O Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou para milhares de apoiadores na Avenida Paulista, neste domingo (25), que ele pessoalmente convocou, em ato coordenado pelo pastor Silas Malafaia, para mostrar apoio popular diante da pressão que tem sofrido com investigações. Em meio a população, dava para identificar bandeiras do Brasil, de Israel e até algumas dos Estado Unidos. Ao centro,
Discursos com referências bíblicas
Além de Jair Bolsonaro e Silas Malafaia, que fez o pronunciamento mais longo, discursaram os deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG), o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos), e o senador Magno Malta (PL-ES). Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama também falou à multidão. As falas tiveram referências bíblicas e tom de pregação, inclusive, com pastores falando inúmeras vezes o nome de Deus e conclamando a multidão a orar.Presentes ao evento, deputados estaduais, federais, prefeitos e vereadores.
Perseguição
O tom dos discursos do pastor Malafaia e do ex-presidente Bolsonaro foi “a perseguição”. Repetiram que o ex-presidente, hoje impedido de concorrer a cargo público, por oito anos, por decisão da Justiça, sofre “uma perseguição que se recrudesceu depois que deixou a presidência no fim de 2022 e pediu anistia a presos do 8 de Janeiro. No Em discurso , em São Paulo, para milhares de apoiadores, Bolsonaro negou liderar uma articulação golpista depois da derrota nas eleições.
Minuta de Golpe
Ele minimizou a existência da “minuta do golpe”, da qual foi o mentor, segundo a Polícia Federal. Na opinão dele, “estados de sítio e defesa estão previstos na Constituição e só poderiam ser acionados depois de consulta a conselhos da República e deliberação do Congresso, o que não ocorreu.”
Golpe é tanque na rua
N visão do capitão, ex-comandante do Palácio do Planalto, “Golpe é tanque na rua, é arma, é conspiração. Nada disso foi feito no Brasil. Por que continuam me acusando de golpe? Porque tem uma minuta de decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Deixo claro que estado de sítio começa com presidente convocando conselho da República. Isso foi feito? não”, acentuou, afirmando que “é o Parlamento quem decide se o presidente pode ou não editar decreto de estado de sitio. O da defesa é semelhante. Ou seja, agora querem entubar em todos os nós um golpe usando dispositivos da Constituição cuja palavra final quem dá é o Parlamento.”
Caprichar nos votos
Bolsonaro e Zucco, olhando para o céu. Luciano Zucco (PL/RS), uma das recentes conquistas de Bolsonaro. O parlamentar saiu dos Republicanos para ingressar no PL.
“Em 2024, teremos eleições municipais. Vamos caprichar nos votos, em especial para vereadores. E também para prefeitos. E nos preparemos para 2026. O futuro a Deus pertence. Sabemos o que deve ser feito no futuro para que o Brasil tenha um presidente que tenha Deus no coração, ame a sua bandeira, cante o hino nacional e que ame de verdade o seu povo”, registrou.
Bolsonaro mais suave nas palavras
Ao contrário do Pastor Silas Malafaia, que em discurso inflamado criticou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo e do TSE, Bolsonaro evitou citar o ministro Alexandre de Morais, que já foi alvo de outras manifestações de Bolsonaro. Houve uma menção indireta a integrantes do Poder Judiciário. “Quando o Estado Democrático de Direito não é respeitado, aquela minoria fabrica órfãos de pais vivos. O abuso por parte de alguns traz insegurança para todos nós”, disse.
Foto para o mundo
O principal objetivo de Bolsonaro, em convocar a manifestação foi para mostrar força política e apoio popular no momento em que ele e aliados são pressionados por inquéritos da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele comemorou a presença dos apoiadores e anunciou a “fotografia vai rodar o mundo”.
