
O artigo de Lula publicado no New York Times foi mais que um gesto de política externa: foi um recado direto a Donald Trump e, sobretudo, uma reafirmação de princípios inegociáveis. Ao dizer que a democracia e a soberania brasileira não estão em discussão, o presidente marca posição em um tabuleiro internacional cada vez mais permeado por interesses econômicos e pressões políticas.
Democracia não se negocia
Lula deixou claro que no Brasil tudo pode ser objeto de debate, menos a democracia e a soberania. Esse recado tem peso histórico. Diante de pressões externas, inclusive da retórica de Donald Trump, que volta a ameaçar o país, a mensagem é inequívoca, há fronteiras intransponíveis. A democracia não está à venda, nem a soberania pode ser relativizada.
Valor permanente

Pompeo de Mattos (Crédito:Kayo Magalhães, Câmara dos Deputados)
O deputado Pompeo de Mattos (PDT/RS) traduz bem o sentimento nacional ao lembrar que “não existe dono do mundo. Nem os Estados Unidos, nem a China, nem a Rússia. O Brasil também não pode se arvorar como tal, mas precisa se respeitar para ser respeitado”.
O falso xerife do planeta
A postura de Trump, de agir como “xerife do mundo”, revela mais fraqueza que força. Não beneficia nem o povo americano, tampouco os países atingidos por sua política unilateral. O exemplo está na guerra tarifária com a China. Enquanto os EUA impõem barreiras, perdem mercados; a China responde com firmeza, sem isolar-se. O Brasil, por não ter o mesmo poderio econômico, sente os efeitos, mas não se resigna: busca clareza e equilíbrio no mercado global.
O respeito como via de mão dupla
Pompeo de Mattos é enfático: “o respeito deve ser mútuo. O Brasil não precisa cutucar a onça com vara curta, mas tampouco pode se ajoelhar diante das pressões externas. O respeito que oferece é o respeito que exige. Essa lógica deveria guiar as relações internacionais: cooperação sem submissão, diálogo sem intimidação”.
Multilateralismo contra imposições
Lula não recusa a legitimidade de Trump defender empregos e reindustrialização nos EUA, algo que ele próprio já defendeu no Brasil em outros tempos. O ponto de atrito está no método: recorrer a tarifas unilaterais e punições seletivas contra países como o Brasil. A defesa do multilateralismo, feita pelo presidente americano, mostra que a solução não é impor sanções para proteger aliados políticos, mas buscar acordos globais mais justos.
A democracia brasileira sob ataque externo
O governo norte-americano, ao adotar medidas punitivas seletivas, revela um viés político evidente: tentar blindar Jair Bolsonaro, condenado por tramar contra as instituições democráticas. Ao denunciar isso em público, Lula amplia o debate e traz à cena internacional a percepção de que o Brasil não aceitará interferências externas que fragilizam sua democracia.
O Brasil que se impõe
O mais importante, contudo, é que Lula resgata a ideia de que o Brasil fala por si. Ao se dirigir diretamente ao leitor do New York Times, mostra que a política externa não é apenas conversa de bastidores, mas debate público e transparente.
A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.
Edgar Lisboa