Bolsonaro, Braga Netto, Augusto Heleno e Ramagem: os indiciados pela PF por tentativa de golpe e o papel de cada um

Relatório afirma que o grupo ligado ao ex-presidente se dividiu em seis núcleos para a organização do plano antidemocrático

Valter Campanato/Agência Brasil

Além do ex-presidente Jair Bolsonaro, entre os indiciados pela Polícia Federal no inquérito que apura suspeitas de tentativa de golpe no país estão ainda ex-ministros, ex-assessores e políticos de seu entorno. Ao todo, são 37 indiciados, incluindo os ex-ministros Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres, o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, o ex-assessor da Presidência Filipe Martins e o presidente do PL, Valdemar Costa Netto.

A PF afirma que o grupo ligado a Bolsonaro se dividiu em seis núcleos para organizar uma tentativa de golpe de Estado, como “Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral”, “Núcleo Jurídico” e “Inteligência Paralela”. A relatoria está com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Jair Bolsonaro

De acordo com a PF, há “dados que comprovam” que Bolsonaro participou ativamente do processo de elaboração e tentativa de execução do golpe. Além disso, o então presidente “analisou e alterou uma minuta de decreto que, tudo indica, embasaria a consumação do golpe de Estado em andamento”. A defesa de Bolsonaro tem negado que ele tenha participado da “elaboração de qualquer decreto que visasse alterar de forma ilegal o Estado Democrático de Direito”.

Walter Braga Netto

Ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, e candidato a vice na chapa à reeleição de Bolsonaro, o general da reserva teria atuado na incitação contra membros das Forças Armadas que não aderiram à tentativa de golpe. Mensagens mostram que ele ordenou críticas aos então comandantes do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior. No dia da operação, afirmou ao GLOBO que “é tudo uma invenção, um sonho”.

Augusto Heleno

O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional afirmou, em reunião ministerial, que se “tiver que virar a mesa é antes das eleições” e que era necessário agir “contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas”. Também relatou ter discutido um plano para infiltrar agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em campanhas eleitorais. Heleno não tem se manifestado sobre as acusações.

Valdemar Costa Neto

Presidente do PL, partido de Bolsonaro, o ex-deputado chegou a ser preso em flagrante em uma das operações da PF por posse ilegal de arma e usurpação de bens da União (devido a uma pepita de ouro sem origem declarada). Valdemar é investigado pelo suposto uso da estrutura do PL para endossar ataques às urnas eletrônicas.

Anderson Torres

No ano passado, foi encontrada em sua casa a minuta de um decreto que previa uma espécie de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após as eleições. Mais recentemente, a PF descobriu que, quando a minuta foi encontrada, houve “intensa comunicação entre parte dos investigados em tom de preocupação”, o que indicaria o conhecimento sobre o documento. Anderson Torres afirmou que o documento é um “texto apócrifo” que seria descartado.

Filipe Martins

Ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins foi preso na casa de sua namorada, em Ponta Grossa (PR), no dia 8 de fevereiro. Segundo a PF, Martins foi responsável por levar ao ex-mandatário uma minuta golpista que previa a prisão de autoridades, entre elas o ministro do STF Alexandre de Moraes, e a realização de novas eleições. As investigações apontam que ele teria viajado para Orlando a bordo do avião presidencial, em dezembro de 2022, burlando o sistema migratório, “sem realizar o procedimento de saída com o passaporte em território nacional” para “se furtar da aplicação da lei penal”.

Almir Garnier

Em reunião com Bolsonaro, o então comandante da Marinha teria sido o único chefe de uma Força a encampar o plano golpista de manter Bolsonaro no poder. Segundo a PF, ele fazia parte de um núcleo de oficiais que “teria se utilizado da alta patente militar por eles detida para influenciar e incitar o apoio aos demais núcleos de atuação, por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas, para a consumação do golpe de Estado”. Em mensagem enviada a interlocutores no dia da operação, ele afirmou: “Peço a todos que orem pelo Brasil e por mim. Continuamos juntos na fé, buscando sempre fazer o que é certo, em nome de Jesus”.

Paulo Sérgio Nogueira

De acordo com a PF, Nogueira, ex-ministro da Defesa, manipulou o relatório da pasta sobre o sistema eleitoral, postergando a divulgação depois que não foram identificadas vulnerabilidades nas urnas eletrônicas. Em reunião ministerial, disse que estava “na linha de contato com inimigo” em comissão do TSE e que o grupo seria “para inglês ver”. A defesa de Paulo Sérgio tem afirmado que o ex-ministro “sempre agiu corretamente, é inocente e confia na Justiça”.

Valdemar Costa Neto

Presidente do PL, partido de Bolsonaro, o ex-deputado chegou a ser preso em flagrante em uma das operações da PF por posse ilegal de arma e usurpação de bens da União (devido a uma pepita de ouro sem origem declarada). Valdemar é investigado pelo suposto uso da estrutura do PL para endossar ataques às urnas eletrônicas.

Marcelo Costa Câmara

Ex-assessor de Bolsonaro, o coronel da reserva é suspeito de ter monitorado de forma ilegal o ministro Alexandre de Moraes. Câmara trocou mensagens com o tenente-coronel Mauro Cid detalhando um itinerário de voos que, posteriormente, a PF descobriu que coincidia com os trajetos feitos por Moraes no período (dezembro de 2022). O advogado Eduardo Kuntz disse que ele sempre atuou “de forma legítima e com instrumentos lícitos”.

Tércio Arnaud

Também ex-assessor de Bolsonaro, é apontado como integrante do grupo conhecido como “gabinete do ódio”. Teria auxiliado na produção, divulgação e amplificação de notícias falsas sobre o processo eleitoral. Ele tem alegado inocência.

Ronald Ferreira Junior

Tenente-coronel do Exército, teria atuado na elaboração de uma minuta de decreto que embasaria um golpe de Estado. Segundo a PF, as investigações demonstram que ele tinha posse de documentos que seriam complementos da suposta minuta golpista. Ele ainda não se manifestou sobre as investigações.

Bernardo Romão Correa Netto

Preso pela PF em Brasília após voltar de missão nos Estados Unidos, o coronel do Exército é apontado pela PF como o organizador de uma reunião de oficiais das Forças Especiais do Exército para discutir a trama golpista em 28 de novembro de 2022. Correa Netto era assistente do Comando Militar do Sul e apontado como homem de confiança do tenente-coronel Mauro Cid. O militar ainda não se manifestou sobre o caso.

Repórter Brasília/Com informações do O Globo

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