Não é de hoje que o Oriente Médio tem sido palco de grandes disputas que, frequentemente, resultam em grandes conflitos armados e guerras devastadoras.
O evento mais recente dessa página da história – capaz de comprometer os esforços diplomáticos em busca de uma solução pacífica para a criação do Estado Palestino – é a guerra declarada entre Israel e o Hamas, cujos os efeitos colaterais incluem o ataque de Israel à embaixada iraniana, no Iraque, e o inédito bombardeio massivo do Irã sobre o território de Israel.
As notícias mais recentes, relacionadas ao conflito que já perdura por mais 200 dias, revelam que um outro tipo de confronto está ganhando corpo em ambientes bem distantes do front de batalha. Trata-se da eclosão de protestos em vários campus universitários, especialmente nos Estados Unidos e na França, onde os estudantes acampados se dividem entre duas tendências: uma, em apoio aos palestinos, exige o fim dos constantes ataques de Israel sobre Gaza; a outra frente, em defesa das ações de Israel, advogam o direito de responder, com força bruta, aos atos terroristas de 7 de outubro.
A verdade é que, de acordo com os registros bíblicos, os conflitos no Oriente Médio são o reflexo de uma disputa familiar que começou há milênios, envolvendo dois filhos do patriarca Abraão, chamados de Ismael e Isaque.
Ismael, que era filho de uma concubina de Abraão, cujo nome era Agar, começa a rivalizar-se com o irmão mais novo, fato que causa muito desconforto à Sara, mãe de Isaque. Insatisfeita com a situação, Sara exige de Abraão que Agar e seu filho Ismael sejam expulsos do lar. Sem outra alternativa, Abraão prepara os apetrechos de viagem e despede os dois rumo ao desconhecido.
Começa assim a raiz de um conflito que se perpetuou na história chegando até os nossos dias.
A parte mais dramática da narrativa bíblica sobre o episódio descreve como a mãe e o filho estão a ponto de morrerem de sede depois de perambularem pelo deserto.
Vale transcrever como a Bíblia registra a manifestação miraculosa de um anjo livrando-os da morte por inanição:
“…e bradou o anjo de Deus a Agar desde os céus, e disse-lhe: ‘Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino desde o lugar onde está.
Ergue-te, levanta o menino e pega-lhe pela mão, porque dele farei uma grande nação’.
A narrativa prossegue dizendo:
“…e viu um poço de água; e foi encher o odre de água, e deu de beber ao menino”.
Após esse grande livramento, o texto diz que “Deus era com o menino, que cresceu; e habitou no deserto, e foi flecheiro” (Gênesis 21:17-20).
Esse “flecheiro” tornou-se o pai das nações árabes, conforme entendem tanto os judeus quanto os próprios muçulmanos.
Quanto ao outro filho de Abraão, Isaque, entende-se que ele foi precursor da nação de Israel.
Mas, em relação aos palestinos, o que o texto diz sobre eles?
A sequência da narrativa bíblica diz o seguinte: “E peregrinou Abraão na terra dos filisteus (palestinos) muitos dias” (Gênesis 21:34), dando a entender que os acontecimentos, relatados no contexto, se deram no território então ocupado pelos filisteus.
Mesmo diante da clareza das passagens aqui citadas, não é incomum observar pessoas, que se consideram como autênticas cristãs, defendendo ardorosamente o extermínio completo dos palestinos (e dos muçulmanos em geral) sob a alegação de que é preciso garantir, a todo custo, o pleno cumprimento da promessa divina feita a Abraão conforme o texto que diz: “Naquele mesmo dia, fez o Senhor um pacto com Abrão, dizendo: ‘À tua semente dei esta terra, desde o rio do Egito até o grande rio, o rio Eufrates’”(Gênesis 15:18). O argumento, aparentemente sólido, para justificar tal posicionamento, está centrado na premissa básica de que a promessa de Deus é infalível, logo requer-se que haja a prevalência de Israel até o aniquilamento total dos seus inimigos mortais.
O problema desse argumento, favorável à manutenção dos ataques de Israel sobre os civis da Faixa de Gaza, é que o citado “pacto divino com Abraão” em torno da Terra da Promissão, abrange não apenas o filho de Sara, mas aos descendentes de Abraão, pois diz textualmente: “À tua semente (descendência) dei esta terra”. Além do mais, o texto diz, acerca de Ismael: “dele farei uma grande nação”.
Fica claro, portanto, que a grande questão, que precisa ser colocada, é a seguinte: se Deus sabia de antemão que a sobrevivência de Ismael iria resultar no surgimento de um povo que se tornaria inimigo ferrenho de Israel, não seria mais simples que Deus deixasse o menino morrer no deserto? Por que Deus o poupou mesmo sabendo das consequências futuras?
Fica patente então que, caso fosse o propósito divino Israel aniquilar impiedosamente os seus inimigos, bastaria não permitir que o menino Ismael sobrevivesse. Afinal, de acordo com a conceituação que se faz acerca de Deus, não é plausível que Ele seja inconsequente em seus planos e atitudes.
É bom esclarecer que não se trata, obviamente, de colocar Deus a favor de um lado ou do outro nesse conflito milenar, pois a escolha de coabitar com Agar foi feita pelo próprio Abraão seguindo a sugestão de Sara.
Parece ser de bom alvitre a premissa de que Deus não perde o controle da história. Desse modo, ainda que o ser humano atropele os planos de Deus no afã de conduzir as coisas do seu jeito, Deus permanece fiel às suas promessas e se manterá assim até que todas as coisas venham a convergir finalmente para o desfecho previsto e traçado por Ele.
Os que almejam e oram pela paz em Jerusalém, devem ser os primeiros a desejarem que haja um novo brado angelical sobre Gaza, pois, a exemplo do livramento dado a Ismael, a simples manutenção da vida e da dignidade dos palestinos, jamais vai impedir que as profecias bíblicas sejam cabalmente cumpridas.
Resta saber quem será o “anjo” escolhido para cumprir essa urgente e nobilíssima missão de por fim ao sofrimento de tantos inocentes.
Peniel Pacheco é ex-deputado distrital, Mestre em Ciências da Educação, Pastor e Professor de Teologia.
Excelente texto do estimado pastor Peniel, também ex-deputado distrital. Texto que fundamenta a paz entre as partes com fundamento na palavra de Deus. Os “anjos” a serem mobilizados residem entre nós e penso que o autor do texto está entre eles. O texto me elevou e deu esperança. Orando pela paz.
Excelente e atual texto sobre o conflito no Oriente Médio.
Se me permite complementar, entendo que o conflito se dá na verdade entre o Exército de Israel e o grupo Terrorista Hamas, sendo o povo palestino vitima indireta das ações desencadeadas pelo conflito.