Hoje é o Dia da Bíblia. Desde 1549, na Inglaterra, um dia foi destinado para honrar este livro que, para os que o amam, é a palavra de Deus. No Brasil, este dia passou a ser comemorado no segundo domingo de dezembro desde 1850 em homenagem ao aniversário de João Ferreira de Almeida, missionário português protestante tradutor deste livro para a língua portuguesa.
O apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, afirma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3.16). Isso quer dizer que nada nela está escrito sem que tenha um propósito divino de ensinar alguma lição, algum princípio, algo ao ser humano.
Nela, temos várias histórias, vários personagens, vários exemplos a serem seguidos e vários a não serem seguidos. Nela, temos narrativas, descrições e dissertações. Uma das mais belas narrativas nela registrada é a que nos conta a história de José, filho de Jacó, mais conhecido como José do Egito.
É uma das maiores histórias bíblicas. Ela toma treze capítulos do primeiro livro da Bíblia, Gênesis, que tem cinquenta capítulos. Desta forma, sua história ocupa quase trinta por cento do livro.
Há muito a se aprender na história de José. Aqui vamos pegar o recorte que está no capítulo 41, versos 50 a 52 que nos informa que ele teve dois filhos. Ao primeiro, ele deu o nome de Manassés e, ao segundo, de Efraim.
José tinha onze irmãos e uma irmã. Com 17 anos, foi vendido por seus irmãos a uns comerciantes de animais e escravos. Seus irmãos queriam, mesmo, matá-lo, mas resolveram vendê-lo.
Vendido, foi levado para o Egito. Lá foi comprado por um homem de posses chamado Potifar o qual logo reconheceu que ele não era um qualquer. Ele tinha brilho e, por isso, chamava a atenção. Era um jovem temente a Deus e Deus estava com ele. Por isso, logo ele passou a administrar a casa de seu senhor. Estava indo bem, apesar de estar longe dos seus e sendo escravo.
A mulher de Potifar começou a desejá-lo. Ele, por temer a Deus e honrar seu senhor, não quis nada com ela. Ela, então, levantou um falso contra ele e ele foi parar na prisão. Ficou em uma carceragem especial, a dos presos do rei. Era uma prisão especial, mas era uma prisão. Se sua situação já não era confortável no Egito, agora ficou muito pior.
Na prisão, porque Deus estava com ele, logo o responsável por aquela masmorra viu que ele não era um qualquer. Viu nele brilho e, por isso, colocou-o como seu ajudante imediato na administração do local. Não sabemos quantos anos ele ficou preso. Sabemos que, dois anos após interpretar o sonho do copeiro-chefe do rei, ele ainda estava lá. Parecia que estava esquecido não só do copeiro mas também por Deus.
Em uma noite, Faraó, o mandatário supremo do Egito, sonhou dois sonhos intrigantes. Ninguém os podia interpretar. Só José que, uma vez os interpretando, foi elevado da prisão a segundo maior mandatário do Egito. Agora ele estava no cume do monte.
José havia passado pelos dois lugares nos quais toda pessoa revela o que tem dentro de si, quem é ela de fato e de verdade: no rasteiro e no elevado, no vale e na montanha. Quer saber o que uma pessoa tem dentro de si? Deixe-a na lama por um bom tempo ou dê a ela poder. O filho querido de Jacó ficou 13 anos na lama e 80 no poder. Superou a lama e avançou na vida.
O nome de seus filhos diz muito de José. Manassés quer dizer “esquecer” (Ele disse: Deus me fez esquecer de todos os meus trabalhos e de toda a casa de meu pai – Gn 41.51) e Efraim, “frutificar” (Ele disse: Deus me fez próspero na terra da minha aflição – Gn 41.52).
José sabia que alimentar mágoas e rancores não ajuda em nada. Aquele trauma não deveria congelá-lo, não deveria estragar seu presente e muito menos tirar-lhe as perspectivas de futuro. Poderia, mas não deveria.
Ele sabia que se revoltar contra seus irmãos não resolveria problema algum. Foi por isso que, estando no poder, reencontrando-se com seus irmãos, não quis deles se vingar. Pelo contrário, algum tempo depois, beijou-os com ardente amor de irmão.
Ele sabia que Deus estava com ele e comandava sua existência. Isso bastava porque ele sabia que não estava jogado, abandonado, à mercê de sua própria sorte ou à disposição do infortúnio. Ter bens e glórias é bom, entretanto, incomparavelmente, melhor é ter a companhia do ser que pode – se quiser – dar-nos todas as coisas.
Ele sabia que Deus é a maior posse, a verdadeira riqueza, a eterna glória. O resto é o resto. Chegou aonde chegou não porque buscou aquilo a ferro e fogo, derrubando um, puxando o tapete de outro e por aí afora. Os sonhos que tivera, na verdade, não eram dele. Eram de Deus para ele.
Todavia, ele sabia que, para frutificar, precisaria esquecer seu passado. Não no sentido de fazer de conta que não aconteceu. É impossível apagarmos os fatos que aconteceram em nossa vida. De alguns, nosso consciente se esquece, porém nosso inconsciente – que tudo registra com todos os detalhes – jamais esquece. Principalmente os que nos fazem sofrer.
Ele sabia que Efraim só poderia nascer depois de Manassés. Para que ele frutificasse, precisaria livrar-se das marcas negativas de seu passado. Algumas pessoas querem inverter esta ordem e não dá certo. Pode até parecer que deu certo, mas a própria pessoa sabe que não dá certo. Ela pode estar externamente realizada, mas internamente fracassada. Ela pode estar cheia por fora e vazia por dentro. A realidade da vida é que, sem Manassés, Efraim tem dificuldade para nascer. Sem resolver o passado, o presente é um sofrimento e o futuro é muito duvidoso.
José conseguiu esquecer seu passado e frutificar por seu perfil e com a ajuda divina. Com algumas pessoas acontece assim. Com outras, um profissional (terapeuta, conselheiro, psicólogo…) precisa ser acionado.
Estamos finalizando mais um ano. Já, já, 2023 já era. Esta é uma excelente oportunidade para ajustarmos nossas contas com nosso passado nos curando de marcas e traumas emocionais para termos um Natal em que Jesus viva e reine em nossa vida e para que o Ano Novo seja realmente novo em todos os sentidos. Para que isso aconteça de fato e com o máximo de possibilidade, Manassés precisa abrir as portas para Efraim.
Feliz Natal e um verdadeiro Novo Ano!
Josué Silva é professor, pastor, teólogo, escritor, terapeuta de resultados (TRG) e membro da Academia Evangélica de Letras do Distrito Federal.
Um bom presente de Natal pra mim, ler Josué Silva, meu professor.
Um fato antigo sob uma visão nova: a história de José, que foi do Egito por fora sem jamais deixar de ser, por dentro, hebreu, vista por Josué Silva, um homem que ama mais a luz do que a trevas.
Abraço.