Imagine a cena: uma criança acaba de nascer! Os pais presenciam aqueles momentos de suspense e emoção, acompanhando cada etapa dos procedimentos médicos que se sucedem. A partir do instante em que o bebê está protegido e cuidado, todo enroladinho numa mantinha, a expectativa e a apreensão de todos ficam para trás e acontece algo mágico, que é privilégio apenas do ser humano: um olhar fixo, uma contemplação demorada, um sorriso de orelha a orelha, e talvez algumas lágrimas de alegria são derramadas em homenagem ao mais novo morador do nosso planeta.
O sentido etimológico da palavra contemplar, deriva de _contemplatio_ cuja raiz é a mesma do termo _templum_, que é uma parte de um local ou um edifício destinado à adoração.
Na filosofia, a expressão ganha uma conotação mais ampla cujo sentido está no “pensamento reflexivo e na busca do conhecimento e sabedoria”.
Já segundo a Wikipedia, contemplar tem dois significados: o primeiro é o coloquial, informal, descrito como “admirar e pensar sobre alguma coisa”.
Vamos falar sobre situações relacionadas ao primeiro sentido e mais adiante trataremos do segundo.
Há um tempo, eu e minha esposa conhecemos o Alaska, o maior estado em extensão territorial dos Estados Unidos da América. Além de ser uma região com a mais baixa densidade demográfica daquele país, é um território que está fora do continente e foi comprado da Rússia em 1867. O seu apelido é “a última fronteira”.
Pois bem! Fizemos um lindo passeio de helicóptero saindo do aeroporto de Juneau, a capital, com a finalidade de admirar toda a beleza daquele mundo de gelo e desembarcar no Glaciar Dawes. Quando atingimos uma grande altitude, lá do alto só conseguíamos ver montanhas e vales cobertos de neve. Confesso que não consegui conter a emoção! Um enorme sentimento de gratidão e a visão daquela imensidão toda me fez compreender que somos tão pequenos diante de uma tão grande perfeição da natureza. Por um bom tempo fiquei pensando e contemplando sobre as maravilhas do nosso Criador.
Em se tratando de contemplação, é fato que, no mundo todo, uma quantia exorbitante é investida na idealização de museus e na organização de inúmeras mostras de obras de arte. Milhares, senão milhões de fãs e admiradores são capazes de pagar fortunas para adquiri-las ou ver de pertinho telas ou esculturas de mestres que se esmeraram em produzir algo extremamente belo, que cativam nossa atenção e aguçam o nosso sentido visual.
Quando viajamos por lugares altos e montanhosos, sempre nos deparamos com os famosos “mirantes”, que são locais destinados à contemplação de paisagens deslumbrantes que se oferecem aos apreciadores de magníficas vistas, dignas das mais belas fotos e recordações. Alguns mais tranquilos ficam horas e horas apreciando toda a beleza que se descortina. Já os apressadinhos apenas registram o local com suas máquinas ou seus celulares, ávidos em postarem em suas páginas das redes sociais.
O segundo sentido descrito pela Wikipedia: chamado místico-religioso, “significa alcançar Deus através da vivência pessoal e não meramente através de um processo discursivo”, e me faz lembrar de diversos textos das Sagradas Escrituras.
No livro de Jó há uma verdadeira pérola sobre a plenitude do conhecimento humano sobre Deus. No Capítulo 42 e versículos 4, 5 e 6, o personagem declara, após todo um debate sobre as agruras da vivência humana, que consegue contemplar Deus de uma forma singular: “Tu me mandaste escutar o que estavas dizendo e responder às tuas perguntas. Antes eu te conhecia só por ouvir falar, mas agora eu te vejo com os meus próprios olhos”.
Nos Salmos há o convite à meditação contemplativa: “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!”
No Novo Testamento, somos chamados a contemplar, pela fé, a missão salvadora de Jesus em favor de toda a humanidade. O Evangelho de João, Capítulo 17, versículo 3 demonstra essa verdade: “Esta é a vida eterna, conhecer a Ti, único Deus verdadeiro, e aquele que enviastes, Jesus Cristo”.
Por fim, a minha oração é no sentido de que cada dia eu, você e todos nós possamos contemplar com a nossa mente e o nosso coração, a obra redentora de Jesus, o único Salvador que pode perdoar os nossos pecados!
Apeles Pacheco é bacharel em Direito e Especialista em Legislativo e Políticas Públicas (LPP).