Alerta: Crescem os feminicídios e morte de crianças em meio à queda geral da violência

Fernanda Melchionna (Crédito: Kayo Magalhães, Câmara dos Deputados)

Em meio à queda da violência no Brasil, o país voltou a registrar, em 2024, alta nos feminicídios – assassinatos de mulheres por serem mulheres. Além disso, viu as mortes de crianças e adolescentes inverter a tendência de queda e subir.

Anuário da Segurança

Os dados são do Anuário da Segurança divulgado nesta quinta-feira (24) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O estudo existe desde 2011 e mapeia os registros criminais feitos anualmente pelas secretarias de segurança pública dos 26 estados e do DF.

Crescimento expressivo

Um dos pontos que se destacou no Anuário de Segurança foi o crescimento de estelionato no País. A diretora -Executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno explicou que, “desde 2018 que foi quando a gente começou a monitorar esse indicador, o crescimento é de 408%. Ela alerta que, “para quem está acostumado com estatística criminal, nenhum delito tem um crescimento tão expressivo num período tão curto de tempo”.

Medidas protetivas

“2024 foi o ano com maior número de feminicídios no Brasil desde 2015. É inaceitável, ainda mais quando vemos que mais de 100 mil medidas protetivas foram descumpridas”, afirmou a coluna Repórter Brasília, a deputada federal gaúcha, Fernanda Melchionna (PSOL/RS)”.

É um crime evitável

Ilustração, Edgar Lisboa, com recursos de IA

A parlamentar acentua que “o feminicídio é um crime evitável, porque a violência nunca começa com a morte da mulher, começa com um tapa ou com uma agressão que foi ignorada. E é aí que a rede pública de proteção precisa funcionar. E o estado precisa evidenciar que a denúncia pode salvar vidas e oferecer um ambiente acolhedor para que a denúncia seja feita, cobra Melchionna.

Fiscalizar e cobrar

“Nós criamos a Comissão Externa para apurar os feminicídios no RS justamente para isso, para fiscalizar e cobrar mecanismos, orçamento e aparelhos públicos que de fato salvem a vida das mulheres,” concluiu Fernanda Melchionna.

Transformações digitais

Para Samira Bueno existem duas explicações: “o fato de que as transformações digitais e a tecnologia, assim como ela facilita na vida do cidadão, ela também vai atrair mais crimes. E o PIX, o fato de hoje, todo mundo acessar banco pelo próprio aparelho celular, o fato de fazer tantas compras online, acaba sendo uma oportunidade muito grande para os criminosos de conseguir dinheiro”.

Pandemia acelerou transformações

A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Púbica, Samira Bueno destaca um outro fator, “sem dúvida a pandemia de Covid-19 acelerou essas transformações que já vinham acontecendo e já tinham uma migração muito forte para o mundo digital, como na pandemia ficou muito mais difícil para esse criminoso conseguir o dinheiro na rua, tanto que a gente aponta uma queda de 50% dos roubos. É mais difícil roubar pessoa nas ruas, no comércio, o roubo de residências cai, assim, como o roubo de veículo também”.

Migração para mundo digital

Samira Bueno acentua “a gente tem essa migração para o mundo digital e eu diria que o único indicador de roubo que ainda se sustenta com um patamar muito elevado é o furto de celular, que muitas vezes acaba sendo uma porta de entrada para esses golpes, porque hoje em dia o celular tem a nossa vida, tem banco, tem dados pessoais, tem documentos, todos os nossos contatos. Isso acaba sendo muito estratégico para o crime”.

Dados que assustam

A especialista afirmou que “a gente tem que destacar que por um lado, vários estados estarem adotando políticas para rastreamento e monitoramento desses aparelhos, é o que fez esse número baixar um pouco. A gente ainda está falando de mais de 900 mil celulares subtraídos por ano, isso é o que chega de notificação na delegacia. Tem gente que é furtado e roubado e sequer nem faz queixa”.

Programas de rastreamento

“No entanto, em alguns estados que é o caso do Piauí que foi o pioneiro em criar um programa de rastreamento de aparelhos. A gente tem hoje no Amazonas, Pernambuco, Distrito Federal e o próprio governo federal com ‘Celular Seguro’. São medidas que fazem com que a gente tenha conseguido reduzir um pouco, mas recuperar esse aparelho ainda é muito difícil. O maior potencial do programa é dificultar um pouco a vida do criminoso no acesso a esses equipamentos. Porém o fato é que eles venderam ainda é um crime que vale muito a pena, porque hoje ganham mais dinheiro roubando celular do que roubando veículo”, alerta Samira Bueno.

Crimes violentos

A diretora-executiva Samira Bueno pontuou que a boa notícia é que “a gente segue com uma redução da violência letal no Brasil, caiu 5,4% as mortes violentas intencionais no ano passado, só que essa taxa de violência letal ainda é muito desigual. Norte e Nordeste são cidades com taxas elevadas”.

Cidades mais violentas

“Quando a gente separa e faz uma análise especifica das cidades mais violentas do país, tem pontos que precisam ser destacados, porque talvez, seja a primeira vez que isso apareça de forma tão explicita. As dez cidades são do Nordeste: três no Ceará; duas em Pernambuco e cinco na Bahia; E são dez cidades que hoje vivem uma disputa de organizações criminosas pelo controle do tráfico de drogas. Isso normalmente são grupos, bondes, facções associadas ou ao PCC, ou ao Comando Vermelho”.

Capilarização do crime

“É importante a gente destacar isso, porque mostra tanto esse desafio da capilarização do crime organizado no Brasil e como a gente não tem sido capaz de frear isso e a responsabilidade do Sudeste, porque são facções que criaram origem em São Paulo e Rio de Janeiro, que tem atuado com esses outros grupos criminosos em cadeia nacional”.

Desafio para as autoridades

“Isso tem sido um enorme desafio para as autoridades, porque a gente está falando de grupos criminosos que atuam de forma transnacional que movimentam muitos recursos, cuja lavagem de dinheiro tem mecanismos muito sofisticados”, alerta Samira Bueno.

A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.

Edgar Lisboa

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