“Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. Aparte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (Fernando Pessoa)

Vou pedir licença aos leitores não fumantes. Eu, apreciador de um bom charuto, antes de iniciar essas reflexões natalinas projetadas no ano que vem, tive a ousadia de buscar na Tabacaria, digo no poema do mestre Fernando pessoa, um charuto, digo versos, para acender e ficar pensando melhor, estratégia já propagada pelo eterno cantor Chico Science, em sua canção Praieira, lá com cerveja, aqui com versos e charutos.
E vou aos versos iniciais do poema Tabacaria, pois ele acende a mesma proposta que o Natal Cristão nos oferece como caminho para seguirmos nas nossas vidas, qual seja, esvaziar-se para termos a chance de estar perto do Tudo. Ora, o Natal é a festa de Encarnação de um Deus Criador de tudo, que se fez criatura, na fragilidade de um bebê humano, na humildade de um curral, para nos ensinar que, para ser o Rei do Universo, nenhuma das categorias de prestígio e poder terrenos são necessárias. Que a essência que nos compromete é o nosso próprio ser, face à Lei do Amor que rege a Criação.
O Natal nos transmite uma convocação ao senso de humildade. Foi ela o ponto de partida de Jesus Cristo, o Deus que se fez carne nesse mundo junto aos pobres e perseguidos, como migrantes sem casa para nascer. A humildade está na essência de todos os seus discursos.
Trago a grande virtude da humildade como ponto central para o planejamento do futuro, aquela que seria a chave para os grandes desafios da vida, inclusive para começarmos bem o ano de 2026, que se aproxima.
E por falar em 2026, até para avançar no raciocínio de que as bençãos do Natal se estendam sobre o Novo Ano, é preciso situar que se trata de um ano bissexto à moda brasileira… O mês de fevereiro próximo não tem um dia a mais, como nos anos bissextos típicos.
O próximo ano, que chegará em dias, tem tanta agenda extraordinária no calendário que temos a sensação de ter vários dias mais na conta: será ano de Copa do Mundo de Futebol, eleições para Presidente e para o parlamento, fora toda a agenda tradicional de um ano comum somado ao empurra-empurra político a que estamos metidos há pelo menos duas décadas!
O ano de 2026 vem agitado, por essência, e nos transmite uma ideia contraditória! Haverá mais dias no ano e, por outro lado, fica a sensação de que o ano termina antes de começar, pois o ano bissexto brasileiro não vai começa depois do Carnaval, como tradicionalmente ocorre, o seu início será após a Copa do Mundo, de pois das Eleições, com direito a prorrogações, quando Papai Noel já voltou para nos despedirmos do ano velho.
Ufa! Como, então, devemos nos preparar para um 2026 bissexto, à moda brasileira, tão naturalmente já cheio de desafios?
A manjedoura nos dá diversas lições, mas aqui vou focar apenas em um aspecto, um critério útil para refletirmos sobre 2026 e qualquer futuro desafiador: mirar no exemplo insuperável de Jesus Cristo, no Deus que se fez Menino para, desse ponto de partida, concretizar na Cruz um projeto de salvação para toda a humanidade. Assim, planejemos sempre o futuro nos “esvaziando”, nos
afirmando como “nada”, a partir da humildade e do amor. A ausência de pretensões diminui a possibilidade de frustações, e permite que nos alimentemos do sentimento de gratidão, sonhar naquilo que realmente vale a pena, e nos descobrirmos como instrumentos vivos e transformadores à luz dos ensinamentos que Jesus nos deixou há 2025 anos.
Com humildade, nenhum dos desafios ou encrencas que o ano bissexto brasileiro de 2026 nos imponha será páreo para nós e, chegando ao fim desse charuto, desejo a todos os leitores um abençoado Natal, e um 2026 cheio de vitórias, ficando a dica de que, com humildade, se vence tudo!
Por Kildare Meira, advogado, sócio da Covac Advogados.