
A semana que terminou com a prisão de Jair Bolsonaro foi uma das mais tumultuadas da vida política recente. Brasília viveu tensão, perplexidade e polarização renovada. Basta observar que todas as outras pautas – da COP à PEC da Blindagem, da sabatina de Jorge Messias ao tarifaço dos EUA – foram engolidas pelo episódio envolvendo o ex-presidente. O país, mais uma vez, orbitou a figura de Bolsonaro.
A Violação da Tornozeleira
O ponto de inflexão foi a violação da tornozeleira eletrônica. A defesa sabia disso. Tanto que, antes mesmo da prisão preventiva, correu ao STF pedindo o retorno ao regime domiciliar. Mas Alexandre de Moraes rejeitou de imediato: em caso de risco de fuga, não se discute regime.
A divulgação do vídeo, no qual o próprio ex-presidente descreve o que fez, destruiu a narrativa de perseguição e deixou aliados atônitos.
Clima de Cerco e Rotas Fechadas
Nos bastidores, aliados admitem:
“A situação piorou muito.” Bolsonaristas temem que o trânsito em julgado ocorra entre segunda e terça-feira, com transferência para a Papuda já na quarta, caso Moraes determine. Até alguns dias atrás, ainda se acreditava na volta ao domiciliar. Hoje, analistas consideram o cenário improvável. A acusação de tentativa de evasão complicou drasticamente a vida jurídica do ex-presidente.
Reação dos Aliados: Barulho Sem Estratégia
A ala política de Bolsonaro fez muito ruído, chamou a prisão de ilegal, tentou insuflar indignação.
Mas foi uma reação desorganizada, defensiva e, acima de tudo, ineficaz. A comunicação do bolsonarismo viveu seu pior momento desde 2019 – versões desencontradas, vídeos dos filhos, discursos que foram do religioso ao conspiratório. Nada se sustentou diante do vídeo oficial.
A Narrativa do Surto ou da Fuga
A dúvida persiste: Foi um surto psicológico ou tentativa de fuga deliberada? Especialistas esperam que os laudos médicos aprofundem o tema.
Se houver comprovação de incapacidade momentânea, abre-se um campo jurídico; se for tentativa de evasão, agrava ainda mais o quadro.
No momento, Bolsonaro está coberto por um manto de incertezas – e isso, para um líder político, é devastador.
“Sequestro da Agenda”
O cientista político Marco Ruediger sintetizou com precisão, “O bolsonarismo sequestra o ponto político do Brasil.” Em apenas 24 horas:
1,3 milhão de posts e mais de 28 milhões de interações nas redes. A repercussão foi mundial – AP, New York Times, televisões europeias.
Enquanto isso, temas centrais para o país ficaram soterrados:
- Tarifaço de Trump e retirada de tarifas sobre café, carnes, frutas e cacau;
- PEC da Blindagem e crise entre Congresso e STF;
- Banco Master/BRB e investigações financeiras;
- Indicação de Jorge Messias ao STF;
- Andamento do PL Antifacção.
O Brasil volta sempre ao mesmo ciclo tóxico.
O Uso da Religião e o Colapso da Narrativa
A religião foi acionada como escudo político – discurso de perseguição, “justiça de Deus”, desconfiança das instituições.
Mas o vídeo da tornozeleira desmontou grande parte dessa retórica. Quando a realidade aparece de forma tão concreta, a guerra de narrativas perde força.
Blsonaro: De Líder a Fardo Político
Bolsonaro chega a este momento como um personagem esfacelado.
Sua imagem pública é a de um homem:dentro de uma cela, tentando romper tornozeleira, acuado, sem comando, sem articulação política, dependente de depoimentos emocionais e desastrados da própria família.
A comparação com Lula é inevitável.
Enquanto Lula, preso, organizou seu campo político, manteve coesão e discurso, Bolsonaro se vê desorientado, sem plano e sem liderar sua própria base.
O Começo do Eclipse: Quem Liderará a Direita?
A direita tem entre 25% e 30% do eleitorado – força real e competitiva. Mas já está aberta a disputa por uma nova liderança: Nomes como Tarcísio, Zema, Michelle Bolsonaro e senadores do PL começam a se movimentar. O “cometa Bolsonaro” pode estar entrando na fase de apagamento.
Não desaparecerá, mas deixa de ser estrela-guia.
Um Campo Político Sem Comando
A prisão revela aquilo que analistas já apontavam:
O bolsonarismo é um movimento forte, mas carente de estrutura institucional e incapaz de produzir soluções, propostas ou lideranças maduras.
Bolsonaro cumpria esse papel simbólico.
Sem ele, o campo fica sem bússola – e isso abre um espaço gigantesco para novas articulações.
Brasília Segue em Ebulição
Enquanto isso, temas importantes seguem seu curso: PL Antifacção. A disputa entre Congresso, governadores e governo federal segue dura.
O episódio Bolsonaro empurrou tudo para segundo plano.
Indicação de Jorge Messias ao STF
Nome técnico, sólido, mas tragado pelo caos político.
Tarifaço de Trump
A retirada dos 40% de tarifa é uma vitória econômica relevante, mas passou quase despercebida.
Crises institucionais
PEC da Blindagem e tensões com o STF seguem latentes.
Conclusão: O Fim de Uma Era?
O Brasil viveu, nos últimos anos, sob uma sucessão de crises intensificadas pela retórica anti-institucional bolsonarista. Agora, o país assiste ao colapso simbólico dessa liderança.
Bolsonaro está fragilizado como nunca, dividido entre acusações, crises emocionais e isolamento político. O futuro da direita já não passa exclusivamente por ele.
O mais provável é um lento eclipse, não uma queda instantânea, mas um apagamento progressivo.
Os próximos dias, julgamento, laudos médicos, eventual transferência para a Papuda, definirão se esse eclipse será parcial ou total.
Primeira Turma do STF decide nesta segunda (24) se mantém ou revoga prisão de Bolsonaro
Os quatro ministros terão das 8h às 20h para deliberarem, em plenário virtual, sobre a decisão monocrática do relator do caso, Alexandre de Moraes.
Primeira Turma do STF decide nesta segunda (24) se mantém ou revoga prisão de Bolsonaro
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal vai decidir nesta segunda-feira (24) se mantém ou revoga a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro. Os quatro ministros terão das 8h às 20h para deliberarem, em plenário virtual, sobre a decisão monocrática do relator do caso, Alexandre de Moraes.
O ex-presidente passou a segunda noite numa sala especial de 12 metros quadrados da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde poderá começar a cumprir a pena definitiva de 27 anos de prisão pela trama golpista.
Além de Moraes, fazem parte da Primeira Turma os ministros Cristiano Zanin, Carmem Lúcia e Flávio Dino.
Primeira Turma do STF decide manter prisão preventiva de Bolsonaro por unanimidade

Ministros Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia confirmaram decisão de Moraes que determinou que a prisão domiciliar de Bolsonaro fosse convertida em preventiva. Ex-presidente foi levado para a Superintendência da PF, em Brasília.
- A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, nesta segunda-feira (24) manter a decisão do ministro Alexandre de Moraes que decretou a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro.
- Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia votaram para acompanhar o entendimento de Moraes.
- Bolsonaro está preso desde sábado (22) e ocupa uma sala da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. .
- O relator do caso, ministro Moraes converteu a prisão domiciliar de Bolsonaro em preventiva no sábado (22). A decisão foi tomada após o ex-presidente tentar violar a tornozeleira eletrônica horas depois do filho Flávio Bolsonaro convocar uma vigília religiosa na frente da casa onde ele estava detido.
Portal Repórter Brasília, Edgar