2025: sinal amarelo! (Júnior Sipaúba)

Júnior Sipaúba /Divulgação

O sinal amarelo nos alerta, nos chama à atenção no trânsito. Quando o sinal fica amarelo, fica a dúvida: será que eu atravesso ou é melhor parar; e se caso eu for parar um pouquinho antes e alguém apressadinho colidir com o meu carro (já aconteceu comigo)?

     O significado das cores depende de cada cultura e das circunstâncias. A cor é uma forma de comunicação não verbal. O amarelo por exemplo, pode ser brilhante e intenso e, por isso, pode invocar sentimentos fortes e chamar a nossa atenção rapidamente, mas também pode ser abrasivo quando usado em excesso. O amarelo significa “atenção”. Quando o sinal está amarelo, os motoristas devem parar se puderem com segurança. Se já estiverem muito próximos do semáforo para parar com segurança, eles devem continuar com cautela. E na vida?
     Em minha percepção como educador e terapeuta, é que a desatenção é uma marca assustadora em nossos tempos, nas palavras de Byung-Chul Han em seu brilhante livro Sociedade do Cansaço: “O excesso de positividade se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos. Modifica radicalmente a estrutura e economia da atenção. Com isso se fragmenta e destrói a atenção”. Há um tédio profundo!
    Jesus nos convida a olhar entes simples da existência:
“Observai os corvos, os quais não semeiam, nem ceifam, não têm despensa nem celeiros; todavia, Deus os sustenta. Quanto mais valeis do que as aves! […] Observai os lírios; eles não fiam, nem tecem. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais tratando-se de vós, homens de pequena fé! Não andeis, pois, a indagar o que haveis de comer ou beber e não vos entregueis a inquietações”(Lucas 12:24, 27-29).
     Arrisco a dizer, que homens de pequena fé são também homens de pequena atenção. O psicanalista Contardo Calligaris em seu livro O sentido da vida, deixa um importante alerta:
“A distração é perigosa: à força de caminhar com o nariz enfiado na tela, podemos cair, sei lá, num bueiro. Mas talvez mais graves sejam as consequências menos concretas: com nossa atenção na tela, podemos sobretudo avançar numa vida cada vez menos interessante, uma vida que valeria cada vez menos a pena”.
     Na visão de Calligaris, o fruir da vida só é possível para quem não se distrai; para quem, ao contrário, mantém um esforço constante de atenção à vida. O esforço, não é uma garantia que o próximo ano só nos reserve coisas boas, mas a primeira coisa boa é a própria atenção com a simplicidade da vida. A distração e a desatenção são muito perigosas. Muitos suicidas morrem não necessariamente de tédio, mas de tanto se distrair da vida. Pense: por que valeira a pena viver uma vida que sequer parece exigir algum nível de nossa atenção?
    Já começou o festival de positividade “tóxica” com toda boa intenção, as campanhas para 2025 estão a pleno vapor: “2025: o ano da prosperidade!”; “2025: o ano da colheita!”; “2025: o ano da restituição!” e por aí vai, desejo para todos nós um ano de muita atenção, um ano de encanto do trivial e do cotidiano e de muita valorização da liturgia do ordinário.
José Sipaúba Costa Júnior é Professor, escritor, teólogo, psicanalista, matemático e mestre de Taekwondo.

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