital político seja desgastado ou desperdiçado.

Assim, uma derrota em uma eleição para a presidência da Câmara pode representar uma perda significativa desse capital. Isso acontece porque a eleição envolve negociações intensas com diferentes blocos partidários, que passam a apostar em novas lideranças após uma derrota. Por isso, se por um lado, o agente político acumular capital político, das mais diversas espécies, é uma condição necessária para garantir a sua participação em um pleito para o cargo de presidente da Câmara dos Deputados, por outro, a mera acumulação de capital não é condição suficiente para obter o resultado esperado.

Entre 1989 e 2023, 44 deputados disputaram e não saíram vencedores das eleições para a presidência da Câmara dos Deputados. Após a primeira derrota, nenhum deles conseguiu viabilizar uma candidatura vencedora em eleições subsequentes.

Destes 44 parlamentares 11 chegaram a colocar nomes na disputa novamente, foram eles Sandro Mabel, Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira, Chico Alencar, Júlio Delgado, Luiza Erundina, Esperidião Amin, Fábio Ramalho e Marcel van Hattem e General Peternelli. 

Os demais parlamentares, total de 33, sequer disputaram uma nova eleição para o cargo de presidente, tais como: Paulo Mincarone, Odacir Klein, Haroldo Lima, Wilson Campos, Aloizio Mercadante, Nelson Marquezelli, Valdemar da Costa Neto, Luiz Eduardo Greenhalgh, Virgílio Guimarães e José Thomaz Nonô.

Ainda mais emblemático são os casos de ex-presidentes que, após uma derrota em pleito após o exercício da presidência, não conseguiram retornar ao posto, como Inocêncio Oliveira, derrotado em 2001 e Aldo Rebelo, derrotado em 2007 e 2009.

Desistências estratégicas: Elmar Nascimento, Marcos Pereira e Antônio Brito

Talvez por isso a desistência de candidaturas à presidência da Câmara tem se tornado uma estratégia comum entre parlamentares que percebem a inviabilidade de uma vitória. Esta estratégia visa evitar o desgaste político de uma derrota formal, mantendo intacta a capacidade de articulação para futuras disputas ou negociações importantes.

Dessa forma, as ainda não confirmadas desistências dos deputados Elmar Nascimento e Antônio Brito, que se juntariam a Marcos Pereira, parecem ser estratégicas, alinhadas à preservação de capital político. Conforme os dados indicam, uma derrota formal tende a enfraquecer significativamente esse capital.

Um exemplo recente de desistência bem-sucedida é o caso de Arthur Lira. Em 2019, o atual presidente da Câmara dos Deputados optou por não enfrentar o então presidente Rodrigo Maia, que concorria à reeleição e era, aquela altura, um candidato já consolidado.  Essa decisão pode ser interpretada como uma estratégia de preservação de capital político e, consequentemente, pode ter permitido que Lira articulasse com sucesso sua candidatura vencedora em 2021.

Considerações finais

A desistência de candidaturas à presidência da Câmara dos Deputados tem se mostrado uma estratégia eficaz para evitar o desgaste político associado à derrota. Os deputados Elmar Nascimento e Antônio Brito, ao que tudo indica retirarem suas candidaturas, assim como fez o deputado Marcos Pereira, estão conscientes de que uma derrota poderia prejudicar suas chances em futuras articulações políticas e enfraquecer seu capital político dentro de seus respectivos partidos e na Câmara como um todo.

A decisão de desistir, portanto, pode ser vista como uma forma de preservar não apenas as chances de uma futura candidatura, mas também de manter o prestígio e o poder de influência em outras esferas dentro da Câmara, preservando, assim, seu futuro político em um cenário onde o desgaste de uma derrota pode ser irrecuperável.

Lista dos parlamentares que concorreram à eleição e não se saíram vencedores

Concorrente                                     Número de Participações
Chico Alencar4
Jair Bolsonaro4
Luiza Erundina3
Fábio Ramalho3
Júlio Delgado3
Marcel van Hattem3
Esperidião Amin2
Sandro Mabel2
Ciro Nogueira2
Rogério Rosso1
Carlos Manato1
Carlos Gaguim1
Marcelo Castro1
Paulo Mincarone1
Cristiane Brasil1
Jovair Arantes1
André Figueiredo1
Marcelo Freixo1
JHC1
Ricardo Barros1
General Peternelli1
Baleia Rossi1
André Janones1
Kim Kataguiri1
Orlando Silva1
Arlindo Chinaglia1
Giacobo1
Miro Teixeira1
Odacir Klein1
Haroldo Lima1
Wilson Campos1
Prisco Vianna1
Aloizio Mercadante1
Nelson Marquezelli1
Valdemar da Costa Neto1
Luiz Eduardo Greenhalgh1
Virgílio Guimarães1
José Carlos Aleluia1
José Thomaz Nonô1
Luiz Antônio Fleury1
Alceu Collares1
Gustavo Fruet1
Rose de Freitas1
Evair de Melo1

Thiago Esteves é mestre em Ciência Política pela Escola da Câmara dos Deputados, Advogado e sócio da Eixo Relações Institucionais.

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