
Hugo Moura*
Com a rápida evolução da transformação digital, a segurança cibernética expandiu sua relevância, deixando de ser uma preocupação exclusiva do setor tecnológico para se tornar imperativo estratégico. Alguns ataques virtuais recentes causaram prejuízos bilionários e paralisaram operações essenciais, reforçando que a vulnerabilidade não escolhe alvos, afetando desde grandes multinacionais até pequenos negócios.
Nos últimos anos, casos emblemáticos evidenciam como a falta de preparo pode ter consequências devastadoras. O ataque ao Colonial Pipeline, que interrompeu o abastecimento de combustível em diversas regiões dos Estados Unidos, resultou no pagamento de um resgate de US$ 4,4 milhões, valor que representa apenas a ponta do iceberg diante dos custos indiretos e da perda de confiança dos consumidores. Da mesma forma, o ransomware que atingiu a gigante do setor alimentício, JBS Foods, gerou prejuízos estimados em US$ 11 milhões.
Tais incidentes fazem parte de uma tendência preocupante. De acordo com projeções de consultorias internacionais como Accenture e Cybersecurity Ventures, os custos globais relacionados a ciberataques poderão variar entre US$ 6 trilhões e US$ 10,5 trilhões anuais nos próximos anos. Esses números ressaltam que o cibercrime não é um problema isolado, mas uma ameaça sistêmica de impacto global.
Especialistas alertam que a preparação é uma necessidade crucial para a sobrevivência no mundo digital. Bruce Schneier, renomado criptógrafo e autor de diversas obras sobre segurança digital, defende que a “segurança por design” deve ser incorporada desde o desenvolvimento de qualquer sistema ou plataforma, em vez de ser um adendo posterior. No Brasil, o CERT.br (Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança) destaca a importância de treinamentos contínuos e da conscientização dos colaboradores, pois o fator humano ainda é a principal porta de entrada para ataques sofisticados.
A urgência dessas medidas é reforçada pelo Global Risks Report, publicado no Fórum Econômico Mundial, que classifica a cibersegurança como uma das maiores ameaças à estabilidade econômica e geopolítica. Segundo o relatório, a crescente interconectividade dos sistemas e a complexidade das infraestruturas digitais criam um cenário propício para ataques capazes de desencadear falhas em cadeia.
Embora nenhum setor esteja imune, alguns são particularmente visados, como o financeiro, por exemplo, que permanece como alvo preferencial devido à sensibilidade dos dados e à movimentação de grandes quantias. O mesmo ocorre com as áreas de saúde e energia, que têm se mostrado extremamente vulneráveis – basta considerar as possíveis consequências de uma paralisação nos sistemas hospitalares ou nas redes de distribuição de energia.
Instituições que identificaram precocemente a importância da segurança digital estão um passo à frente. No Brasil, bancos têm investido pesado em tecnologias avançadas de detecção e resposta a incidentes, utilizando inteligência artificial e monitoramento contínuo. Startups especializadas em cibersegurança também se destacam ao desenvolver soluções inovadoras para prevenir, identificar e neutralizar ameaças em tempo real.
Um cenário de caos global: você está preparado?
Imagine que a instabilidade digital se torne regra: redes de comunicação interrompidas, serviços essenciais comprometidos e uma economia global em colapso. A interdependência dos sistemas faz com que um ataque bem-sucedido contra uma única instituição desencadeie uma reação em cadeia, afetando setores inteiros e impactando milhões de pessoas. Quando o cibercrime se torna uma arma de desestabilização, surge uma pergunta: estamos dispostos a enfrentar o caos digital u agimos agora para construir um futuro mais seguro? A resposta cabe a cada gestor, a cada líder e, sobretudo, a cada um de nós.
A ação não pode ser adiada ou negligenciada. Toda organização, independentemente do porte ou segmento, deve investir em cibersegurança, que não é mais uma despesa opcional, e sim uma necessidade estratégica e indispensável para garantir a continuidade dos negócios, preservar a confiança dos clientes e, acima de tudo, proteger a infraestrutura crítica de um país.
*Hugo Moura, Arquiteto de Soluções da Tecnobank