A embaixatriz da Áustria, Angelika Scholz, leu meu livro Machado de Assis, uma ficção e pediu que eu escrevesse também sobre a Imperatriz Leopoldina. Aceitei o desafio, mergulhei na pesquisa e fiquei emocionada com a personagem. Leopoldina era, de fato, uma mulher encantadora.
Filha do imperador da Áustria Francisco I, bisneta da grande imperatriz Maria Teresa, cunhada de Napoleão Bonaparte — casado com sua irmã Maria Luísa — e sobrinha-neta de Maria Antonieta, guilhotinada na Revolução Francesa, Leopoldina trazia em sua linhagem o peso da história europeia.
Casou-se com D. Pedro I, que proclamou a Independência do Brasil. Antes do encontro pessoal, conheceu-o apenas por retratos, mas ao vê-lo ficou apaixonada. Ele era considerado belo e de grande magnetismo pessoal.
Quando as Cortes Portuguesas exigiram o retorno de D. João VI a Lisboa, ele deixou o Brasil e nomeou o filho como regente, aconselhando-o a ouvir sempre Leopoldina, que era culta e conhecia profundamente a política europeia. Em Portugal, D. João VI foi praticamente aprisionado em uma “prisão de luxo” e pouco tempo depois as Cortes determinaram também a volta de D. Pedro, sua esposa e filhos.
Para Leopoldina, o retorno seria confortável: ficaria próxima de Viena, junto de sua família, da qual sentia saudades. No entanto, ela já amava o Brasil — mais do que muitos brasileiros — e sabia que essa volta nos reduziria novamente à condição de colônia. Além disso, via que em Lisboa teriam o mesmo destino de D. João VI. Assim, antes mesmo de D. Pedro, ela proclamou o “Fico”.
Visão política de Leopoldina
Leopoldina foi a primeira liderança a compreender que o Brasil precisava manter seu vasto território para alcançar importância internacional. Defendeu essa visão junto a José Bonifácio, o Patriarca da Independência, empenhando-se em consolidar um caminho liberal.
Foi ela quem, ao receber nova ordem das Cortes Portuguesas para o imediato retorno da família real, escreveu a célebre carta a D. Pedro. Nela, aconselhava-o a romper os laços de submissão e libertar o Brasil da opressão. A carta chegou às mãos do príncipe regente em São Paulo, às margens do riacho do Ipiranga. Profundamente emocionado e revoltado, D. Pedro desembainhou a espada e proclamou: “Independência ou morte!”
A verdadeira influência
Muitos atribuem à Marquesa de Santos influência sobre a Independência. Isso não procede: ela conheceu D. Pedro apenas uma semana antes do 7 de setembro e nunca teve interesse político. Sua presença, ao contrário, esteve ligada ao desencadeamento de grande corrupção no período.
O legado interrompido
Quando Leopoldina foi afastada das decisões de governo, o país perdeu muito. Ela já refletia sobre educação, qualificação profissional e a preservação de um território continental. Se tivesse permanecido no centro do poder, o Brasil poderia ter se desenvolvido de forma mais sólida e estruturada.
A autora

Clotilde Chaparro é autora de cinco livros: Duzinda, O Ministério do Absurdo, Pesadelos e Sonhos, As Gêmeas e Machado de Assis, uma ficção. Suas obras foram traduzidas para o espanhol e o inglês.
Participou de sete Feiras Internacionais do Livro: Buenos Aires (Argentina), Miami (EUA), duas vezes em Nova York (EUA), Guadalajara (México), Bogotá (Colômbia) e Frankfurt (Alemanha).
Recebeu quatro prêmios nacionais, dois deles de alcance em todo o país — um no governo Dilma e outro no governo Temer —, reconhecidos por seu mérito literário, sem conotação política. Além disso, ganhou três prêmios no FAC do GDF.
Portal Repórter Brasília, Edgar Lisboa