Passados e Futuros, Presentes no Agora (Peniel Pacheco)

Peniel Pacheco/Arquivo Pessoal

Aqueles que viveram nos tempos áureos da carreira do cantor e compositor Roberto Carlos, devem se lembrar do refrão: “Não adianta nem tentar me esquecer. Durante muito tempo em sua vida eu vou viver…”

É realidade insofismável que as marcas do passado nos acompanhem por longos anos. Trazemos, em nossos acervos, memórias vivas de acontecimentos que, de alguma forma, interferiram (e ainda interferem) nos nossos cotidianos.
Lembro-me (olha o passado aí!) de um professor que, ao se apresentar a nós, alunos de história da educação, perguntou: “Quem sou eu?”. Ficamos aturdidos, pois sabíamos quase nada das credenciais daquele recém-chegado mestre. Mas, para nosso alívio e espanto ao mesmo tempo, ele se encarregou de fazer a própria apresentação: “Eu sou o meu passado. A minha história fez de mim o que eu sou agora”.
Durante muito tempo fiquei remoendo esta maneira de ver nossa trajetória de vida. Somos hoje o somatório de tudo que nos aconteceu. Cada encontro, cada palavra, cada gesto, cada acontecimento serviu para provocar, em nós, percepções e reações as quais contribuíram decisivamente para despertar sentimentos, ideias, conceitos, enfim, forjar nosso caráter como pessoas humanas. Somos, portanto, fruto das nossas experiências de vida. Temos muitos passados presentes no agora. Basta abrir os arquivos da alma e percebermos quantas histórias marcantes estão ali guardadas. Histórias essas que se projetaram e desenharam perspectivas por longos anos à nossa frente.
Surge, assim, uma constatação irrefutável: se o presente é construído com os tijolos e a argamassa do passado, de igual modo o futuro se faz embrionariamente presente no agora.
Basta raciocinar que, em breve, os fatos e acontecimentos do presente serão coisas do passado, logo terão o condão de contribuírem significativamente para a definição do nosso futuro.
A grande diferença é que, quanto ao passado, não temos mais poder sobre ele, uma vez que já está consumado, mas, e quanto ao futuro? Podemos imaginar que o terreno ainda está à espera da edificação. Aproveitando a analogia da construção, é preciso reconhecer que podemos definir agora a “planta” do edifício do futuro. Para que isto aconteça, basta aproveitarmos bem as oportunidades e circunstâncias do presente para fincarmos os alicerces do amanhã.
Lembro, agora, do episódio bíblico de Saulo de Tarso, quando ofuscado pela luz divina e confrontado pela voz altissonante do Mestre Jesus, que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Aturdido, Saulo responde: “Quem és, Senhor?”
Relembrando do meu professor que dissera: “Eu sou o meu passado”, poderia deduzir uma resposta que Cristo indiretamente teria dado a Saulo, de acordo com o nosso contexto: “Saulo, eu sou o seu futuro!”
De fato, o passado de Saulo o havia conduzido até aquele momento como fervoroso inimigo da fé cristã, mas, a partir daquele encontro sobrenatural, sua vida deu uma guinada de 180 graus.
Daí podemos inferir o quanto os acontecimentos de agora podem impactar nossa história para sempre.
Talvez não sejamos tão conscientes em relação a tudo isto, porque, na maioria das vezes, nos deixamos conduzir no piloto automático. Lamentavelmente adotamos o refrão de outra música muito tocada ainda hoje: “Deixa a vida me levar, vida leva eu” e nem percebemos a relevância dos acontecimentos, por maiores ou menores que sejam, como matéria-prima indispensável para a construção do nosso futuro.
Dizem que “o futuro a Deus pertence”. Eu diria que, as circunstâncias e oportunidades são permitidas por Deus, mas o futuro depende de como vamos aproveitá-las da melhor maneira possível para a construção do nosso por vir.
Como no dizer do sábio Salomão: “Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens nunca segará” (Eclesiastes 11:4)
Peniel Pacheco é ex-deputado distrital, professor de teologia e Mestre em Ciências da Educação.

4 Comentários

  1. MARIA TERESINHA LOURENCO PINEIRO

    “…podemos definir agora a “planta” do edifício do futuro. ”
    Excelente leitura e que proporciona uma reflexão sobre autoconhecimento, pois sou a soma do meu passado e das minhas escolhas.
    Parabéns Peniel Pacheco, por abordar um tema tão interessante e inteligente!

  2. Querido Peniel, mais uma vez você traz um bom impacto a nossa vida com o “jogar de suas palavras”, como num Jogo de Xadrez. Eu entendi que para obter a vitória neste “jogo da vida”, temos que usar as palavras e memórias do passado como base da construção do nosso presente, para termos uma boa qualidade de vida no futuro. Que a Palavra de Deus, continue sendo o ingrediente principal do alicerce das tuas palavras. Aguardamos com boa expectativa a sua próxima “jogada de palavras”. Thank you, my friend!

  3. Meu nobre amigo, manejador habilidoso das palavras, o presente é, fato, um “presente” onde nós construímos; o tempo é senhor da razão e da emoção. Parabéns!

  4. Meu querido amigo Peniel, você é grandioso em suas colocações e, nos faz voltar no tempo, analisar o presente, onde erramos, acertamos e o que podemos fazer para um futuro de paz e harmonia com nossa consciência. Deus continue te iluminando e que você sempre nos traga luz. Abraços.

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