Desde a posse de Trump, ouvimos que o mundo seria multipolar, que a globalização enfrentava seu fim e que a ascensão de novos polos de poder poderia redesenhar as relações internacionais. Mas a realidade se impõe com mais força do que qualquer teoria de ocasião. A verdade é que a globalização venceu — e que o mundo é mais plano do que nunca, como bem antecipou Thomas Friedman em sua clássica obra O Mundo é Plano.
A economia global está interligada de forma profunda. As cadeias de suprimentos atravessam continentes. Uma peça produzida no Sudeste Asiático se transforma em produto final na Europa e chega ao consumidor na América do Sul. Tudo depende de tudo. Mas, acima de tudo, o mundo depende da China.
A China não é apenas a fábrica do mundo. É também o maior parceiro comercial de dezenas de países, a principal fornecedora de insumos industriais, de tecnologia, de máquinas, de semicondutores e de produtos químicos. O país asiático tornou-se o centro gravitacional da economia global. Qualquer tentativa de isolar a China, como aventam algumas potências ocidentais, é pura retórica — ou pior, um tiro no pé.
Provocar a China, como tem feito uma parte do Ocidente, é uma escolha de alto risco. Seria muito mais inteligente reconhecer que a nova ordem global já está em curso e que, em vez de tentar conter a China, o melhor caminho seria sentar-se à mesa com ela e com o mundo, reorganizar a globalização e pactuar regras mais justas e estáveis para todos.
O mundo não pode se dar ao luxo de desglobalizar. O custo seria alto demais. Precisamos de estabilidade, previsibilidade e cooperação e liberdade econômica. O mundo é plano, sim — e agora, mais do que nunca, é hora de reorganizar esse “tabuleiro”, com responsabilidade e pragmatismo.
Jeronimo Goergen é advogado, Presidente do Instituto Liberdade Econômica (ILE)
Portal Repórter Brasília, Edgar Lisboa