Comitê de Política Monetária dá uma “tungada” nos investidores

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Por Ivanir José Bortot

Ao promover uma queda menor das taxas de juro do que havia anunciado anteriormente, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) acabou dando uma tungada nos investidores comprados ou vendidos em papeis do Tesouro Nacional. O BC chegou a dizer que nesta semana os juros cairiam 0,5%, mas acabou reduzindo em 0,25% em função de pressão inflacionárias, mudança no cenário da economia dos Estados Unidos, maior dinamismo no mercado de trabalho e piora na fiscal, este último de fundamental importância para eficácia da política monetária.  Quem também saiu no prejuízo foi o Tesouro Nacional que terá um custo maior de parte de sua dívida em exatos 0,25% a mais. A imagem da autoridade monetária do Banco Central saiu arranhada ao dizer que iria reduzir em 0,5% as taxas de juros na reunião anterior do Copom.

Imagem ilustrativa, Inteligência Artificial

Os argumentos apresentados na ata do Copom podem ser usados tanto para os que voaram pelos 0,25% como os 0,5.

Reproduzimos aqui na integra alguns argumentos publicados na ata do Copom:

(*) O Comitê então debateu possíveis motivos da recente desancorarem das expectativas de inflação, tendo elencado como principais fatores: (l) a piora do cenário externo; (ll) os recentes anúncios de política fiscal; e (lll) percepção de agentes econômicos acerca do compromisso da autoridade monetária com o atingimento da meta ao longo dos anos. De forma mais relevante, o Comitê unanimemente avalia que se deve perseguir a ancoragem das expectativas de inflação independentemente de quais sejam as fontes por trás da desancorarem ora observada. A ancoragem das expectativas de inflação é vista como elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta. O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira. O Comitê não se furtará de seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação.

Aqui, leitor, você pode observar que apesar de dizer acima a preocupação com a desancorarem da inflação os argumentos neste ponto da Ata são praticamente opostos.

(*) O Comitê avaliou que os dados referentes à inflação corrente se mostraram benignos, tanto na inflação cheia quanto nos núcleos de inflação. Após uma sequência de surpresas altistas, notou-se arrefecimento dos núcleos de inflação, embora em níveis acima da meta. Alguns membros mostraram maior preocupação com a inflação de alimentos no curto prazo, enquanto outros seguiram enfatizando o papel da inflação de serviços. A tragédia no Rio Grande do Sul, além dos seus impactos humanitários, também terá desdobramentos econômicos e o Comitê seguirá acompanhando.

A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes. As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,7% e 3,6%, respectivamente.

O Comitê avaliou que os dados referentes à inflação corrente se mostraram benignos, tanto na inflação cheia quanto nos núcleos de inflação.

Aqui ao Ata do Copom trata dos riscos fiscal sem que tenha mudado significativamente nos últimos 40 dias. Veja:

(*) O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade.

O dinamismo no mercado de trabalho com geração de empregos é um fator que pode ter impactos sobre o consumo e os preços.

(*) O Comitê reforça que há surpresas recorrentes apontando para elevado dinamismo do mercado de trabalho, o qual se manifesta em múltiplas dimensões. Primeiramente, as expectativas para a taxa de desemprego coletadas pela Pesquisa Focus, tanto de curto quanto de médio prazo, vêm se reduzindo ao longo dos últimos trimestres. Ademais, a geração de empregos formais se mantém em níveis fortes e permanece uma proporção alta de desligamentos voluntários. Além disso, a taxa de participação e outras medidas alternativas, com aberturas por setores, demografia ou regiões, corroboram um cenário de mercado de trabalho apertado. Desse modo, o debate se concentrou na possível transmissão para salários e preços do aperto verificado no mercado de trabalho. Salientou-se a dinâmica do emprego e salários, relembrando o papel fundamental do mercado de trabalho na determinação do hiato do produto e na trajetória prospectiva de inflação. Foi mencionada, como evidência preliminar, a inflação nos serviços intensivos em trabalho, que tem se mostrado persistentemente acima do nível compatível com o cumprimento da meta. Por outro lado, mencionou-se que ainda não há evidências conclusivas de impacto do mercado de trabalho sobre a inflação. Por fim, a combinação de atividade e mercado de trabalho mais fortes tem levado a reavaliações do nível do hiato do produto.

O ritmo da queda nas taxas de juros dos Estados Unidos também foi levado em conta na decisão do Copom.

(*) O Comitê avalia que o cenário externo tem se mostrado mais adverso e que a incerteza com relação ao ciclo de queda de juros norte-americano e ao processo desinflacionaria nas principais economias mostra-se persistente. Nesse cenário de incerteza prospectiva elevada, reforça-se a necessidade de maior cautela na condução da política monetária doméstica. O ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente referente ao início da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

O comportamento da economia doméstica, segundo texto abaixo da ata, dos argumentos para uma política monetária mais restritiva

(*) ao longo dos últimos trimestres, os dados de atividade econômica surpreenderam, com maior crescimento em diferentes componentes da demanda. Ressaltou-se a resiliência da atividade doméstica e a sustentação do consumo ao longo do tempo, em contraste com o cenário de desaceleração gradual originalmente antecipado pelo Comitê. Com relação aos dados na margem, debateu-se se as revisões altistas, em parte explicadas por questões metodológicas relacionadas a ajustes de sazonalidade, refletiam realmente uma atividade mais forte. Concluiu-se que, não obstante esses fatores atenuantes, a atividade revela-se de fato mais forte ao longo prazo.

(*) em que pesem as condições monetárias restritivas, enfatizou-se que já se observa a transmissão do ciclo de afrouxamento monetário para o mercado de crédito, em linha com o que era esperado. Alguns membros ressaltaram, no entanto, que a recente elevação nas taxas de maior prazo pode levar a um menor dinamismo no mercado de crédito. Tais membros enfatizaram a importância dos vértices mais longos na curva de juros na determinação da oferta e da demanda de crédito.

E concluiu suas análises para o cenário da próxima reunião em que desta vez não sinaliza o quanto vai reduzir ou não suas taxas de juros:(*). O Comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas a uma taxa de juros mais elevada. Observou surpresas benignas no período recente, mas também elevação das projeções de prazos mais curtos, envolvendo preços livres e administrados. Ao fim, concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária mais contracionista e mais cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionaria.

Repórter Brasília, Edgar Lisboa/ Por IvanirJosé Bortot

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