Judas (Judson Santos)

Judson Santos/Divulgação

Judas, dissimulado, homônimo do irmão de Jesus, mas diferente no caráter, foi indicado pelo Mestre para fazer parte do primeiro grupo de apóstolos. Jesus tratava Judas como amigo.

É possível que o comportamento dissimulado de Judas Iscariotes tenha mudado para pior durante o exercício de seu apostolado. Além do semblante enigmático, os pensamentos autodestrutivos o perseguiam.
No plano político, Barrabás solto da prisão, nada acontecia na região. Judas observa a languidez dos discípulos de Jesus, sem a mínima expressão de exército numa possível reação na luta pelo poder nas mãos dos romanos. A ideia da independência se estribava em Judas. A visão pacífica de um reino celestial, sim, estava nos planos de Jesus. Mas os discípulos sabiam que a luta armada estava fora dos planos do mestre.
Numa construção imaginária, um exército sonhado por Judas galopava sob suas ordens e marchava ao ataque contra Jesus e os romanos. As ações que seguiam o caudilho das equivocadas convicções tornavam-se obsessão na mente de um apóstolo sonhador.
No passado, Caim era movido pela ganância, e Abel, seu irmão, o perfil do bom filho. Se fosse hoje, um perfil de filho educado, com boas notas na escola. Mas, Caim mata Abel! Por quê? O mal mata o bem. Morre um homem pacífico. Morre quem não tinha nenhum motivo para ser assassinado.
O tempo passou na velocidade do vento das areias do deserto. No beijo do amigo, Jesus é entregue para morrer. O Mestre é vendido por trinta moedas de prata. Ele carrega a cruz sob um sol escaldante. Surpreendeu a todos se declarando amigo de Judas Iscariotes.
Jesus morre para salvar a vida de seus amigos.
O Mestre errou na escolha de Judas? Há mais mistérios nas marcas nas areias dos desertos feitas pelas sandálias de Jesus do que na sinuosidade do rastro da serpente.
A ambição de Judas era crescente e irreversível. Não começava e nem terminava nas trinta moedas de prata! Com essas moedas, Judas Iscariotes não compra a adesão de ninguém. Algumas moedas não compram armas, nem ideologias. Não compram políticos. Moedas não arregimentam exércitos. As moedas, metafóricas, simbólicas ou não, eram poucas.
E a libertação do jugo, no ocaso dos ideais políticos, estava se tornando um sonho natimorto.
A noite da ceia termina. Judas, imóvel, lança um olhar frio e perdido no nada, sem a menor percepção dos significados do pão e do vinho. Ele segura um pedaço de pão molhado.
Judas decide trair Jesus com um beijo, como quem dissesse: é este! Judas o beijou e foi para a forca.
Se Judas não estivesse no contexto histórico da cruz, a obra do calvário sofreria impedimentos? As circunstâncias da morte de Judas não tiveram protagonismo suficiente na grande obra da salvação. O beijo de Judas, sem símbolo profético, simbólico ou literal. A corda e a forca de Judas foram elementos inexpressivos na contribuição para a salvação do mundo.
A história da cruz teria o mesmo desfecho sem a interferência de Judas? Sim! A forca é a tolice vazia de significados, o resultado de um plano inútil, substituível e mal calculado.
JUDSON SANTOS é teólogo, professor e escritor. Membro da Academia Evangélica de Letras do DF

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