“O animal está sob o tempo. Para ele não há ontem nem amanhã. (…) Para Deus também não existe tempo porque ele está sobre o tempo. O homem, ao contrário, está no tempo e abre uma janela no tempo: dimensiona-se, tem consciência de um ontem e de um amanhã.” (Paulo Freire)
Atenção passageiros e passageiras da nave espacial Terra! Esta é a chamada para o voo número 2024 E.C., uma nova viagem ao redor do Sol. A viagem terá a duração de 365 dias e seis horas, aproximadamente. O plano de voo pelo espaço interplanetário já foi traçado, e a força da gravidade garantirá a manutenção da nave em sua trajetória, a uma distância segura do Sol para que a vida na Terra seja preservada. Se não houver alguma catástrofe espacial, e se os humanos não destruírem a nave, chegaremos com segurança ao nosso destino daqui a um ano.
Informamos que a velocidade da nave nessa viagem ao redor do Sol será de, aproximadamente, 107.000 quilômetros por hora. E, para garantir dias e noites para trabalhar e descansar, a nave estará girando sobre si mesma a uma velocidade de 1.700 quilômetros por hora. Mas não se preocupem: esses movimentos não serão percebidos pelos viajantes. Ninguém ficará tonto nem terá enjoos por causa disso. E não tentem ir até a borda da Terra para conferir esses fatos: por ter uma forma arredondada, a Terra não tem bordas. Não viajem na maionese da “Terra plana”.
Para melhor aproveitar a viagem, recomenda-se que façam uma reciclagem em sua bagagem. Livrem-se do ódio, do medo e do egoísmo e abram espaço em suas malas para a paz, para a esperança e para a solidariedade. Um pouco de fé também é recomendável. Fé em Deus e/ou na vida, desde que essa fé seja utilizada para ajudar os outros viajantes, para que a viagem seja melhor para todos. E não esqueçam de colocar nas mochilas uma boa quantidade de tolerância e respeito para com os que pensam ou são diferentes. Assim, a convivência nesta nave será mais harmoniosa e a viagem será mais tranquila.
O que fazer com o tempo de duração da viagem? Boa pergunta! Desde o início dos tempos, essa é uma preocupação dos viajantes desta nave. Para não perder tempo, nem se perder no tempo, nossos ancestrais inventaram os calendários. Observando os fenômenos climáticos e os movimentos dos corpos celestes, dividiram o tempo em unidades contáveis: anos, meses e dias. Outros o dividiram em unidades ainda menores: horas, minutos e segundos. Desse modo, foi possível controlar o tempo para utilizá-lo mais eficazmente.
Ainda assim, lidar com o tempo continua sendo um desafio, não é mesmo? Como aproveitá-lo melhor? Um livro antigo, chamado Bíblia, tem várias diretrizes interessantes sobre a questão. Duas delas são: ter consciência de que o nosso tempo é finito (Salmo 90) e aproveitar bem cada oportunidade (Carta aos Efésios, cap. 5). Mas outros livros também têm boas orientações sobre o assunto, e muitos deles são inteiramente dedicados ao tema. Esses livros estão à disposição nas bibliotecas e livrarias da nave. Aliás, ler pode ser uma das atividades mais gratificantes desta viagem.
Por fim, chamamos a atenção para o cuidado com a própria nave. Afinal, é nela que passamos toda a nossa vida nessas viagens através do espaço. Como sabemos, nosso planeta é um minúsculo ponto a navegar no incomensurável espaço sideral. Mesmo assim, é o único lugar conhecido na imensidão do universo que possui as condições para a existência da vida. Vida que tem uma enorme variedade de formas, todas elas preciosas e dependentes umas das outras. Mas, os recursos da Terra não são inesgotáveis, e se essas condições forem alteradas muitas formas de vida podem desaparecer, como já tem acontecido com algumas. Manter a nossa nave bem cuidada é dever de todos os viajantes. Somente assim ela poderá continuar a oferecer um bom ambiente para as viagens das futuras gerações.
No mais, que o voo 2024 E.C. seja uma feliz viagem!
Paulo José Corrêa é mestre em Direito e pós-graduado em Letras.