Ana Amélia (Crédito: Edilson Rodrigues/ Agência Senado)
Tarifaço: Brasil com Força Tarefa
Continua incerto o cenário da economia mundial com o tarifaço instituído por Donald Trump. Para Jorge Viana, presidente da Apex Brasil, que trabalha na promoção dos produtos do Brasil no mundo e a atração de investimentos para o país, “nós estamos numa espécie de força-tarefa com o nosso escritório de Miami, de Pequim, e Bruxelas, tentando acompanhar todos os passos. A consequência deve ser medida dia a dia”. A ex-senadora Ana Amélia (foto) chama atenção para a exportação de vinho. Os países europeus exportam muito para os EUA. “Essa taxação sobre vinhos vai ser um arrasa quarteirão”.
Maior economia do mundo
“Essa medida é muito forte, ela mexe com o mundo inteiro, não é qualquer país, é a maior economia do mundo”, alertou o ex-senador, presidente da Apex, acrescentando que, “a China busca uma reciprocidade e eles ficaram em torno de 19, 20% de tarifa cobrando um do outro. O Biden manteve, agora são mais 34%, então passa de 50%. E as duas maiores economias vão mexer com o mundo”, ressaltou.
Acordo Mercosul-União Europeia

Jorge Viana acentua que “a Europa tem muita força, e nós estamos aí as vésperas de dar consequência ao acordo Mercosul-União Europeia, é óbvio que vai mexer com o mundo inteiro. Primeira coisa pra mim, que dificilmente alguém pode dizer é quem ganha nessa crise, porque é uma crise muito grave, as bolsas caindo, muitas empresas tirando o dinheiro dos investimentos para pôr em algo que tenha menor risco”.
Volume de exportações
Donald Trump faz uma taxação de mais de 20% nos produtos da União Europeia. A União Europeia, mostra o presidente da Apex, “exporta mais de 650 bilhões de dólares para os Estados Unidos. É até mais um pouco do que a própria China. A China já exportou mais, mas a China é um pouco mais de 500 bilhões. O México exporta 500 bilhões de dólares para os Estados Unidos, o Canadá 400. É exatamente nesses países, que tem uma pressão maior do governo americano e é óbvio que isso vai criar um ambiente de hostilidade”.
Macron mudando de opinião
Jorge Viana assinala que “a China já reagiu, a União Europeia certamente vai reagir, mas ela tem que buscar alternativas. Eu acho que uma boa alternativa, tanto é que a gente viu o próprio presidente Emannuel Macron, da França, que era o mais importante ativista contra o acordo do Mercosul-União Europeia, por conta das questões locais da França, dos agricultores, já mudando de narrativa”
Integridade das cadeias produtivas
Mas eu diria que essa situação dos Estados Unidos talvez encontre mais oposição dentro dos Estados Unidos”, avalia Jorge Viana. “É isso que eu tenho falado, porque é muito difícil serem implementadas, essas medidas todas. Elas quebram a integridade das cadeias produtivas. Eles queriam sair da dependência da China, eles tinham quase 22%. Tudo que eles importavam vinha da China”.
Hostil do ponto de vista histórico
Jorge Viana disse que está preocupado. “Eu nunca tinha visto, eu visitei a Coreia algumas vezes, eu visitando a história, eu nunca vi um país tão hostil assim do ponto de vista histórico, Coreia, Japão, Coreia e China, e os três conjuntos agora buscando uma medida pra agir em cima dos Estados Unidos”.
Medir consequências
“É tão grave o que tá ocorrendo que tá juntando, vamos chamar assim, inimigos históricos, para adotarem alguma medida comum. Então é esse o tamanho. Na Ásia, por exemplo, você tem 60% do PIB do mundo que está na Ásia e 40% do comércio.
O sudeste da Ásia acabei de vir com a missão do presidente Lula do Japão e do Vietnã. Vietnã ia crescer esse ano 9%, tá crescendo uma média de 7% por ano. E é lá que as tarifas estão mais elevadas. Então é uma situação que as consequências tem que ser medidas”, pontuou o presidente da Apex Brasil, Jorge Viana.
Reação da União Europeia

