
Nas palavras do psiquiatra suíço Paul Tournier em seu livro “Mitos e Neuroses” (2002, p. 39): “O que une os homens não é o que produzem, mas as verdades eternas que só podem assimilar, geração após geração, por meio do coração”. Que desafio assustador, dar ao homem moderno este sentido!
Percebo em minha experiência como educador e terapeuta, uma tendência a repressão do espiritual. Mas não vamos nos enganar, o que é reprimido reaparece em outro lugar, com uma outra forma, como por exemplo, na própria ciência. Como nos diria a sabedoria bíblica: “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fim” (Eclesiastes 3:11). Há uma sede por eternidade em que só o que é eterno pode preencher.
Há uma superstição da ciência, dos medicamentos quase milagrosos, dos cosméticos, da técnica, da promessa do prolongamento da vida biológica, do progresso dentre outras “profecias”. A repressão do espiritual não é só uma questão religiosa, nas palavras de Byung-Chul Han (2017, p.44) em seu livro Sociedade do Cansaço: “A perda moderna da fé, que não diz respeito apenas a Deus e ao além, mas à própria realidade, torna a vida humana radicalmente transitória, Jamais foi tão transitória como hoje”.
Vamos aprendendo a lidar com os nossos vazios de diversas formas, alguns até já se acostumaram com a amargura desiludida em relação ao homem e à existência, seguindo numa Infinita Highway como na provocante canção da banda Engenheiros do Hawaii:
Ninguém por perto, silêncio no deserto
Deserta highway
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e isto é tudo
É sobretudo a lei
Da infinita Highway
Vamos nos refugiando em nossas bolhas, como no fanatismo sectário ou no cinismo cético. Citando novamente Tournier (2002, p.41): “A tolerância é patrimônio das verdadeiras convicções”. Observe como estamos nos tornando, cada vez mais, seres bélicos, briguentos, birrentos etc. E quanto mais convictos somos de algo, mais intolerantes vamos nos tornando, a intolerância vai do grupo de whatsapp da família ao ambiente de trabalho.
A grande verdade existencial à luz das Escrituras, é de que o homem continua sedento e com uma fome insaciável e desconhecendo as suas verdadeiras necessidades. Nas palavras da psicanalista Rita Manso (2023): “Não se pode viver sem o vazio, mas tenta-se preencher o vazio com inúmeros objetos do mundo, pois, em sua indagação: ‘Há algo pior do que estar vazio de vazios?’”. E por falar em Infinita Highway, será que o nosso motor aguenta?
Referências:
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço; tradução de Enio Paulo Giachini. 2ª edição ampliada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
SUY, Ana. Não pise no meu vazio. São Paulo: Planeta do Brasil, 2023.
TOURNIER, Paul. Mitos e neuroses: desarmonia da vida moderna. Tradução de Yara Tenório da Motta. São Paulo: ABU Editora: Viçosa: Ultimato, 2002.
Júnior Sipauba é professor, escritor, teólogo, psicanalista, matemático e mestre em taekwondo.