O uso das redes sociais pelas comunidades religiosas tem se expandido significativamente, especialmente nos últimos anos e, de maneira ainda mais marcante, no período pós-pandemia.
Com a crescente digitalização da comunicação e o avanço da tecnologia, essas plataformas se tornaram não apenas ferramentas de alcance, mas também espaços de interação e de formação de novos discípulos, possibilitando o crescimento e o fortalecimento da fé em dimensões nunca antes imaginadas.
Além de ampliar a visibilidade das mensagens de cunho religioso, as redes sociais proporcionam uma oportunidade única para as igrejas se conectarem com diferentes públicos, inclusive aqueles que raramente frequentam um templo físico. Contudo, essa expansão digital apresenta uma série de desafios e riscos, que se agravam diante da inexperiência de muitos clérigos e líderes que, sem preparo adequado, enfrentam dificuldades para lidar com o impacto e a complexidade desse meio.
1. BENEFÍCIOS DO USO DAS REDES SOCIAIS
O potencial das redes sociais para o alcance e a disseminação de mensagens evangelísticas é inegável. Olhando para o valor das redes sociais na comunicação nesses tempos de sociedade líquida, ficamos a imaginar como conseguimos sobreviver até o final do século XX sem essas ferramentas “indispensáveis”, tanto em nosso dia a dia, quanto em nossas atividades eclesiásticas e profissionais, de um modo geral.
Entre os principais benefícios das redes sociais podemos destacar:
Ampliação do alcance da mensagem: As redes sociais permitem que as igrejas alcancem um público vasto e diversificado, transcendendo barreiras geográficas, culturais e sociais. Isso proporciona a oportunidade de alcançar pessoas que, de outra forma, poderiam não ter contato com a mensagem do Evangelho. Sermões, estudos bíblicos e mensagens edificantes podem ser acessados por milhares de pessoas simultaneamente, oferecendo um impacto global.
Facilidade de interação e engajamento: As plataformas sociais criam um canal de comunicação direta entre a liderança da igreja e seus membros, promovendo interações rápidas e permitindo o acompanhamento das necessidades espirituais e pessoais dos membros das igrejas. Essa proximidade virtual pode fortalecer a comunidade, facilitando o suporte mútuo, a oração coletiva e o compartilhamento de testemunhos, além do estreitamento dos laços fraternos.
Acesso a recursos de evangelismo e ensino: Redes como YouTube, Instagram e Facebook oferecem ferramentas multimídia que tornam o ensino mais atrativo e dinâmico. O uso de vídeos, imagens, transmissões ao vivo e stories facilita a compreensão e o compartilhamento da Palavra de Deus, permitindo que as igrejas utilizem uma abordagem criativa para transmitir ensinamentos, reflexões e eventos importantes que sem as redes sociais a maioria das igrejas não teria acesso.
Apoio em tempos de crise: Em momentos de crise, como a pandemia de COVID-19, as redes sociais provaram ser uma ferramenta indispensável para manter a comunhão e o apoio espiritual. As transmissões de cultos online, encontros virtuais de oração e mensagens diárias ajudaram a manter os membros conectados e espiritualmente fortalecidos. Isso permitiu que mantivéssemos de alguma forma o sentimento de pertencimento ao grupo. Para muitos isso foi muito reconfortante.
2. DESAFIOS NA UTILIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS
Embora os benefícios sejam muitos, o uso das redes sociais pelas igrejas evangélicas também apresenta desafios consideráveis:
Manutenção da relevância e qualidade do conteúdo: A quantidade de informações compartilhadas diariamente nas redes sociais é imensa, e manter-se relevante é um desafio constante. Isso requer um esforço contínuo para produzir conteúdo que não apenas transmitam a mensagem, mas também captem a atenção e o coração das pessoas. A necessidade de manter um fluxo constante de conteúdo pode levar à pressa na produção, o que compromete a qualidade e a profundidade da mensagem.
