
Não é de hoje que o uso de vacinas tem sido adotado como uma das formas mais eficazes para a prevenção de doenças.
Desde 1796, quando Edward Jenner criou a vacina contra a varíola, a ciência não parou de desenvolver novas formas de vacinas, algumas delas baseadas em técnicas de manipulação genética altamente sofisticadas, como é o caso das vacinas de mRNA e DNA.
Segundo a OMS, existem vacinas devidamente testadas e aprovadas capazes de proteger contra mais de trinta doenças letais. Graças aos esforços médicos globais, estima-se que mais de 500 milhões de pessoas são vacinadas anualmente em todo o mundo. Como resultado desse esforço, calcula-se que seis vidas são salvas a cada minuto, o que equivaleria a um total de 154 milhões de vidas salvas nos últimos 50 anos.
Esses dados são mais do que suficientes para comprovar a importância da imunização para pessoas de todas as idades, principalmente para as crianças e os idosos.
Entretanto, é surpreendente observar como algumas mentes doentias insistem em difundir fake news contendo mensagens agressivas e ameaçadoras que tentam convencer pais e mães a não vacinarem seus filhos.
A grande pergunta que se faz é: qual o propósito de tamanho desserviço contra a vida e contra a humanidade?
Por trás de argumentos falaciosos – como a liberdade sobre o próprio corpo, o risco de efeitos colaterais ou a imunização de rebanho -, esconde-se um desejo incontrolável de gerar sensacionalismo e causar perplexidade coletiva através da manipulação do senso comum, ou seja: o controle mental das massas por meio das propaladas teorias da conspiração.
Parece incrível como esse tipo de expediente faz sucesso! Segundo os especialistas, isto se deve a algumas questões de fundo psicológico: primeiro, porque essas teorias oferecem explicações simplórias, mas atraentes, para eventos complexos; segundo, porque atendem a necessidades emocionais como a busca por controle, a necessidade de pertencer a um grupo e a busca por sentido em um mundo incerto; terceiro, porque trazem conteúdos superficiais mais fáceis de “entender” e de acreditar do que as explicações científicas ou oficiais, especialmente quando tais mensagens estão associadas a campanhas sistemáticas de descredibilização das instituições estabelecidas.
Em tempos de polarização exacerbada, torna-se mais fácil encurralar pessoas em um dos polos forçando-as a adotarem narrativas mais condizentes com o seu perfil psicológico ou de acordo com o seu estado de ânimo. O que se verifica é que, diante da necessidade de sentirem-se vivas e influentes, tais pessoas mergulham literalmente de corpo e alma na corrente que oferece maior possibilidade de fazer desaguar seus medos, frustrações ou ressentimentos por meio da militância a favor de uma causa, por mais absurda ou inconsequente que possa ser.
Não há outro nome para tal comportamento que não seja a ESTUPIDEZ.
A Bíblia contém, pelo menos, 75 versículos que falam sobre a estupidez (ou termos correlatos). O que mais me chama a atenção é o de Provérbios 1:22, que diz: “Até quando, ó estúpidos, amareis a estupidez? Até quando se deleitarão no escárnio os escarnecedores, e aborrecerão os loucos o conhecimento?”
Observemos as expressões “amareis”, “deleitarão” e “aborrecerão”. Tem a ver com emoção, sentimento, estado de espírito, ou seja, trata-se de uma irracionalidade. Etimologicamente falando, a palavra “estupidez” tem origem no latim “stupiditas”, que, por sua vez, deriva do verbo “stupere”, que significa “estar estupefato”, “estar atordoado” ou “estar pasmado”. Segundo os linguistas, o termo latino “stupidus” também era usado para descrever alguém que estava “incapacitado” ou “sem ação”. Isto significa dizer que o estúpido vive numa armadilha. Essa armadilha o incapacita a perceber a realidade de fato. Faz com que ele seja guiado por impulsos emocionais cujos gatilhos são disparados sempre que surge algo capaz de contestar suas argumentações ou alguém disposto confrontar seu radicalismo.
Infelizmente ainda não desenvolveram uma vacina laboratorial contra isso. Mas, há um antídoto bíblico para esse mal. Salomão, há mais de 3 mil anos, escreveu em Provérbios 9:6: “Deixai a estupidez e vivei; E andai pelo caminho do entendimento”.
É certo que não há (nem haverá) vacina contra a estupidez, mas há algo que pode ser feito: deixar de ser contra a vacina pode ser um bom começo para a erradicação da cepa política da estupidez.
Peniel Pacheco é professor de teologia, especialista em docência no ensino superior e mestre em ciências da educação.