Escombros – O Discurso da Utopia! (Judson Santos)

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Judson Santos/Divulgação

O diretor da Escola Estadual anuncia:

— Declaro aberta a “Semana de conscientização contra a violência” organizada pelos professores e alunos do terceiro ano do ensino médio desta escola.
Nos banheiros, os alunos se vestem conforme os personagens das esquetes.
O grupo Escombros, liderado pela aluna Rosalva, é avisado que será o primeiro a apresentar. A Rosalva fará o papel da Utopia, advogada de defesa da paz mundial. Olavo é o juiz. O Carlinhos pesquisou as guerras para compor a base do texto da peça.
Antes da apresentação, Olavo leva uma bem humorada bronca da Rosalva:
— Cadê a sua toga?
— Fui em várias lojas. Não encontrei toga para vender.
— Por causa disso você trouxe a sua capa de Batman?
O diretor pede silêncio no auditório. A supervisora da Escola anuncia:
— O primeiro grupo traz um interessante protesto contra as guerras na Terra. O tema escolhido para a esquete: Escombros – O Discurso da Utopia! Façam silêncio. Vai começar a primeira apresentação!
Olavo ignora os risos da sua capa, e bate o martelo:
— Senhoras e senhores desse egrégio Tribunal!
Convido a Utopia para assumir o púlpito e defender a paz no mundo!
Antes do discurso, a Rosalva explica aos alunos que, Utopia, personagem na esquete, é uma personificação ou figura de linguagem para ilustrar e provocar reflexões. Ela ajeita melhor o microfone e inicia o discurso:
— Meritíssimo juiz Olavo! Digníssimos professores e alunos da Escola Estadual, boa noite!
As últimas palavras de Cristo foram: “Deixo para vocês a paz”. Gandhi defendeu a ideia da resistência pacífica.
Infelizmente, cinco guerras continuam ativas no mundo:
1. Israel X Hamas
2. Azerbaidjão X Armênia
3. Rússia X Ucrânia
4. Guerra da Síria
5. Guerra civil no Iêmen
Porém, o conflito mais sangrento da história aconteceu em 1939, quando a Alemanha invadiu a Polônia. Morreram 80 milhões de pessoas, aproximadamente.
As armas de longo alcance cuspiram ódio, e tombaram milhões de corpos inocentes. No avanço da tecnologia, mísseis com precisão milimétrica cruzam os céus em busca de seus alvos e os encontram.
Na linha de frente das guerras, os jovens sonhavam com um belo futuro. Os planos foram interrompidos, mortos sob escombros.
Até quando a violência prevalecerá sobre a paz? Em defesa da pátria? Defender a pátria não reduz em matar e morrer. Existem opções, em outras direções. Onde está a honra no sangue derramado dos nossos irmãos? Não merece medalhas no peito quem cultua a morte como vitória. Falsa honra, falso heroísmo! Proponho varrermos as guerras do mundo!
A partir de hoje não haverá guerra no planeta Terra!
No auditório, as primeiras tímidas palmas. A Utopia continua:
Nas tolices dos conflitos, o mais forte não está na selva; está no lucro. Grandes fortunas têm suas origens nas guerras que se (retro) financiam — um ciclo vicioso e ganancioso.
A Bíblia diz: “Diga o fraco: Eu sou forte!” Quem é o forte? Quem mata? Ou quem lucra?
Ninguém é forte quando aponta como alvo crianças e idosos. Nenhuma pessoa é fraca para dizer não para a estupidez.
Exigir bom senso do ser humano insensível não é perder tempo. Insista! A insistência no bom senso enfraquece a resistência do insensato.
O ser humano não é um promotor de soluções. É incapaz de pensar no bem-estar para o próximo.
Senhoras e senhores! Alunas e alunos! A região mais perigosa do mundo é o Oriente Médio. Nos últimos dias, o Irã avançou com força contra Israel. Antes disso, Israel atacou o Hamas. Durante mais de dois mil anos, os conflitos naquela região são corriqueiros. Não cabe, aqui, apontar culpados nem eleger inocentes.
Paz ao povo palestino? Cristãos devem apoiar os palestinos? Sim! E por que não? Ninguém se torna menos cristão ao expor opinião favorável ao reconhecimento. Cristo teria a mesma atitude do bom samaritano para com os palestinos feridos.
Já estou caminhando para o encerramento.
O confronto entre os países Ucrânia e Rússia colocou o mundo sob tensão. Os misseis cruzaram os céus da Crimeia. A Ucrânia está sob escombros.
O mundo espera entendimentos que levem aos acordos de paz.
O escritor inglês, Edward Bulwer, disse: “A caneta é mais poderosa que a espada.”. Considerem também, a efemeridade do papel que se deteriora com o passar do tempo. E o tempo passa muito rápido! O mundo tem pressa! É na lentidão das decisões que perdemos as oportunidades.
Não posso esquecer de dizer que a fé é um direito sagrado da humanidade. Isso é indiscutível. Mas.. Haja paz! Somente em Jerusalém? Haja paz dentro de seus muros, sim, como também, além dos muros. O “ide por todo o mundo” de Cristo é a pura caminhada para semear a paz. Que haja salvação e paz no mundo! Em Jerusalém, como também na Crimeia, Moscou, Teerã, Oriente Médio. Paz no mundo!
Lutemos por uma paz duradoura. Isto é uma utopia? Se a paz ampla é utopia ou não, isto não importa. Lute por ela!
Senhoras e senhores, a paz é possível, sim, começando nos lares. Façamos oposição contra o feminicídio. Proponho usarmos as armas do acolhimento contra as drogas. Nas ruas, o desarmamento da delinquência exige planejamento inteligente; uma luta permanente. As mudanças ocorrem gradualmente.
O racismo é uma vergonha! Outras agressões aos alunos têm mostrado a nossa incompetência em conviver com os diferentes. As grandes tragédias nas escolas são reflexos da incompetência com o descaso.
A aluna Rosalva finaliza:
Na Bíblia, quando o anjo disse “Paz na Terra”, significa que a paz é semeada no chão onde cada um pisa. Se os homens tiverem boa vontade, a paz é semeada, nascerá a esperança, crescerá o bom senso. E os números das guerras serão outros. As famílias e escolas se fortalecerão em sabedoria.
Nas pequenas atitudes de paz, cumprem-se os nobres propósitos da vida.
Boa noite!
O juiz Olavo tira a capa do Batman. Bate o martelo e diz:
— Está encerrada a sessão!
Todos aplaudem demoradamente.
Judson Santos é Escritor e Professor.

Um Comentário

  1. Paulo José Corrêa

    Muito criativo e uma excelente reflexão!

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