Encerra-se neste dia 8 o prazo para que jovens de 16 e 17 anos possam se habilitar como eleitores para as eleições municipais deste ano. Até janeiro, o TSE informou que houve um aumento de mais de 14% de inscritos em relação às últimas eleições municipais, embora esse número seja ainda bem baixo quando comparamos com as eleições de 2012 e 2016. Da mesma forma, quando se analisa o engajamento de novos eleitores em relação a eleições nacionais, há uma queda bem acentuada. Por exemplo: nas eleições presidenciais de 2022, houve um aumento de mais de 50% de eleitores jovens em relação ao último pleito nacional de 2018. Mas então, para essa eleição de 2024, o número cai novamente, ficando próximo dos números anteriores a 2022. Enfim, há uma gangorra de cresce e diminui que vai acompanhando o maior ou menor engajamento dos jovens, mais atentos às polarizações nacionais do que a escolha dos líderes locais e, particularmente, dos vereadores, cujo conhecimento sobre o que fazem e que importância têm é muito pequena nessa faixa de idade.
A razão principal para esse desinteresse é óbvia: o conhecimento sobre como a nossa Democracia funciona, como está estruturada no nosso tipo de Estado federativo e no exercício do poder tripartido não é conteúdo escolar, não cai em prova, não é tema de vestibular, e, por isso, não desperta a atenção dos jovens. Mesmo com o maior envolvimento por conta da polarização dos últimos anos, a compreensão do que é função de cada esfera de poder é muito pequena. Os jovens de 16, 17 anos têm grande dificuldade de saber sequer como ocorre a eleição, majoritária para prefeito e proporcional para vereadores. Sabem menos ainda sobre as confederações partidárias e sobre o que significa um voto de legenda. O cálculo das sobras e a definição final do número de cadeiras por partido é, para eles (e para quase todos nós!) um mistério insondável. Restam as redes sociais, os candidatos midiáticos, cada vez mais focados em gerar likes com manifestações bombásticas, as famosas “lacrações”, do que explicar o papel que exercerão e a influência que podem ter para melhorar a vida dos cidadãos. Nesse exato momento, por exemplo, é interessante verificar quais parlamentares votaram por verbas e por projetos para a prevenção contra as cheias dos rios, a construção de barragens, a proibição do desmatamento das áreas ciliares, a prevenção das encostas dos morros, incluindo a remoção planejada da população que ocupa essas áreas perigosas. Mas como os jovens podem ter acesso a esses dados? Ou, dizendo melhor: por que esses jovens buscariam informações sobre esses dados? Como esses temas políticos – no sentido de cuidado com a polis, nosso lugar de vivência e trabalho – poderiam engajar os jovens dessa faixa etária a ponto deles perceberem o papel fundamental que desempenham na escolha de representantes realmente preparados e comprometidos com a melhoria da cidade?
Temas como aborto, pena de morte, casamento gay, ingerência do STF, viagens internacionais do presidente e até sobre a ação da Polícia Militar geram forte interação nas redes sociais, mas não fazem parte das atribuições dos vereadores e do prefeito e, portanto, saber o que eles pensam ou não sobre isso não altera em nada o que eles são ou não são capazes de fazer nos cargos para os quais vamos elege-los em outubro próximo, como, por exemplo, a responsabilidade municipal em relação aos alagamentos provenientes das chuvas, para permanecermos no exemplo mais triste e visível dos últimos dias.
Possivelmente, nada mais impactante poderá ser feito para rompermos a barreira baixíssima de participação dos jovens nas próximas eleições, a despeito do pequeno aumento verificado em relação ao último pleito. Resta-nos refletir sobre que tipo de eleitores esses jovens serão nas eleições de 2026, quando o voto para eles será obrigatório. E fica uma última pergunta: o voto obrigatório implica dizer voto mais consciente?
É esperar para ver.
*Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor no Curso Positivo.