Ala feminina do PSD-DF debate enfrentamento à violência contra mulheres

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As mulheres são a maioria no eleitorado brasileiro (mais de 52%) e chefiam 50,8% dos 75 milhões de lares no País. Mas têm salários menores, pouco acesso aos cargos de chefia e acúmulo de tarefas domésticas e profissionais. E estão longe dos principais postos políticos, apesar de representarem 46,2% dos filiados das agremiações nacionais. O País tem apenas 12,1% de prefeitas e 16% de vereadoras e somente 311 mulheres foram escolhidas pelo eleitorado no pleito de 2022, o que corresponde a apenas 18,2% do total de eleitos.

Violência Doméstica

Paralelo a isso, muitas ainda enfrentam a violência doméstica, que tem contornos trágicos no DF. Em 2023, o número de feminicídios dobrou em relação a 2022, passando de 17 para 34. As tentativas de feminicídio cresceram 110%, saltando de 37 para 78. O crime foi o que mais cresceu na Capital do País em um ano.

Diálogo PSD Mulher

Para debater estas questões, a base feminina do PSD-DF realizou, neste sábado (27), o primeiro “Diálogos PSD Mulher”, no Manhattan Plaza Hotel. O tema central do encontro foi o enfrentamento da violência contra a mulher – incluindo um olhar preventivo e inclusivo.

Participaram dos debates, mediados pela jornalista Márcia Witczak, a subsecretária de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da Secretaria de Estado da Mulher do DF, Maíra Castro; a presidente do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura do DF e presidente da Câmara de Mulheres Empreendedoras, Empresárias e Gestoras de Negócios da Fecomércio, ⁠Beatriz Guimarães, e Cyntia Carvalho e Silva, do Observatório Nacional das Mulheres na Política.

Reflexão papel da mulher

O encontro foi aberto com uma mensagem da presidente do PSD Mulher Nacional, Alda Marco Antônio, que fez uma reflexão sobre o papel da mulher na política e a ainda pequena representatividade feminina nos legislativos pelo Brasil afora.

“Nós temos o que dizer, temos como colaborar e precisamos abrir essa discussão com as eleitoras. Será que todas estão felizes com esta violência horrorosa? Mulheres sendo assassinadas a cada quatro horas no Brasil, não podemos sair à noite por medo de estupros e assassinatos. Nós temos de influenciar para mudar esta realidade”, disse, no vídeo enviado ao Diálogos PSD Mulher DF.

Feminicídio

Deborah Carvalhido, presidente do PSD Mulher-DF, agradeceu aos parceiros do evento e disse que o projeto Diálogos PSD Mulher DF foi pensado para levar mais informações às mulheres de todo o Distrito Federal. “No ano passado, o feminicídio foi uma mancha na história do DF, com o maior crescimento percentual no País. Por isso, nesta primeira edição, vamos debater este tema, que não tem uma fórmula mágica, mas é multidisciplinar. Passa por segurança pública, rede de creches e humanidade, entre outros fatores”, afirmou.

Machismo exclui

“O machismo silencia, exclui, ameaça e machuca não só o corpo físico, mas a alma. E, em sua versão mais perversa, ele mata. Juntas e juntos, podemos construir um futuro melhor para nossos meninos e meninas”, afirmou.

PSD na construção de uma nova política

Presidente do PSD-DF, Paulo Octávio cumprimentou as participantes e saudou as organizadoras do evento. Depois, fez uma análise do trabalho do partido na construção de uma nova política. “O partido quer crescer e precisa contar com cada uma de vocês. O discurso da Alda emociona. Hoje, o PSD tem a maior bancada feminina no Senado, com seis parlamentares. O presidente Gilberto Kassab está de parabéns, por ser incansável e ter uma visão de única de Brasil. O PSD tem muita perspectiva de futuro, por ser um partido de centro, que busca a conciliação e a governabilidade. O Brasil precisa disso: somar e amar, com entendimento”, disse.

Paulo Octávio criticou discriminação

“Sou um dos poucos homens nesta sala, mas saibam que meu respeito e admiração pelas lutas femininas são de longa data e lamento as distorções que a visão patriarcal vem causando na nossa cidade e no nosso País, causando discriminação, violência e graves desequilíbrios no papel das mulheres na sociedade. Creio que estas distorções precisam ser superadas e o momento é de apoio e solidariedade às mulheres. Portanto, quero que saibam que como presidente do PSD do Distrito Federal, não medirei esforços para a construção de um presente e um futuro mais digno, seguro e respeitoso para as mulheres do DF”, disse.

