Alto nível do funcionalismo público aliado a programas de qualificação, ensino de qualidade e transferência de renda puxam a capital para o topo do país no rendimento mensal por pessoa
O Distrito Federal desponta no país como a unidade da Federação com maior renda per capita. O dado é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o instituto, em 2023, o rendimento mensal por pessoa no DF foi de R$ 3.357, enquanto a média do Brasil é de R$ 1.893.
Esse rendimento domiciliar per capita é calculado a partir da divisão do total de rendimentos de um domicílio pelo total de moradores. No cálculo, são considerados os vencimentos e também outras fontes, como benefícios e aposentadorias.
A grande força motriz desse resultado é o funcionalismo público – federal e distrital –, que responde por 18% das pessoas com ocupação no DF, mas representa mais de 40% da massa salarial. O número de servidores públicos na capital só perde para o de pessoas com carteira assinada, na ordem de 41% do total. Essas proporções têm se mantido constantes nos últimos três anos.
“O funcionalismo público se destaca com 75% dos trabalhadores do setor ganhando mais de R$ 5 mil e 25% ganhando mais de R$ 13 mil em 2023. Essas estatísticas, que constam da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), contribuem com a hipótese de o funcionalismo público elevar as médias de rendimentos do DF, dado que o setor possui um montante de trabalhadores expressivo e recebe salários relativamente maiores. É evidente que dentro do grupo do funcionalismo público existem dinâmicas mais complexas que exigem análises mais aprofundadas”, explica a diretora de Estudos de Estatística e Pesquisas Socioeconômicas do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal, Dea Fioravante.
Capacitação
Além do serviço público, outros fatores contribuem para que a renda mensal per capita do DF se mantenha elevada. Um deles é a qualificação profissional, que contribui efetivamente para a menor rotatividade no mercado de trabalho, uma vez que pessoas com maior escolaridade e capacitadas tendem a permanecer nos empregos de forma perene.
Nesta esteira, o Governo do Distrito Federal oferece capacitação profissional no âmbito dos programas RenovaDF, Qualifica DF e outras frentes e parcerias. Eles são uma forma de a população estar adequada às demandas do mercado de trabalho.
Ao longo de 2023, o Qualifica DF capacitou cerca de 24 mil pessoas, e mais de 12 mil vagas foram abertas em 2024 para 50 cursos. Já o RenovaDF reuniu 15 mil participantes, com a possibilidade de mais 10 mil alunos passarem pelo programa neste ano. Iniciativas que são, de fato, um impulso para o DF.
“O emprego no DF cresce mais na periferia metropolitana do que em Brasília, e o público elegível para os programas de qualificação do GDF está nessa região fora de Brasília”
Dea Fioravante, diretora de Estudos de Estatística e Pesquisas Socioeconômicas
“As qualificações funcionam como um motor produtivo além do serviço público e são importantes para a inclusão de diferentes grupos no mercado de trabalho. O emprego no DF cresce mais na periferia metropolitana do que em Brasília, e o público elegível para os programas de qualificação do GDF está nessa região fora de Brasília. Se esses programas não existissem, é bem provável que teríamos dados piores de mercado de trabalho na periferia metropolitana”, observa Dea Fioravante.
O campo educacional também corrobora para os bons números de renda per capita. O DF é a unidade da Federação na qual, proporcionalmente, mais pessoas concluíram pelo menos a educação básica obrigatória – ou seja, estudantes formados no ensino médio. Aqui, esse percentual em 2022 era de 71,3%, o maior do país, assim como o tempo médio de estudo da população, que é de 11,5 anos, e a taxa de alfabetização, que supera os 98% dos residentes no DF. A capital também concentra a maior proporção da população com curso superior, percentual que subiu de 33,9%, em 2019, para 37%, em 2022. Os dados são do IBGE.
“Essa notícia de que Brasília tem a maior renda per capita do Brasil traz uma série de oportunidades. Em primeiro estão as empresas de tecnologia. Brasília é um celeiro de lançamento de produtos, até por conta desse perfil que nós temos hoje. As pessoas têm poder aquisitivo para adquirir produtos novos, novas tecnologias. Outro fator interessante é que Brasília passa a ter uma matriz econômica um pouco diferente, além da matriz econômica voltada ao serviço público. Então, isso é um atrativo de fato”, avalia o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda (Sedet), Thales Mendes.
Programas assistenciais
“É preciso entender essa proteção social como um processo em cadeia que, além de reduzir desigualdades, fomenta as economias locais”
Ana Paula Marra, secretária de Desenvolvimento Social
Em outra frente, o GDF ampara as famílias com programas assistenciais e de transferência de renda, a exemplo do Prato Cheio e do Cartão Gás, que atendem milhares de famílias dentro da rede de proteção social do governo. Na visão da secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra, eles também colaboram na dinâmica da renda dos brasilienses.
“É preciso entender essa proteção social como um processo em cadeia que, além de reduzir desigualdades, fomenta as economias locais. Uma família vulnerável que recebe nossos benefícios, como o Cartão Prato Cheio e o DF Social e tem o Cartão Material Escolar, aumenta não somente a própria renda, mas também a de outros atores porque mais pessoas frequentam os estabelecimentos e os pequenos comerciantes passam a vender mais. Tenho a convicção de que os programas sociais do GDF contribuem para esse resultado”, ressalta.
Repórter Brasília/Agência Brasília