Em relação ao Mercosul, “de fato todas as interpretações, e isso é natural, porque foi a forma de a União Europeia também de reagir ao tarifaço do Trump”, avaliou Ana Amélia, que participou ativamente do lançamento do Mercosul, nos anos 90.
Taxação do vinho
Para Ana Amélia, “a União Europeia vai ser muito atingida especialmente numa área fundamental que estão todos os países: Alemanha, Itália, Portugal, e França que dependem do vinho. Eles exportam muito para os Estados Unidos então essa taxação sobre vinhos vai ser um arrasa quarteirão”.
Vinhos europeus via Mercosul
“Vale lembrar que o Mercosul também é produtor de vinhos mais baratos e com uma taxação de 10%”, avalia Ana Amélia. “Vai ser importante, acho que até a própria Europa pode pensar que fazendo esse acordo poderá fazer a triangulação, os vinhos europeus vindo para cá e entrando nos Estados Unidos via Mercosul. Estou apenas fazendo uma projeção, pode isso não acontecer”, enfatizou.
Nova visão do Mercosul
A ex-senadora chama atenção para o fato da mudança de entendimento dos europeus sobre o Mercosul e União Europeia. “Mudou radicalmente a partir do Trump, então é uma alternativa que a Europa tem e o grupo Mercosul tem também para enfrentar, embora exatamente os países que integram o Mercosul, o Paraguai que não é significativo na questão da produção, mas o Paraguai, a Argentina, o Brasil e o Chile. O Chile que está fora do Mercosul, mas é importante, que é da América Latina esses quatros países, Colômbia também, tiveram a mesma taxação de 10%”.
Uruguai vinho e carne
Ana Amélia lembra que, “no Mercosul, o Uruguai também está junto nesse negócio. O Uruguai apenas tem vinho e carne, também é interessante isso. Para todos esses aspectos foi muito providencial e possivelmente aquilo que parecia impossível, por conta do conflito de interesses, especialmente no protecionismo europeu para o agronegócio deles, porque eles são muito protecionistas, frango, carnes e tudo mais, laticínios, vinhos também, eles agora têm uma alternativa”.
Mudança de postura da Europa
Na opinião de Ana Amélia, o comportamento europeu mudou radicalmente em relação a possibilidade do fechamento do acordo com o Mercosul.
Reação rápida da China
Como reação, assinala a ex-senadora gaúcha “a China anunciou que vai taxar no mesmo percentual de 34% todos os produtos americanos que entrarem no país”. Além disso, faz limitações para minerais raros de terras raras, que dê para exportar para os Estados Unidos. Esses serão proibidos exportar para os EUA, e a China é grande produtora desses chamados minerais raros ou terras raras”.
Blefe de Trump
“Há muita gente que já acha que o que o Trump fez foi um blefe, que não é bem assim, que foi uma coisa pra mexer com aguapé, como a gente fala muito no Rio Grande do Sul”, lembra Ana Amélia, citando uma conhecida planta aquática.
Oportunidade rara
Segundo Ana Amélia, “a contradição desse processo é que, o dólar, subiu, voltou 5,80 quase seis”. Na visão da ex-senadora progressista, o Brasil está podendo aproveitar uma oportunidade rara.
Maior produtora de ovos do mundo

Ana Amélia pergunta: “quem é que resolveu o problema das prateleiras vazias, com ovos, nos Estados Unidos? Foi o Brasil, porque exportamos, nós temos uma produção, não tínhamos a gripe aviária e aí tínhamos uma produção de ovos muito grande”. Ela explica que “nós temos aqui no Brasil o maior produtor de ovos do mundo, que é a Granja Faria, que agora acaba de comprar por um bilhão de dólares uma fazenda produtora de ovos nos Estados Unidos”.
Brasil destaque no mundo
O Brasil é destaque na produção de ovos no mundo, apontou Ana Amélia, destacando que “o empresário Ricardo Faria, além de ter comprado essa empresa norte-americana, por um bilhão de dólares, ele comprou também a maior produtora de ovos da Espanha. Então hoje Ricardo Farias é conhecido como o “rei do ovo”. Nasceu em Santa Catarina e fez Faculdade de Agronomia, na UFRGS, no Rio Grande do Sul e hoje mora em São Paulo.
Resultados positivos
Na avaliação de Ana Amélia “que acompanha o Mercosul desde o início, talvez esse seja o momento mais auspicioso que tenha como oportunidade. Se souberem negociar bem, os resultados serão positivos. Vai ser bom”, concluiu.
A Coluna Repórter Brasília é publicada simultaneamente no Jornal do Comercio, o jornal de economia e negócios do Rio Grande do Sul.
Edgar Lisboa