Autonomia financeira feminina

Para ele, incentivar políticas públicas que estimulem a autonomia financeira feminina, o empreendedorismo, ampliação do acesso às creches e ao sistema de educação e principalmente o fim da violência doméstica são fundamentais. “Temos de esclarecer a sociedade sobre a relevância das mulheres na organização social, relevância igual ou até maior que a dos homens, na medida em que são elas que educam e organizam a casa. Como homem, convido meus companheiros de gênero a somar força na luta das mulheres por igualdade salarial e principalmente, o fim da violência doméstica. Afinal, homem que é homem, sabe respeitar e ser companheiro da sua parceira”, encerrou.

Líder do PSD na Câmara Legislativa, o deputado Jorge Vianna elogiou o evento e fez uma análise da política. “A mulher quer participar. Como falar de política de mulher, se nós não somos mulheres? Nada melhor que uma mulher dirija um partido e que possa falar e ensinar a elas como é a política partidária. A política nos consome e alguma coisa de nossa vida acaba sucumbindo. Eu tenho duas filhas e tenho um lapso temporal do crescimento delas, por conta da militância política”, afirmou.

Cultura masculina

Após uma introdução da cultura masculina, e de seus preconceitos e erros, a jornalista Marcia Witzack comandou o debate. Maíra Castro, subsecretária de Enfrentamento a Violência contra a Mulher, destacou que o DF inova ao trabalhar com homens, para reverter o quadro de violência contra a mulher, trabalhando com os autores de violência. “O machismo é intrínseco, interno e cultural. Estamos no século 21 e muitos maridos ainda não apoiam o lar. Se não trabalharmos com os homens, nós não vamos avançar. Nós criamos os homens, e o machismo também está dentro de nós”, disse, em sua abordagem inicial.

Panorama cultural

Já Beatriz Guimarães fez um panorama cultural da mulher, destacando o afastamento delas das profissões desde a infância. “Nas lojas de brinquedo, a aventura está mais ligada à ala masculina que a feminina. Já para as meninas ficam as bonecas, os conjuntos de passar e cozinhar. E isso precisa ser desconstruído”, afirmou.

Cyntia Carvalho e Silva falou inicialmente da questão organizacional das famílias e da importância da mulher na sociedade. “Quem movimenta a economia deste País são as mulheres. Quem acorda às 5h, quem coloca os filhos para estudar somos nós. O homem não deve “ajudar”. Ele tem o dever. O trabalho doméstico é da família”, destacou.

Órfãos por feminicídio

Maíra Castro também falou de um quadro alarmante: 80% das mulheres vítimas de violência no lar se declaram independentes, mas precisam sair da própria casa e tirar os filhos da escola. E destacou que, em muitos casos, quanto maior a renda, mais difícil é que a queixa policial seja registrada, lembrando ainda que o DF tem quase 400 órfãos por feminicídio. “Quando você salva uma mulher, você salva uma família. O estado, sozinho, não vai dar conta”, afirmou.

“A gente precisa levar as mulheres vítimas de violência ao hospital, correr atrás de passagem para voltar a seu estado de origem… estes dias, uma mulher chegou com o maxilar dilacerado por socos e não tinha quem fosse buscar os filhos. Saiu do hospital desfigurada e com dor. Não julguem uma mulher vítima de violência. Muitas mulheres não têm coragem e força para reagir, pois o ciclo da violência é grande. Precisamos acolhê-las com força e amor”, completou.

Trabalhar uma legislação

Beatriz Guimarães destacou ainda que é preciso trabalhar uma legislação e um termo de qualificação para as mulheres vítimas da violência. “Elas precisam se sentir produtivas. A gente consegue partir para um plano de ação com os sindicatos e as empresas. Só a Fecomercio tem 224 mil associados. Já pensou em conseguir ao menos uma vaga para uma mulher vítima de violência em cada uma destas empresas?”, destacou.

“Quase uma ressureição”

A empresária lembra ainda que a reconstrução destas mulheres é quase uma ressureição. “A sororidade é uma palavra bonita, mas precisa de uma rede de apoio. Quantas vezes não preferimos um médico homem, no lugar de uma médica? Nós somos uma agente de transformação”, destacou.

Depoimento emocionante

O evento terminou com o emocionante depoimento da advogada Maura Mariano, que contou sua história. Ela foi vítima de uma tentativa de feminicídio pelo ex-companheiro que, armado, invadiu sua casa em companhia de outros homens, amarrou suas filhas e tentou matá-la a tiros. A palestra emocionou a todos e deixou no ar uma questão: até quando a sociedade vai permitir que distorções como o machismo intimidem, agridam e matem as mulheres brasileiras?

Repórter Brasília, Edgar Lisboa

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