Há uma escalada retórica entre Lula, Trump e os extremos no Congresso. A polarização se agrava com tarifa dos EUA, e Congresso precisa defender soberania com equilíbrio e diálogo. Na última semana antes do recesso parlamentar, o clima na Câmara dos Deputados esquentou como raras vezes se viu em 2025. O motivo: a taxação de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros. O gesto gerou reações inflamadas, acentuou a já crônica polarização entre “lulistas e bolsonaristas”, e colocou mais uma vez a diplomacia brasileira diante de um teste delicado.
Acusações mútuas

No plenário, a deputada Maria do Rosário (PT/RS) fez um duro pronunciamento. Para ela, Trump utiliza a tarifação como uma forma de chantagem política, interferindo diretamente nos assuntos internos do Brasil ao agir em defesa de Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe. Em tom de indignação, acusou parlamentares da direita gaúcha de se calarem diante de uma ação que já começa a afetar a economia regional — mencionando inclusive o cancelamento de embarques no Porto de Rio Grande.
Indignação e ameaças

Do outro lado, o deputado bolsonarista Gilson Fahur (PSD/PR) reagiu com veemência. Embora tenha negado comemoração pela tarifação, culpou diretamente o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes pelo suposto “conflito diplomático”, acusando o governo de atacar Trump, apoiar grupos terroristas e desrespeitar a Constituição. O discurso, carregado de ameaças, elevou ainda mais o tom da crise.
Responsabilidade institucional

Em meio a esse embate, uma voz diferente se destacou. O deputado Ronaldo Nogueira (Republicanos/RS), ex-ministro do Trabalho, protocolou um requerimento para a criação de uma Comissão Externa com o objetivo de intermediar a questão tarifária. Propôs um caminho diplomático: abrir diálogo com o governo brasileiro, buscar interlocução com o Congresso norte-americano e trabalhar por uma solução negociada. A iniciativa contrasta com a retórica incendiária de alguns parlamentares e pode representar uma via institucional madura diante da crise.
Soberania sim, submissão jamais
O presidente Lula tem reafirmado a necessidade de manter a soberania do Brasil e não se curvar a pressões externas. Isso não significa confrontar países aliados, mas sim adotar uma diplomacia altiva, sem submissão — como tem sido a tradição brasileira desde a redemocratização. A linguagem do Brasil, como destacou Maria do Rosário, deve continuar sendo a da paz, do comércio justo, da cultura e do respeito entre os povos.
Preservar o Brasil acima das disputas
A polarização, que se aprofundou nas eleições de 2018, recrudesceu em 2022 e agora volta a ganhar força, ameaça contaminar novamente os espaços de debate institucional. Deputados e senadores precisam lembrar que seu papel não é alimentar ódios, mas construir pontes. O Brasil precisa de um pacto nacional pela responsabilidade diplomática, econômica e política.
Respeito aos valores democráticos
É hora de reafirmar que o Brasil não aceitará ingerências, mas também não cederá à tentação do isolamento ou da bravata. Diálogo com firmeza, defesa dos interesses nacionais e respeito aos valores democráticos devem ser os pilares da resposta brasileira.
A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.
Edgar Lisboa