“Deus e demônios de volta aos palanques”
Ao longo das últimas semanas, o pastor Silas Malafaia recebeu uma saraivada de críticas, de fiéis e também de colegas pastores, por misturar política com religião. O professor de teologia, pastor Peniel Pacheco fez, para o Repórter Brasília, uma análise da utilização nos palanques, do nome de Deus. ” Deuses e demônios de volta aos palanques”. Ele citou manifestações feitas, no carnaval da Bahia, por Ivete Zangalo e Baby do Brasil que, de acordo com o professor, expuseram temas de fundo religioso”
Apego à religiosidade
Pastor Peniel Pacheco (Crédito: arquivo pessoal)
As estatísticas indicam que a maioria dos brasileiros possui uma tendência de apego à religiosidade, apontou Peniel Pacheco. “Provavelmente este seja o motivo da temática religiosa estar ocupando espaços cada vez mais amplos, seja no sentido de valorizar a espiritualidade humana, ou mesmo como afronta ou contestação às diversas correntes ou tendências religiosas”, afirmou o pastor.
Discursos Religiosos
Tendo por base tal informação, verifica-se que muitos candidatos usam e abusam na exploração de discursos religiosos apenas como marketing político, pois não desejam ficar mal na fita diante dos eleitores mais fervorosos, avaliou o professor Peniel Pacheco.
Eleições Municipais
Este ano teremos novamente eleições municipais e não será difícil prever quem estará de volta aos palanques, prevê o professor de teologia. “Aliás, a corrida entre deuses e demônios, na disputa acirrada pelos votos de fiéis e infiéis, já está em pleno andamento. A prova mais evidente do nível de tensão que envolverá a próxima campanha pode ser claramente percebida diante da iniciativa do pastor Silas Malafaia convocando, para a manifestação deste domingo, em São Paulo (25), um grande ato religioso em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo Malafaia, o financiamento para o evento não contaria com dinheiro público, mas com “recursos da própria entidade religiosa dirigida por ele”.
Dinheiro do Dizimo
Algumas das mais conhecidas lideranças evangélicas criticaram duramente o evento, ao longo da semana. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o pastor Alexandre Gonçalves denuncia que “Silas Malafaia, está usando dinheiro do dízimo dos irmãos, que dão com muito sacrifício e amor a Deus, para atos políticos”. Pressionado, Malafaia mudou a versão e afirmou que os custos seriam bancados do próprio bolso. Imagem ilustrativa.
Tentativa de politizar a fé
Desde o fim das mobilizações em frente aos quartéis, após as eleições de 2022, não se via nenhuma tentativa de politizar a fé ou de espiritualizar a política. As únicas manifestações político-religiosas têm sido aquelas deflagradas pela chamada Bancada Evangélica na Câmara e no Senado.
Não pagar impostos
Seus parlamentares defendem, entre outras pautas internas, o não pagamento de imposto de renda pelos pastores; reclamam das falas do presidente Lula em relação aos ataques de Israel na Faixa de Gaza, “dando o tom do quanto as questões de interesse exclusivo do segmento evangélico são priorizadas pela bancada”.
Demonizar os adversários
Para Peniel Pacheco, “tais pautas trazem consigo a base argumentativa para alimentar os discursos voltados a demonizar sistematicamente os adversários (no caso o governo Lula) e a beatificar os amigos, ou seja, Bolsonaro e seus aliados”.
Mensagem da Bíblia
A mensagem da Bíblia parece não ser suficientemente relevante para impedir o uso e o abuso do nome de Deus em um ambiente tão marcado pelas controvérsias. O mandamento bíblico de “não usar o nome do Senhor teu Deus em vão”, parece ter ficado esquecido em alguma página do Antigo Testamento, enquanto a luta pela conquista do poder político, mediante a cooptação do voto dos fiéis, parece justificar o vale-tudo para trazer de volta ao palco a força da religião, não como elemento de natureza espiritual ou teológica, mas como mero instrumento de domínio e de poder político. ”
A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.
Edgar Lisboa