Mercosul: Cúpula fria, mas simbólica

Paulo Paim (Crédito: Agência Senado)

A recente cúpula do Mercosul, realizada em Buenos Aires, na Argentina, escancarou as divergências políticas entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei. O encontro foi marcado por gestos protocolares, ausência de reunião bilateral e discursos antagônicos. Lula, ao assumir a presidência rotativa do bloco, fez uma defesa firme do Mercosul como instrumento de proteção econômica e integração regional. Milei, por outro lado, reiterou sua visão crítica, classificando o bloco como uma “cortina de ferro” para as exportações argentinas.

Combate ao crime organizado

A frieza entre os dois líderes não é nova. Desde a campanha que levou Milei ao poder, ataques ao petista marcaram o tom do argentino. Lula, por sua vez, evitou a posse de Milei. Mesmo assim, há interesses comuns entre os países, como o combate ao crime organizado e o avanço de acordos internacionais.

Expectativa com a União Europeia

O grande entrave segue sendo o impasse com a União Europeia. Assinado em 2019, o acordo com o Mercosul permanece travado, sobretudo por resistência da França e exigências ambientais. Lula, ao reassumir o comando do bloco, deve priorizar esse avanço. Como bem pontuou o senador Paulo Paim, “a demora na ratificação já representou a perda de milhões de empregos, e oportunidades econômicas desperdiçadas”.

Sinalização para a UE

Um dos pontos positivos da cúpula foi o anúncio de um novo acordo de livre comércio entre o Mercosul e os países da EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein). Trata-se de uma sinalização estratégica e importante ao mundo, especialmente à União Europeia. O acordo com a EFTA abre um mercado de alto poder aquisitivo, e gera expectativa de aumento das exportações de bens industrializados. A indústria brasileira vê com otimismo a abertura desse novo canal.

Chance de mostrar relevância

Além do mais, num momento em que os Estados Unidos adotam uma postura mais isolacionista, o fortalecimento de laços entre Europa e América do Sul se torna uma estratégia geopolítica importante. O Mercosul tem aqui uma chance histórica de mostrar sua relevância no cenário internacional.

O futuro do Mercosul

O Mercosul enfrenta desafios internos e externos. Internamente, precisa lidar com os diferentes projetos políticos de seus integrantes — de uma visão mais protecionista como a de Lula, a uma liberal e individualista, como a de Milei. Externamente, precisa mostrar que é capaz de ser competitivo, moderno e atrativo para novos acordos internacionais.

Diálogo com diferentes visões

A presidência brasileira no bloco é uma oportunidade de reposicionar o Mercosul como um ator relevante, integrador e pragmático. Lula, com sua bagagem diplomática e apoio de países como o Paraguai e o Uruguai, pode pavimentar uma nova fase para o bloco.

Caminho de fortalecimento

O tom pode até ter sido frio na cúpula, mas o conteúdo sinaliza que há um caminho de reconstrução e fortalecimento. E isso depende muito da disposição política de seus líderes, especialmente de Lula e Milei em separar suas diferenças ideológicas dos interesses concretos de suas populações.

A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.

Edgar Lisboa