Polícia Federal pede aos senadores reforço de recursos

Andrei Rodrigues e Hamilton Mourão (Crédito; Agência Senado).

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, abriu sua participação na CPI do Crime Organizado com um alerta: sem mais estrutura, o Estado continuará atrás das facções. Pediu um aumento de 38% no orçamento da PF, de R$ 1,8 bilhão para R$ 2,5 bilhões, e defendeu dobrar o efetivo atual de 13 mil policiais. Segundo ele, a demanda por investigações, fiscalização de fronteiras, imigração, controle de armas e emissão de passaportes cresce em ritmo muito superior à capacidade operacional da instituição.

Integração policial

Rodrigues reforçou a importância das FICCO (Forças Integradas de Combate ao Crime Organizado), estruturas que unem PF e polícias estaduais. Para ele, a integração é o único caminho para quebrar as redes criminosas que operam nacional e internacionalmente. Também citou que a PEC da Segurança pode consolidar um modelo mais robusto de cooperação entre forças federais e estaduais.

Risco de reduzir a capacidade da PF

O diretor-geral criticou pontos do PL Antifacção relatado por Guilherme Derrite. Disse que o texto desvia recursos essenciais de fundos como Funapol, FNSP e Fundo Antidrogas, provocando, “redução de capacidade da PF, e abrindo espaço para conflitos processuais que podem resultar em nulidades. Combate ao crime não pode fragilizar quem está na linha de frente”, afirmou.

Avanço das facções no mundo digital

Rodrigues também alertou para a profissionalização das facções na economia digital, que utilizam fintechs, criptomoedas e plataformas virtuais para lavar dinheiro. Ele resumiu: “O Estado ainda é analógico, o crime já é digital”.

Descapitalização é a arma mais eficaz

A PF considera a descapitalização, atacar o dinheiro e o patrimônio das facções, o eixo mais eficiente do enfrentamento. O volume apreendido saltou de R$ 1 bilhão (2022) para R$ 6,4 bilhões (2024), com expectativa de alcançar R$ 9 bilhões em 2025. Entre os bens confiscados estão imóveis, veículos, aeronaves e recursos líquidos.

Mourão rebate afirmações

O Vice-presidente da CPI, o senador gaúcho Hamilton Mourão (Republicanos/RS) avaliou o depoimento como apenas o início de um trabalho extenso, e discordou da fala do diretor-geral sobre o suposto “bom controle das fronteiras”. Para Mourão, “se esse controle fosse realmente eficiente, o número de ilícitos transnacionais seria muito menor”.

Operação Contenção

Mourão afirmou à coluna Repórter Brasília que a comissão buscou esclarecer a atuação da PF na Operação Contenção, realizada no Rio de Janeiro. Segundo o senador, “o delegado confirmou que a PF tinha conhecimento prévio da ação, mas optou por não apoiar nem participar”. Ele também cobrou explicações mais claras sobre a movimentação de facções brasileiras no exterior — tema que, na sua avaliação, ficou insuficientemente respondido.

Próximos passos da CPI

Para Mourão, o primeiro dia deixa evidente o tamanho dos desafios. O senador avisou que o Diretor de Inteligência da PF, ausente na sessão, será convocado novamente. “Temos muito trabalho pela frente, mas vamos desnudar todos os aspectos dessa questão que aflige milhares de brasileiros”, afirmou.

A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.

Edgar Lisboa