A diretora executiva do Reúna alerta que” nós precisamos que os governos se conscientizem que os efeitos da pandemia na educação não passaram”.
Kátia Smole Crédito da foto: Cleo Velleda/ Divulgação)
Uma pesquisa do IBGE mostra que um em cada cinco jovens brasileiros entre 15 e 29 anos, não estudava e nem trabalhava em 2022. Segundo a pesquisa, são quase 11 milhões de pessoas nesta situação.
Número preocupante
A professora Kátia Smole, diretora executiva do Instituto Reúna, de São Paulo, considera o número “altíssimo, preocupante ao extremo, por várias razões. A principal delas é que estamos passando o nosso bônus demográfico, que é aquela situação em que o País deixa de ter mais jovens na sua população, para ter mais adultos e pessoas idosas.”
Pessoas não bem informadas
Trazendo para essa faixa, adultos, e, no futuro idosos, de pessoas que não são bem informadas e não estão com ocupação definida ou que compromete a capacidade produtiva do País no desenvolvimento social, científico e econômico; é um fato muito preocupante”, assinala a professora.
Conscientização dos governos
Para Kátia Smole, “há necessidade de um planejamento organizado e detalhado com muitas frentes, no que diz respeito à educação. Nós precisamos que os governos se conscientizem que os efeitos da pandemia na educação não passaram, a começar pela necessidade do que nós chamamos de busca ativa, que significa irmos até esses adolescentes e jovens. Como sistema público, os secretários de Educação estaduais e municipais, apoiados pelo Governo Federal, precisam criar um sistema para buscar esse jovem e convencê-lo a voltar para a escola.”
Busca ativa
No entendimento da professora Kátia Smole, “as escolas também precisam ter um plano para que os jovens voltem, permaneçam na escola e, aprendam, junto com o sistema de busca ativa precisa ter todo um plano para fazer com que essa escola seja atrativa, mantenha, e fidelize esse jovem.”
Desenvolvimento profissional
“Uma outra coisa que eu vejo como importante, é pararmos de achar, neste país, que a escola de ensino médio e o ensino profissionalizante, são coisas distintas. Acho que os dados que foram divulgados pelo IBGE a respeito dessa juventude que não estuda e nem trabalha, eles também mostram que nós precisamos criar opções para nossos adolescentes e jovens. Eles devem ver na escola uma oportunidade de desenvolvimento profissional”, destaca Smole.
Educação profissional
“É bem importante que nessas discussões que têm sido feitas, em torno do ensino médio, elas se voltem para a real necessidade do jovem. Que nós não vejamos no Brasil a educação profissional como algo de menor valor, ao contrário, o mundo já viu que a profissionalização do jovem no ensino médio é uma forma de fazer com que ele veja valor nas escolas.”
Atrativo para permanecer na escola
A diretora executiva do Instituto Reúne, disse que “o Governo Federal tem anunciado uma possibilidade de criar uma espécie de bolsa, de poupança, para fazer também com que essa escola seja atrativa para o jovem ficar nela com apoio, e ter algum tipo de ajuda para permanecer e não precisar sair tão cedo para o trabalho.”
A calamidade da geração nem-nem
O jornal O Estado de S.Paulo publicou editorial, neste domingo, detalhando e comentando os números apresentados pelo IBGE. Mostra que 10,9 milhões de jovens não estudam nem trabalham; para a maioria, não por escolha. Leia a integra do editorial.
“A estratificação dos dados do IBGE sobre a chamada “geração nem-nem”, jovens entre 15 e 29 anos que não estudam nem trabalham, confirmou o que já se esperava: quanto mais pobre o segmento, maior é a parcela de jovens nesta condição, fato agravado quando incluídos os critérios de cor/raça e gênero. Os nem-nem são, ao todo, 10,9 milhões de brasileiros (22,3% da população dessa faixa etária), sendo 6,7 milhões deles pobres e, destes, quase metade (48%) mulheres pretas e pardas. A cada fracionamento, mais nítido se torna o triste retrato da desigualdade brasileira.
Geração Nem-Nem, não por escolha
Triste e inquietante – afinal, adolescentes e jovens adultos deveriam ter garantido o direito à formação intelectual, técnica e profissional. Pela fragmentação dos dados estatísticos, é possível inferir que, para a grande maioria dessa população, fazer parte da classificação “nem-nem” não é uma escolha, ao contrário do que provavelmente acontece entre os “nem-nem” que pertencem à fatia dos 10% mais ricos. Nesse topo da pirâmide, 7,1% dos adolescentes e jovens estavam fora dos bancos escolares e do mercado de trabalho em 2022, índice que cai ano a ano – em 2012 eram 8,4%.
Da porta da escola para fora
Já para os 10% mais pobres, o porcentual se aproxima velozmente da marca de 50%. Eram 41,9% em 2012 e, dez anos depois, chegaram a 49,3%. Principalmente para as jovens mais pobres, grande parte delas mães adolescentes, o caminho mais adotado tem sido o da porta da escola para fora, em direção aos cuidados da casa, dos filhos e dos pais, como constatou o IBGE na Síntese dos Indicadores Sociais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
Sem sinal de reversão
O Brasil caminha para três décadas de levantamento sistemático de dados da população “nem-nem”. O caso brasileiro não é isolado. O termo, por exemplo, surgiu na década de 1990 na Inglaterra, sob a sigla NEET´s (not in employment, education, or training – sem emprego, educação ou treinamento, em tradução livre). O problema é que, por aqui, as estatísticas permanecem em patamar perigosamente alto, sem um sinal claro de reversão.
Universalização da educação infantil
Embora o resultado de 2022 tenha sido o terceiro menor da série (em 2012, o melhor resultado foi de 21,8% e em 2013, de 22%) a proporção ainda é altíssima. É inaceitável verificar que um em cada cinco jovens não estuda nem trabalha. Assim como não há justificativa plausível para o fato de o Brasil não ter constatado qualquer avanço na meta de universalização da educação infantil entre 2019 e 2022.
Fortalecimento do ensino técnico
Os caminhos para reverter essa triste realidade não são desconhecidos, e o fortalecimento do ensino técnico é certamente um deles. O Ministério da Educação diz que essa é uma prioridade. Pois então que acelere essa marcha. Não há desculpa para protelações. Capacitar os jovens não é favor do poder público. Disso depende não apenas o futuro de cada um deles, mas o aumento da produtividade de um país que há muitos anos também é “nem-nem”: nem cresce nem se desenvolve.
A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.
Edgar Lisboa