
Há alguns comportamentos, atitudes ou respostas que são quase automáticas ao ser humano. Nós as fazemos ou reproduzimos sem qualquer reflexão. São quase atos condicionados, à semelhança da experiência comportamental com cães, realizado pelo fisiologista russo, e ganhador do Prêmio Nobel de Medicina, Ivan Pavlov, pai do processo de aprendizado chamado de “condicionamento clássico”.
Uma reação frequente ao sermos confrontados com a necessidade de atender a uma demanda externa, ou até mesmo assumir uma atitude pessoal que a nós mesmos nos impomos, é a declaração: “eu não tenho tempo”. É um quase alívio automático para a consciência, que nos traz um descanso instantâneo ao desconforto de não fazer aquilo que tínhamos que agir, mas que lá, no fundo da alma, sabemos que deveríamos ter feito.
Esta declaração de escusa deve perseguir a espécie humana desde os seus primórdios. Há até um verbo, pouco referenciado, no entanto, muito praticado, que é o procrastinar, que pode ser definido como o hábito de atrasar ou postergar atividades que precisam ser executadas no prazo adequado e exigido pelas circunstâncias.
A procrastinação, em geral, decorre do desejo de usufruir das atividades mais agradáveis ou menos relevantes, mas que nos trazem algum prazer imediato. É um comportamento comum, que pode gerar consequências negativas, como acúmulo de tarefas realmente importantes, aumento do estresse pelo sentimento de culpa e os prejuízos na produtividade e bem-estar pessoal ou coletivo.
Procrastinar não é simplesmente uma atitude de preguiça. É uma decisão consciente de adiar algo essencial, mesmo sabendo que isso pode trazer impactos negativos no futuro. Há diversas razões que nos conduzem à omissão da ação necessária como: a falta de motivação, o medo de fracassar, a dificuldade em lidar com sentimentos de ansiedade ou frustração, ou, até mesmo, os prazeres do dia a dia.
Na minha adolescência, tive a oportunidade de ouvir uma mensagem do pastor americano Larry Coe, durante o “Curso Conflitos da Vida”, que ministrava em suas passagens pelo Brasil. Coe buscava despertar nos ouvintes um compromisso efetivo com o Reino de Deus, com medidas práticas, como é comum na cultura estadunidense. Para lhes ser muito sincero, não me recordo de todo o conteúdo da ministração, mas uma frase que ele usou marcou a minha vida e tem repercussões até hoje. Segundo ele, a gestão do nosso “tempo é uma questão de prioridades”.
De modo muito significativo, a argumentação que ele usou para a administração do tempo que Deus concede a cada um mudou a minha maneira de gerir o meu tempo. Segundo sua alegação, o meu tempo é definido pela minha lista de prioridades pessoais.
Eu me recordo que em sua argumentação, voltada especialmente para os jovens, ele dizia: – “Você tem tempo para comer, para se divertir, para namorar, não? Você consegue fazer estas coisas, pois elas são essenciais para você”. Elas estão nos níveis superiores de suas prioridades de vida. Já o tempo para orar, proclamar, servir ao próximo muitas vezes é deixado de lado, pois, de fato, isso não é tão prioritário para você. E ele concluía sua reflexão dizendo: – “Quando você diz que não tem tempo para fazer algo, indiretamente você está dizendo que aquilo não é prioritário. E sempre encontramos tempo para fazer o que, de fato, queremos”. Esta afirmativa calou fundo na minha mente.
Desde então, eu tenho sido confrontado com esta verdade. Todas às vezes que tento justificar uma inação, eu me questiono: – Esta ação que deixei de praticar é de fato pelas minhas exaustivas tarefas, pela carência de tempo ou por que isso, verdadeiramente, não é importante para mim. Esta dúvida me ocorre no ambiente de trabalho, no meu relacionamento social, ou nas atividades eclesiásticas e, mais frequentemente, nas relações de família.
Racionalmente, buscamos alguma justificativa para aplacar o nosso sentimento de culpa pela inatividade. Às vezes é o excesso de trabalho, o cansaço, a imprecisão quanto ao que se pede para realizar, a exiguidade do tempo disponível. Há uma enormidade de justificativas, mas ao fim e ao cabo, o que nos falta é ter pré-estabelecido e mentalizado quais são as nossas prioridades cruciais. Pode parecer simplório, porém não sabemos muito bem quais são as reais prioridades da vida. Em muitas oportunidades, reposicionamos os itens prioritários ao sabor das vicissitudes momentâneas.
Encontramos na Bíblia princípios para os quais devemos atentar, ao estabelecer a lista de prioridades que sejam compatíveis com os propósitos cristãos. Entre eles, destacamos: a adoração a Deus; a oração e o estudo da Bíblia; a comunhão com a família e a igreja; o discipulado; o compartilhamento do Evangelho; e o serviço ao próximo. Sucintamente, podemos dizer que as nossas prioridades devem redundar em santidade de vida, refletindo o caráter de Cristo e buscando a glória de Deus em todas as áreas de nossa existência.
Em um interessante artigo disponível no sítio eletrônico da Editora Mundo Cristão*, denominado “7 Princípios Bíblicos para a Administração do Tempo”, ao qual eu recomendo a leitura, são destacadas algumas atitudes que nos ajudam a “remir o tempo”. Entre os princípios citados, destaco: “Listar prioridades”; “delegar atividades”, “cultivar a pontualidade” e o de “não contar com o dia de amanhã”. Quanto a este último, lembro-me da recomendação do Nosso Mestre, que nos recorda que o amanhã não nos pertence e que os valores do Reino de Deus precisam ser priorizados:
“Mas busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas lhes serão acrescentadas. Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal. ” (Mateus 4.34,35).
Permitam-me, ao concluir, deixar um desafio pessoal. Todas as vezes que você for compelido a dizer que não tem tempo para alguma atividade, reflita interiormente se a sua omissão não é decorrente da baixa prioridade, ou até descaso, para aquela demanda. Se, ao fazer este questionamento, sua consciência se mantiver hígida, sinta-se perdoado.
Elias Brito Júnior é Engenheiro de Segurança do Trabalho*https://www.mundocristao.com.br/blog/7-principios-biblicos-para-a-administracao-do-tempo
Nesse refinado texto, o autor trouxe para perto a estética, sem a estrutura rígida que cercam conceitos. Parabéns! Um bom texto; um dos melhores já publicados nesse espaço.