Gestão de críticas e comentários negativos: A exposição das igrejas nas redes pode atrair críticas, tanto construtivas quanto destrutivas. Pastores e líderes devem estar preparados para lidar com comentários negativos e até ataques pessoais, respondendo com sabedoria, amor e discernimento. A maneira como esses desafios são gerenciados pode impactar diretamente a imagem da igreja e a mensagem que ela deseja passar.
Conflitos entre tradição e modernidade: Muitas igrejas enfrentam dificuldades para equilibrar a adoção de novas tecnologias com a preservação de práticas e valores tradicionais. A introdução de elementos digitais, como transmissões ao vivo, reuniões online e interações por redes sociais, pode gerar desconforto, especialmente entre membros mais conservadores, que veem essas mudanças como uma possível ameaça à espiritualidade e à autenticidade da vivência religiosa. Esse receio é frequentemente associado à ideia de que a fé, transmitida de forma presencial e pessoal, corre o risco de perder a profundidade e o impacto que sempre teve nos encontros físicos. Além disso, há a preocupação de que a presença nas redes sociais comprometa o tempo e a atenção que deveriam ser dedicados à comunhão direta entre os membros e à oração coletiva.
Proteção da privacidade e segurança digital: Lidar com questões de segurança é essencial para evitar a exposição indevida de informações pessoais dos membros e líderes da igreja, uma vez que dados sensíveis podem ser vulneráveis em ambientes digitais. O uso inadequado das redes sociais, seja pela falta de conhecimento técnico ou pela ausência de políticas de segurança, pode resultar em graves riscos, como o vazamento de dados pessoais, invasões de privacidade e a exposição de interações privadas ou confidenciais entre membros. Para minimizar esses riscos, é essencial que as igrejas estabeleçam uma política clara de uso das redes sociais, incluindo práticas preventivas, como limitar a divulgação de informações pessoais, orientar sobre o uso adequado das plataformas e implementar medidas de segurança, como autenticação em duas etapas e controle rigoroso de acesso às contas oficiais. Essas ações não só protegem a comunidade, mas também demonstram responsabilidade e cuidado no uso das tecnologias, contribuindo para um ambiente digital mais seguro e confiável.
3. RISCOS DA INEXPERIÊNCIA NA COMUNICAÇÃO DIGITAL
A falta de preparo específico para lidar com as ferramentas digitais pode gerar riscos significativos:
Risco de superficialidade e simplificação excessiva: A rapidez e a efemeridade das redes sociais podem levar a um conteúdo mais superficial, em que mensagens profundas e bem elaboradas são substituídas por conteúdos curtos e pouco reflexivos. Isso pode comprometer a profundidade espiritual e teológica das mensagens, enfraquecendo o ensino bíblico.
Dependência excessiva da popularidade: É comum que líderes inexperientes caiam na armadilha de medir o impacto de suas mensagens pelo número de curtidas e compartilhamentos. Essa dependência pode desviar o foco do verdadeiro propósito de compartilhar a mensagem do Evangelho, levando pastores e líderes a adaptarem o conteúdo para agradar ao público em vez de manter a fidelidade à Palavra de Deus.
Falta de planejamento e estratégia: Sem um planejamento adequado, o uso das redes sociais pode ser desorganizado e ineficaz. Pastores que não estabelecem uma estratégia de comunicação correm o risco de transmitir uma imagem confusa e incoerente da igreja, comprometendo a eficácia da evangelização e do discipulado.
Concluindo, podemos afirmar que o uso das redes sociais pode ser uma ferramenta poderosa para o crescimento e a expansão do alcance das igrejas evangélicas. No entanto, para que isso seja eficaz, é fundamental que pastores e líderes busquem treinamento e capacitação para se comunicar de forma assertiva e responsável. O equilíbrio entre o uso adequado das ferramentas digitais e a manutenção da integridade da mensagem cristã é essencial para evitar os riscos e maximizar os benefícios que essas plataformas podem oferecer.
Jacildo da Silva Duarte é pastor, pedagogo, mestre em educação e doutor em ciências sociais.