Um encontro produtivo

Lula (Crédito: EBC)

O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente norte-americano Donald Trump foi, nas palavras do próprio Lula, que retornou na noite de ontem ao Brasil, “surpreendentemente positivo”. A reunião, marcada por cordialidade e pragmatismo, sinalizou uma reaproximação entre Brasil e Estados Unidos após meses de tensão provocada pelo chamado tarifaço.

Lula mais forte

Bohn Gass (Crédito: Kayo Magalhães/ Câmara dos Deputados)

“Se Lula já era forte, voltou mais forte”, afirmou o deputado Bohn Gass (PT/RS), acrescentando que “ele consolida as negociações multilaterais e, na verdade, tirou de letra as conversações com Trump”.

Inverteu o processo

Na avaliação do parlamentar, “enquanto que no Brasil a turma queria, de forma afobada, que o Lula se humilhasse ‘liga para o Trump, liga para o Trump’, que não teria nenhum efeito, Lula construiu um ambiente onde o próprio Trump veio atender a Lula. O presidente foi tão habilidoso que inverteu o processo”, comemora Bohn Gass.

“Trump abandona Bolsonaro e está com Lula”

Na visão de Bohn Gass, “o Trump abandona o Bolsonaro e está com o Lula, ou seja, isso é uma inversão fantástica. Então se o Lula já era forte, só continua a se fortalecendo”, assinalou o deputado gaúcho.

Respeito acima das diferenças

“Discordâncias ideológicas não devem impedir o tratamento respeitoso entre chefes de Estado”, afirmou Lula, ao comentar que expôs temas de interesse nacional, como tarifas, sanções a ministros do STF e a situação fiscal brasileira. Equipes dos dois países já trabalham para alcançar resultados que atendam Brasil e EUA.

Virada nas relações bilaterais

O cientista político Christopher Garman, da Eurasia Group, avaliou o encontro como uma “reviravolta importante” nas relações bilaterais. Segundo ele, “há hoje um cenário mais favorável à construção de um acordo entre os dois países, sobretudo pela mudança de postura dentro da Casa Branca”.

Trump busca saída honrosa

Para Garman, Trump percebeu que as sanções e tarifas impostas ao Brasil não surtiram o efeito desejado. “Ele esperava que a pressão levasse a uma reviravolta política interna, mas isso não ocorreu. Agora, busca uma saída honrosa”, disse. O especialista destacou três fatores decisivos: o interesse dos EUA em garantir acesso a minerais críticos, o impacto econômico do tarifaço sobre empresas americanas e o lobby do setor privado para aliviar tensões comerciais.

Lula e Trump: o improvável equilíbrio

Garman acredita que o encontro pessoal teve peso político relevante: “Trump é duro em público, mas cordial em privado. Lula também tem esse perfil negociador. Essa combinação pode facilitar um entendimento”. Segundo ele, os EUA querem avanços em temas tarifários e não tarifários, como o etanol e a regulação das big techs, enquanto o Brasil buscará suspender imediatamente as tarifas. “Mesmo que seja difícil cravar um resultado, estou otimista de que algo concreto possa sair”, concluiu.

Canal formal de negociação

O professor Alexandre Pires, do IBMEC-SP, destacou que a reunião foi mais simbólica que técnica. “O mais importante é que Lula e Trump autorizaram o início das tratativas bilaterais”, afirmou.

Emergência econômica

Segundo Pires, serão criados grupos de trabalho para definir temas e equipes. “Os EUA já têm um esboço de acordo pronto; o Brasil tentará adequá-lo aos seus interesses”, explicou. O país enfrenta uma ordem executiva americana que impôs sobretaxas, criando uma “emergência econômica” semelhante à aplicada à China e ao México.

Ritmo das negociações

Pires alerta que a reversão dessas medidas será lenta. “As audiências sobre o tema terminaram em setembro. Agora, as decisões da representação comercial americana (USTR) vão definir o ritmo das negociações”.

Lula como articulador global

O presidente reforçou sua intenção de ser um interlocutor internacional e mediador de crises. “Quero que o Brasil seja um país respeitado e protagonista nas soluções globais”, afirmou após o encontro. Para Pires, essa postura tem limites: “Lula busca protagonismo diplomático, mas a posição americana sobre a Venezuela é inflexível. Ele corre o risco de se colocar em uma mediação inviável”.

Senadores celebram encontro promissor entre Lula e Trump em cúpula na Malásia

Declarações de Trump e avanço das negociações após o encontro reforçam protagonismo e diplomacia do Brasil no cenário internacionalJ

Lula e Trump tiveram reunião durante evento na Malásia no domingo (26)

Causando boa impressão e, no dia posterior, felicitações pelos 80 anos do presidente brasileiro, o encontro entre Lula e Donald Trump nesse domingo na Malásia mostrou que as negociações entre Brasil e Estados Unidos podem voltar à normalidade que marca os 200 anos da relação diplomática dos dois países. Os dois chefes de Estado se reuniram durante a cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático.

O prognóstico é que as tarifas de 50% aplicadas a produtos brasileiros possam cair após declarações de Trump de que os dois presidentes “provavelmente farão bons acordos”. Com um cronograma negociado pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, o chanceler Mauro Vieira, as reuniões entre as equipes brasileira e estadunidense para tratar do assunto já começaram.

O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), comemorou a postura do presidente Lula no encontro.

“Lula mostrou mais uma vez ser um grande estadista. Em reunião com Trump, teve diálogo construtivo sobre comércio e economia, com foco na redução de tarifas e no fortalecimento das relações entre Brasil e EUA”, declarou o senador em postagem nas redes sociais.

Quem também destacou o encontro foi o senador Humberto Costa (PT-PE), que o classificou como uma “vitória do diálogo, do povo brasileiro e da nossa diplomacia”.

“Contra todas as expectativas, a soberania e o interesse nacional prevalecem. Presidente Lula se reúne com Donald Trump em um encontro cordial e produtivo. Lula mostrou que coloca os interesses brasileiros em primeiro lugar. Assim se faz política externa: com respeito, soberania e determinação! A extrema direita achou que o Brasil ficaria de joelhos. Enganou-se. O diálogo venceu, o ódio perdeu”, resumiu o senador.

O líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), usou o bom humor para celebrar o encontro e seus bons resultados.

“Tem coisa que nem a inteligência artificial consegue prever! Mas aconteceu: Lula e Trump lado a lado. Eu te entendo, Trump, é difícil resistir ao carisma do nosso presidente”, afirmou Randolfe.

Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA) também ressaltou o diálogo alcançado.

“As negociações sobre o tarifaço têm avançado e o tom da conversa foi de respeito e cooperação. O presidente Lula mostrou, mais uma vez, por que é um dos maiores estadistas do nosso tempo, sempre aberto ao diálogo, mas extremamente firme na defesa da nossa soberania e do povo brasileiro. Independentemente de quem esteja do outro lado da mesa, o Brasil e o nosso povo sempre estarão em primeiro lugar”, avaliou o senador.

Para o senador Fabiano Contarato (PT-ES), foi “um momento diplomático decisivo”.

“Prelúdio do fim do tarifaço. O Brasil dialoga de igual para igual com qualquer nação. E não há sabotador-geral da República capaz de minar nossa soberania”, disse Contarato.

A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.

Edgar Lisboa