Paulo Paim (Crédito: Carlos Moura, Agência Senado)
Após 22 anos de Senado e uma vida inteira dedicada ao trabalhador, Paulo Paim anuncia seu último mandato. A saída do senador gaúcho provoca um raro consenso: poucos parlamentares construíram uma trajetória tão sólida, coerente e respeitada. Paim não ocupou apenas uma cadeira, honrou cada minuto que passou nela.
Campeão de projetos e mestre do diálogo
Paim é o senador com maior número de projetos aprovados. Mas seu diferencial está no método: diálogo, argumento técnico, escuta e respeito. Em tempos de radicalização, escolheu elevar o nível do debate, especialmente em temas como Previdência, CLT, pejotização e jornada 6×1. Nunca atacou; convenceu. Sua atuação virou referência de civilidade política.
A voz incansável do trabalhador
Metalúrgico de Caxias do Sul, levou ao Congresso a vida real de quem vive do trabalho. Defendeu salário mínimo digno, combateu discriminações, enfrentou o trabalho escravo, lutou pelos idosos, jovens, crianças, MEIs e microempreendedores. Na Comissão de Direitos Humanos, marcou época com serenidade e firmeza raras.
Uma despedida emocionada
No anúncio oficial, falou aos militantes como quem se despede sem abandonar a causa: “Os militantes sabem que correm o risco dos naufrágios… mas há uma missão a ser cumprida”. E completou: “Como é bom amar todos vocês.” Paim deixa o Senado, mas seu legado, respeito, coragem, compromisso social, continuará como referência de boa política.
O racha no bolsonarismo
A crise envolvendo Michelle Bolsonaro e os filhos do ex-presidente tornou explícita a fratura interna no grupo. Acusada de agir de forma “autoritária”, Michelle reagiu nas redes: disse que não responderia, mas respondeu. E com força. O conflito rompe o silêncio habitual do núcleo familiar e expõe disputa por espaço político.
Ceará: faísca que virou incêndio
O estopim foi o PL apoiar Ciro Gomes no Ceará. Michelle interpretou como afronta a Bolsonaro. Chamou Ciro de “raposa política”, lembrou que ele se orgulha de ter pedido a inelegibilidade do ex-presidente e rejeitou apoiar quem, segundo ela, fez “tão mal” ao marido. Os filhos consideraram o ataque desnecessário e autoritário.
Michelle mantém o tom
Ela afirmou agir por “fé, valores e princípios”, falou como “líder política, mãe e esposa” e disse que continuará expressando opiniões divergentes. Pediu perdão aos filhos, sem recuar das críticas, gesto mais simbólico que conciliador.
Direita em disputa aberta
Com Bolsonaro preso e inelegível, o comando único do bolsonarismo se desfaz. Michelle tenta se consolidar como voz moral da base conservadora; os filhos querem preservar a marca Bolsonaro; o PL busca equilíbrio entre estratégia eleitoral e fidelidade ao líder.
Impactos para 2026
Não é um desentendimento familiar: é a abertura de uma disputa real por protagonismo na direita. As brigas públicas desorientam aliados, enfraquecem a narrativa de unidade e abrem espaço para novas lideranças no campo conservador. O episódio no Ceará é apenas o início de um rearranjo que deve marcar o caminho para 2026.
A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.
Edgar Lisboa