Francisco Beltrao é uma praça financeira importante, com 97.000 habitantes, só de cooperativas de credito existem pelo menos quinze agências de seis sistemas de cooperativas diferentes, ou seja, vinculadas a diferentes centrais de cooperativas de credito. Sem dúvida uma grande conquista. O problema é o distanciamento da doutrina cooperativista. A cada vez mais evidente propensao à concorrencia predatoria emtre si, abandonando o espírito cooperativista e o entendimento por parte da populacao da diferenca entre cooperativa e empresa comum, ou banco. Sim, com base no marketing as cooperativas de credito tornaram se conhecidas por distribuírem sobras entre seus associados. Os bancos distribuem lucros entre seus acionistas. Os Bancos podem captar na Bolsa de Valores recursos para sua expansao, as cooperativas dependem da boa vontade dos seus associados em integralizar cotas-partes. Na prática tem acontecido o seguinte: o associado passa a equiparar a integralizacao de cotas-partes à compra de ações de uma empresa comum. Com isso, as cooperativas de credito se obrigam a tratar o capital social como um fundo de investimento dos seus associados, atraindo-os oferecendo boa rentabilidade. Pela doutrina cooperativista, o associado integraliza cotas-partes nao para ganhar dinheiro atraves delas, mas para viabilizar servicos mais em conta para o quadro social da cooperativa. Sim claro, as cotas-partes precisam ter seus valores corregidos pelo menos pela inflacao, mas nao se compara com capital acionario, com acoes que rendem dividendos todo ano. O marketing das nossas cooperativas de credito não ajuda a promover a consciencia cooperativista. A visao transmitida é por demais utilitarista. Pois cooperativa nao é apenas para “ganhar dinheiro”, mas sim para organizar o povo e a producao fortalecendo a sociedade. Cooperativa é sociedade de pessoas nao de capitais. Mas nossas cooperativas de credito chegaram ao ponto de distribuir sobras considerando inclusive o valor integralizado em cotas-partes pelo associado, ou seja, com base no capital e nao apenas nos servicos prestados ou na decisao da assembleia. Nossas cooperativas de credito nao podem se tornar uma “aberracao doutrinaria” por conta do espirito ganancioso que nelas se instala. Os bancos andam reclamando “do avanco das cooperativas de credito” porque, o Banco Central tem estimulado o cooperativismo de credito para que o nosso sistema financeiro seja mais competitivo. E de fato precisa, porque este Brasil dificilmente vai avancar com um sistema financeiro nacional como este que temos. O cooperativismo de crédito ainda ocupa pouco espaco no sistema financeiro nacional, mas anda dando na vista com seu crescimento de 30% ao ano, sedes portentosas e diretores com aviões a disposicao, além de bastante isencao de impostos. Nossas cooperativas de credito precisam ser mais verdadeiras, se preocuparem mais com a geracao de riquezas e nao tanto com a extracao de riquezas como lamentavelmente fazem nossos bancos.
Christopher, um dos responsáveis pela criação de sistema Baser-Cresol, de forma muito objetiva e simples aponta para uma das distorções mais graves do cooperativismo. Não bastasse as cooperativas de produção, fruto de política pública, se transformarem em elo da correia de transmissão do oligopólios das commodities no mundo, também o cooperativismo de crédito para a agricultura familiar, se comportarem como da mesma forma que os agentes financeiros, implacáveis acumuladores do resultado do trabalho alheio. Muito bom Christophe, pelo conteúdo e coragem, já conhecida e benfazeja sempre ao lado dos interesses dos agricultores familiares. Ainda há tempo para os dirigentes e associados destas cooperativas se voltarem aos principios e Rocherdale, onde nasceu o cooperativismo democrático!